Seminarista do 4° de Teologia faz uma análise sobre o livro ORFANDADES

Seminarista do 4° de Teologia faz uma análise sobre o livro ORFANDADES

 

Orfandades… Destino e Opção…

 

Tive a oportunidade de ler o livro Orfandades, o destino das ausências do conhecido sacerdote, padre Fábio de Melo. Não se trata de um livro que aborda os casos típicos de abandono que envolve muitas vezes a realidade infantil de crianças em orfanatos. Nesta obra o destaque é a orfandade que sempre fará parte do ser humano: o sentimento de solidão.

Ele dedica o livro a Everson de Carvalho, com a seguinte expressão: “irmão que no tardio da fraternidade chagou à minha vida, tempo em que minha mãe já não era capaz de parir meninos.” É a realista manifestação de que a nossa orfandade natural é extinta pelas relações. Saber-se ligado a alguém e experimentar o afeto seguro vindo desta ligação é o que torna de fato a orfandade inata ser menos sentida.

No livro o sacerdote apresenta de forma muito intensa relatos inspirados em suas experiências com os bastidores da humanidade. Tudo é tratado pela óptica da ausência sentida e sem toques de esperança. Até cheguei a pensar que por ter sido escrito por um homem voltado a Deus, o livro se revela muito pessimista e triste. Mas como disse um comentarista, é de “uma tristeza elegante” justamente por misturar os recursos da literatura à realidade humana em sua forma tão nua e crua…

Somos naturalmente órfãos por experimentar não a ausência de paternidade, caso tenhamos este triste registro em nossa infância, mas por vivenciarmos a possibilidade da ausência de relações… Esta é a nossa condição existencial e que o autor aborda perfeitamente ao narrar às histórias. Experimentamos o tempo todo a importância dos laços humanos, da dependência do carinho… do abraço…do beijo… das mais belas demonstrações de afeto… É da condição humana amar e ser amado e experimentar isto por meio dos vínculos afetivos.

O teólogo Hermilo Pretto em sua breve obra intitulada A teologia tem algo a dizer a respeito do ser humano? num capítulo em que traça linhas sobre a morte como “dever” do ser humano, ou seja, como situação a que não se pode fugir, ele diz que o comum a todos na perda de um ente querido não é experimentar a morte em si, mas a perda dos encontros significativos que se teve e que já não se terão… É a “perspectiva de nunca mais reencontrar as pessoas amadas com as quais se compartilhou experiências.” É ver-se órfãos destes laços…

Somos condicionados a viver ausências. Contudo, o que nesta caminhada humana jamais me esqueço de é que a fé também me faz vivenciar a presença diante de possíveis sentimentos de solidão… Crer que Deus está o tempo todo comigo e se revela também através das pessoas que me amam e me querem bem é provar que a orfandade nada mais é do que a necessidade bonita que tenho de manter relações… Preciso de Deus, preciso das pessoas… Esta é a verdade que mata o sentimento de autossuficiência muitas vezes presente em mim.

Em termos de relação humana você até pode indignadamente dizer: “eu não tenho ninguém ao meu lado…ninguém me ama…vivo só…”. Bem, eu prefiro afirmar com a ajuda do poeta Drummond que descreve numa frase a possibilidade da solidão criada por nós mesmos: “Sentiu-se só por diversas vezes? É porque fechaste a porta até para os anjos.

Seminarista: Evandro Carvalho / 4ºano de Teologia.

Diocese de Uruguaiana-RS

 

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