A EMOÇÃO DE UM JOVEM ORIONITA EM TORTONA by Rafael Trovó

A EMOÇÃO DE UM JOVEM ORIONITA EM TORTONA by Rafael Trovó

A EMOÇÃO DE UM JOVEM ORIONITA EM TORTONA

 

Tortona foi a segunda cidade no meu roteiro pela Itália e, por incrível que pareça, me esqueci de tirar foto das coisas que vi…. SIM, SOU DA GERAÇÃO Y E ME ESQUECI DA FOTO.

Mas encontrei alternativa e registrei o meu dia 22 de dezembro de outra forma, sentado aqui na estação central enquanto o trem pra Pisa não chega. Segue o relato.

Peguei um trem na Milano Centrale ontem, ao meio-dia, com destino à comuna de Tortona, que fica a 50 minutos de Milão. Um padre italiano chamado Renzo me receberia e ofereceria lugar pra dormir. Precisava ligar pra ele assim que eu chegasse. Eu não sabia falar italiano e Padre Renzo não sabia falar português. Esse papo de que as línguas latinas se compreendem quando pronunciadas devagar é CILADA, Bino. Nunca deu certo, pelo menos pra mim. Das diferentes inteligências que o ser humano possui, tenho certeza de que aptidão a diferentes línguas é meu calcanhar de Aquiles. Não entendia nada do que ele dizia no telefone. Pra piorar, Padre Renzo falava grosso, rápido, alto. Era o perfeito estereótipo italiano – inclusive fisicamente, sempre de boina e a falar com as mãos. Fiquei em choque, nervoso a pensar se tinha valido mesmo a pena encaixar Tortona no meu caminho.

Meu amigo Anderson, brasileiro que intermediou toda a minha ida a Tortona e fala italiano, explicou ao Padre por telefone que eu havia chegado. 

Pronto. No fim das contas, todo o nervosismo só virou história. "Preggo", o padre falava de monte. "Scusa", era meu bordão. Guardei as malas no quartinho que ele me deu e fui caminhar pela cidade. Valeu a pena.

Tortona é pequena, de 27 mil habitantes. É a cidade em que o santo de devoção da minha família morreu. São Luís Orione.

Desde pequenino, eu canto uma música que diz que "Lá no norte da Itália, uma estrela despontou / Numa casa bem singela, a estrela então parou. / Orione, mensageiro da bondade do Senhor! / Pela Igreja, deu a vida. Para os pobres, deu amor!". Fiquei à flor da pele só por estar ali, no norte da Itália que sempre cantei. Essas lembranças de infância botam muito ser humano turrão no chinelo. Apesar de não ser Pontecurone, cidade em que o Luiggi Orione nasceu, estava no lugar em que ele começou toda a obra que um dia chegaria até o Brasil e lá na minha cidade, Rio Claro. Abrigos pra velhice, assistência a moradores de rua, colégios, universidades, os Pequenos Cotolengos (instituição para deficientes mentais)… Tudo isso se espalhou por muitos países, sempre com o olhar voltado aos mais pobres. E eu estava no lugar em que tudo começou. Se Galvão narrasse minha vida, estaria gritando "HAJA CORAÇÃO!" pra esse episódio.

Eu amo Dom Orione e sou devoto porque a principal mensagem dele é a de "fazer o bem sempre, e a todos. O mal nunca a ninguém". Existe melhor princípio pra se viver, gente? Eu acho que não. Se tem uma coisa que dá pra generalizar é essa: fazer o bem sempre, até àqueles que nos fazem mal. Quem dera se meu (e nosso!) instinto humano fosse assim.

Amo Dom Orione e sou devoto porque conheci e vivi muitas coisas só por causa dele. Amo Dom Orione e sou devoto porque sinto a presença dele na minha família em tantas coisas e momentos! Pode parecer exagero pra muita gente, mas sinto mesmo.

O corpo dele está em Tortona. Não foi enterrado. Está inteirinho numa câmara, dentro da Basílica que ele construiu pra Madonna della Guardia. Ah, Orione… Ver o senhor frente à frente foi uma das maiores emoções que já senti. Um italianinho de sobrancelha grossa que manteve o rosto de paz, mesmo depois de partir.

Eu já era vivo e com idade apropriada pra me lembrar das coisas quando ele se tornou santo. Foi em 2004, mesmo ano em que Rio Claro recebeu um congresso de orionitas vindos de todas as partes do Brasil e do mundo. Foi o primeiro encontro que participei e depois não perdi mais até me mudar pra Niterói. Apesar de não estar lá todo ano, sempre levo comigo no coração. É uma parte grande da minha vida. Um sentimento de gratidão que eu nem vou tentar explicar.

Achei o momento, o lugar e o meu espírito perfeitos pra fechar o ano. Ofereci meu 2015, agradeci por cada coisa boa que me aconteceu e pelo caminhão de experiências que ganhei. Também refleti sobre as coisas ruins que vieram não só pra mim, mas pra minha família nesse ano. Pedi pra que essa tristeza que nos rondou se convertesse em aprendizado, memória e que ficasse no passado. Uma das melhores coisas que a religião e a fé me deram foi a esperança, a crença em dias melhores, a aura de amor e renovação ao redor dessa época do ano.

Por isso, diretamente de Tortona, pertinho do Dom Orione, desejo um feliz natal daquele bem especial a TODOS os meus amigos e parentes. Força pra mudarmos o que devemos mudar e sermos felizes.

 

RAFAEL TROVÓ

 

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