A herança de um carisma na ótica feminina

A herança de um carisma na ótica feminina

 

 

A Herança de um Carisma na Ótica Feminina refere-se à história das “Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade”. A terminologia “Ótica feminina” é inclusiva da globalidade dos ramos que constituem a “planta única”, “Pequena Obra da Divina Providência”, fundada por São Luís Orione e extensiva à inclusão de gênero, de grupo, de corpo, de famílias religiosas e, até mesmo de carisma. Todos esses componentes integram-se, na reciprocidade de dons, pois cada parte se completa em vista da totalidade, na corresponsabilidade de cada uma das partes que lhe é complementar. Cresce, desenvolve-se no que lhe é específico à medida que sabe acolher o diferente e associar-se à diversidade que lhe é integrante.

 

Recordamos as pioneiras de nossa família religiosa que procuraram assimilar, paulatinamente, o carisma recebido: A marquesa Josefina Valdettaro, Madre Maria Paciência, Ir. Maria da Cruz e suas companheiras da primeira hora; elas foram fiéis na transmissão às novas  gerações.  Hoje  continuamos,  neste  momento  particular  de  uma  Vida  religiosa  em atitude de atenção e de busca de um ‘novo estilo’. É preciso assinalar como determinados traços  que  caracterizaram  a  missão  no  passado  hoje  são  repensados  na  tentativa  de ressignificar  a  vida,  mediante  a  compreensão  do  modelo  existente  na  SS.  Trindade,  a comunhão por excelência entre as divinas pessoas; além disso, no jeito cristão de radicalizar o nosso Batismo, assumindo as três dimensões da ação de Jesus: profética, sacerdotal e realeza.

 

A figura do fundador é rica e digna de ser contemplada! Sua vida numa família exemplar,  trabalhadora,  honesta,  rica  de  comprovada  vivência  cristã;  seu  itinerário  de formação no sacrifício e labutas cotidianas para crescer na fé, na esperança, na caridade, na confiança na Divina Providência, no processo de identificação com Cristo e com os vulneráveis, na inserção na Igreja, na devoção à Maria Santíssima, nossa Mãe e celeste fundadora; são todos indicadores de sua “Paixão por Cristo e pela humanidade”.

 

Merece destaque sua caridade apostólica, cuja prioridade se identifica com a mesma opção de Cristo pelos pobres mais pobres, os excluídos dos sistemas sociais, sem cidadania, sem vez e sem voz para defender os próprios direitos e promover a dignidade humana à “imagem e semelhança de Deus”.

 

A história de nossa fundação tem como marco histórico o dia 29 de junho de 1915, unida à abertura da primeira obra apostólica, no dia seguinte  em Ameno, para ajudar as pessoas  idosas  na  fase  de  fragilidade  da  vida,  numa  casa  doada  pela  benfeitora  Tereza Agazzini.

 

A aprovação do Instituto sobreveio aos 30 de março de 1965, pelo Papa Paulo VI; está,  intrinsecamente, vinculada  à  realização  dos  diversos  capítulos  gerais  acontecidos  ao longo de sua expansão histórica. Começou no primeiro capítulo em 1942, cuja realização foi aprovada pelo Papa Pio XII, a pedido do Visitador apostólico, Emanuel Caronti, abade beneditino, pois não tínhamos ainda a aprovação do Instituto e das Constituições.

 

O processo de elaboração das Constituições teve como ponto de partida o autógrafo do Fundador, no qual estão escritos os aspectos específicos da Consagração religiosa, segundo o carisma orionita e se conecta aos diferentes capítulos gerais do Instituto e aos trabalhos pós- capitulares, coordenados pelos Conselhos gerais dos distintos períodos de governo.

 

Em seguida à aprovação definitiva do Instituto adveio a abertura para uma forma de governo participativa, mediante a divisão em Províncias religiosas. Atualmente encontramo- nos distribuídas em cinco províncias localizadas em diversos ângulos do mundo: Itália, Polônia, Argentina, Brasil e Chile; uma delegação em Madagascar e uma vice-delegação no Quênia,

 

além de alguns Países, cuja missão está sob a direção direta do Conselho geral: Costa do

Marfim, Togo e Filipinas e outros na dependência de algumas províncias.

 

O carisma destaca o ser religioso, a caridade apostólica, qualificada pelo quarto voto de Caridade, qual estilo de vida necessário para caracterizar a diaconia da caridade específica de nosso Instituto no seio da Igreja Mãe e, ainda, nosso caráter de unicidade como PIMC. É o carisma que nos torna diferentes de outros institutos religiosos ou mesmo da prática universal do preceito cristão requerido a todos os batizados. É a caridade que tem por objeto a pessoa de Jesus Cristo, Filho de Deus, que vive no Pai e no Espírito Santo, no qual amamos e servimos os vulneráveis, seus prediletos, mediante uma gama de expressões do amor: solidariedade, educação, evangelização e catequese, promoção humana, compromisso social e político, voluntariado, etc.

 

O carisma da caridade  é para responder aos clamores das realidades sociais, na defesa da causa dos empobrecidos, dos excluídos, ou seja, aqueles que não são acolhidos, nem ouvidos em nossa sociedade. É respeitável para facilitar a ação apostólica da inclusão dos pobres de todos os tempos e lugares, a fim de “Instaurar tudo em Cristo” e fazer com que Ele seja o coração do mundo e da humanidade.

