TRINDADE, A FAMÍLIA DIVINA

TRINDADE, A FAMÍLIA DIVINA

Quando São Patrício atravessou as montanhas dos povos celtas, seu maior esforço foi explicar o mistério maior do cristianismo: um único Deus em três pessoas divinas, quer dizer, três pessoas divinas na unidade de um Deus único. Os teólogos explicam com palavras difíceis: a triunicidade divina. O grande evangelizador dos povos do Reino Unido não procurou palavras difíceis, pois seria apenas uma explicação conceitual. Numa terra onde abundava a natureza selvagem daqueles tempos,  encontrou na relva a explicação para seus dogmas. Tomou uma folhinha humildade de trevo e simplesmente fez a metáforas: três pequenas folhinhas compõem uma única folha, unida num caule, que faz das três folhas, diferentes no aspecto e iguais nas características, formando um único Deus. Outros santos tinham buscado meios de explicar mistério tão grande.

A VISÃO DE SANTO AGOSTINHO

Quando falamos sobre a Santíssima Trindade, é impossível esquecer a mais bela história que Deus colocou para nossa compreensão, através de Santo Agostinho. A história que nos é contada, diz que este grande santo estava muito preocupado tentando entender o mistério da Santíssima Trindade. Caminhando pela praia, as respostas que lhe vinham à mente nenhuma o satisfazia, apesar da sua brilhante inteligência. Foi então que viu um garotinho com uma concha cheia de água. O menino enchia a concha e despejava num pequeno buraco feito na areia. Fazia isso inúmeras vezes. Sorriu e se dirigiu ao menininho.

– O que está fazendo?

A criança o olhou e respondeu com toda a suavidade possível: – Estou enchendo este buraquinho com toda a água do mar.

Santo Agostinho sorriu com a ingenuidade da criança. Olhou novamente para o menininho e disse:  – Não é possível colocar toda a água do mar no buraquinho da areia, este oceano é imenso e não cabe dentro.

O menino sorriu e disse com uma voz clara e objetiva: – É mais fácil colocar a água do mar neste buraquinho da areia, do que entender os mistérios de Deus.

Para nós, também é complicado entender este mistério tão belo, pois Deus nos apresenta de tantas maneiras que esta deveria ser entendida com uma cumplicidade de catequese.

A METÁFORA DA PROFESSORA DE CATEQUESE

Um professor de catequese levou para uma de suas aulas, em que falava sobre a Trindade, um prato e um ovo em cima. As crianças ficaram olhando sem entender nada. Ele bateu o ovo na beira do prato e abriu-o em duas partes, colocando a gema, a clara e a casca. Três elementos que na realidade era apenas um. Explicou de maneira simples e as crianças entenderam que as três formavam um ovo, se completavam, nenhuma poderia estar isolada, todas faziam parte do ovo, que também tem o sentido da vida. No entanto, os mistérios da Santíssima Trindade, são bem mais complexos que estas histórias.  Mas as metáforas nos ajudam a compreender os grandes mistérios da nossa fé, que não podemos entender pelos sentidos e que os conceitos não conseguem atingir os espíritos mais simples e místicos.

NAVEGANDO NO TEMPO DA TRADIÇÃO

No século IV, houve necessidade de combater a doutrina de Arius. Este era um teólogo que negava a divindade de Cristo. O fato foi extremamente complicado. No ano de 318, Arius para defender sua teoria, dizia que Jesus Cristo, foi criado por Deus, bem antes da existência do mundo e do tempo. Teria sido um ato do livre arbítrio de Deus. Desta maneira queria dizer que o Filho não existiu desde toda a eternidade.  Assim não poderia ser igual ao Pai. No entanto dizia que Jesus Cristo estava acima de todos os homens. A liturgia da Igreja cristã queria celebrar o mistério da Santíssima Trindade. Era necessário propagar na Teologia e também junto aos fieis a doutrina trinitária. Tivemos nesta época, ano 321, em Alexandria, Egito, um sínodo convocado por Alexandre, que congregou 100 bispos egípcios e líbios que excomungou Árius e seus seguidores. Alexandre tratou de enviar cartas a todos os bispos e não permitiu mais nenhum tipo de heresia quanto à Trindade.

Quanto à festa da Trindade, no início foi conturbada, pois os teólogos diziam que todas as festas já eram feitas para a Santíssima Trindade e desta forma não era necessário ter uma festa à trinitariedade e unicidade de Deus. No entanto, a celebração da festa com o sentido de devoção dos fieis, foi-se tornando cada vez maior.

PARA EXPLICAR O GRANDE DOGMA

A festa da Trindade é celebrada no domingo seguinte a de Pentecostes. Trata-se de mostrar aos fieis a unidade divina no mistério da salvação. Nesta festa,  o seu esplendor está em mostrar que o Pai opera no Filho pelo Espírito Santo. O que significa que para desenvolver os vários determinantes da ação salvífica de Deus temos o seguinte: o Pai é o criador, Cristo é o redentor e o Espírito Santo é o santificador.

A teologia mostra nesta festa, que a humanidade recebe de Deus o amor misericordioso, inserida em sua ação na história humana. Desde o princípio dos tempos, passando pela  santificação no crepúsculo da história e chegando até a redenção. Esta belíssima festa celebra a glória de Deus Uno e Trino e revela a doutrina da Igreja. Com Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo atua na história humana e realiza a salvação da humanidade.

FOLHEANDO AS SAGRADAS ESCRITURAS

Todas as verdades de nossa doutrina encontram  seus fundamentos nas Escrituras. Nada mais evidente que folhear suas páginas sagradas. Através desta festa,  Deus revela seu amor salvífico, que vem mostrar a Sua presença na história da criação e da sua ação no mundo. A sabedoria divina, que se revela através do espírito divino e que vem celebrar as duas alianças bíblicas.

Tanto o Antigo Testamento (Dt 4,32-40), como o Novo Testamento, através da nova Aliança (Rom 8,14-17), Deus manifesta a sua unidade (Pr 8, 22-31) e a sua pluralidade de pessoas (Rom 5,1-5): “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19).

A DIVINA COMUNIDADE

São três pessoas, essencialmente iguais, mas cada uma delas com suas expressões próprias. Como cada um de nós que temos características particulares, mas somos essencialmente iguais a todos os seres humanos. Somos iguais na humanidade, somos diferentes na forma de ser. Deus na Trindade é assim: três pessoas iguais na essência, mas diferentes na missão. Assim devem ser todos os seres humanos. Cada um é um universo próprio, mas todos pertencemos à estirpe humana. Na Igreja, somos comunidade, com funções diferentes, mas sempre iguais na mesma essência, pois somos todos cristãos. Formamos a comunidade, que vive o ideal da Trindade: na diversidade, somos unificados pela graça de Cristo. Assim, a figura da Trindade é a inspiração para vivermos como irmãos na comunidade, na família e no mundo.

Prof. João H. Hansen – Pe. Rodinei C. Thomazella – Pe. Antônio S. Bogaz

Da família de São Luís Orione – orionitas