 

Nossa espiritualidade encontra-se estampada na confiança incomensurável na Divina Providência, refletida nos ícones de Jesus Crucificado, da Santíssima Eucaristia e do Coração de Jesus. Fomos fundadas e consagradas ao seu Divino Coração.

 

Maria é a mãe e a Celeste fundadora do Instituto, conforme São Luís Orione, habitualmente, afirmava: “A nossa pequena Congregação da Divina Providência foi assistida, desde o primeiro dia, do primeiro menino, dos primeiros jovens; eles foram conduzidos diante da imagem de Nossa Senhora, lá na Catedral de Tortona, e foram confiados à Santa Mãe do Senhor […]. Posso dizer-lhes que, antes mesmo, quando estava apenas no desejo de fazer algo aos meninos de Tortona, eles já tinham sido oferecidos a Nossa Senhora, como faz a mãe cristã, que com fé diligente, oferece o filho antes de nascer à Mãe Santíssima […]” 1. Ela foi e será sempre a “bússola e sustentáculo de nosso instituto”.

 

A missionariedade é componente importante de nossa ação como cristãs e como religiosas orionitas. Desde os primeiros anos da fundação São Luís Orione enviou suas filhas para além-mar, da Itália. Esse espírito continua animando as irmãs para irem a terras distantes levar o tesouro preciso que carregam em si e ao mesmo tempo propiciar a continuidade da dilatação  missionária.  Encontramo-nos  atualmente  em  dezesseis  países:  Argentina,  Brasil, Chile, Paraguai, Uruguai, Peru; Itália, Polônia, Romênia, Ucrânia; Cabo Verde, Quênia, Costa do Marfim, Togo, Madagascar e Filipinas.

 

O nosso nome, PEQUENAS IRMÃS MISSIONÁRIAS DA CARIDADE, reúne, intrinsecamente, a nossa origem, identidade, vocação, espiritualidade, missão apostólica, e programa de vida. É por isso que São Luís Orione, teve diversas inspirações e fez diversos ensaios sobre o nosso verdadeiro nome até chegar àquele com o qual fomos oficializadas. Esse nome nos qualifica como orionitas, nome popular que tem sua origem no nome do Fundador e nos identifica como filhas de São Luís Orione.

 

Nosso Instituto professa o quarto voto de Caridade, o qual tem uma característica muito importante na vida religiosa, pois está fortemente vinculado ao espírito oriundo do Instituto, como especificidade da família religiosa feminina e faz acontecer a beleza da diversidade, semelhante ao que acontece para outros institutos que também fazem o quarto voto:  de  humildade  para  os  Barnabitas  e  Carmelitas  Descalços;  de  perseverança  para  os

 

1 DOLM, I. Don Orione nella luce di Maria, Madre di Dio, p. 4 s.

 

Redentoristas, Palotinos e Irmãos das Escolas Cristãs; de não aspirar a cargos eclesiais para os religiosos de São Francisco Caracciolo; de obediência ao Papa para os Jesuítas, Rosminianos e Filhos da Divina Providência (Orionitas).

 

O voto de Caridade nos identifica de outros institutos: “Existem os religiosos beneditinos que têm o próprio escopo; os franciscanos que têm a própria meta; os dominicanos que têm a própria finalidade; os jesuítas que têm um fim todo particular. Também nós temos um fim totalmente nosso, [] uma natureza, uma nota para diferenciar-nos de todas as outras congregações” 2.

 

Nós temos por escopo os trapos, os miseráveis. Vocês não são feitas para tocar o harmônio por profissão; tocarão para ajudar nas funções religiosas. Não são para educar as princesas; são para curar os pobres de Jesus Cristo, inebriadas deste espírito para cuidar dos pobres doentes, aqueles que não são recebidos em outros lugares: as mulheres, os idosos infelizes, as crianças. Esta é a finalidade de vocês: fazer tudo aquilo que é humilde na caridade do Senhor” 3.

 

A razão do Voto de Caridade, encontramo-la no primeiro capítulo das Constituições, autógrafo do Fundador de 1935 e inserido nas Constituições, pela primeira vez, na redação de

1989, em seu artigo segundo e terceiro, respectivamente; neles estão explicitados a identidade e o espírito de nosso Instituto: “O fim primário e geral do Instituto é a santificação das próprias religiosas, mediante os Votos de Pobreza, Castidade, Obediência e Caridade e destas Constituições”. O espírito do Fundador “é o exercício da caridade para com o próximo, sobretudo consagrar a vida para levar ao conhecimento e ao amor de Jesus Cristo, de seu Vigário, «o doce Cristo na terra», o Romano Pontífice e da Santa Igreja, as crianças do povo e os pobres mais distantes de Deus ou mais abandonados, mediante o ensino da doutrina cristã e a prática das obras evangélicas de misericórdia”.

 

Em comunhão com toda a vida consagrada espalhada no mundo, ousamos afirmar: não temos apenas uma história gloriosa para recordar e narrar, mas uma grande história a construir! Olhar o futuro, para o qual nos projeta o Espírito a fim de realizar convosco ainda grandes coisas 4.

 

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