SOMOS TODOS IGREJA

A IDENTIDADE ECLESIAL NA LITURGIA DE  PEDRO E PAULO

A celebração da liturgia dos grandes santos, patronos da Igreja universal, nos permite entender e celebrar nossa identidade eclesial e viver este fenômeno dentro de nossa vida cotidiana, como fieis em Jesus Cristo. Desde os primórdios do cristianismo, estes dois personagens se tornaram a referência para edificar a comunidade dos seguidores do Nazareno. Pedro venerado e respeitado como o “primeiro responsável pela Igreja”, seguindo o mandato do próprio Cristo: “apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21, 16) e Paulo como o grande evangelizador de todas as gentes” (At 13, 44), que sente-se responsável pela evangelização dos povos, transpassando as fronteiras da Palestina e do próprio judaísmo. A grande festa destes santos é instituída no século IV, antes mesmo da instituição da Solenidade do Natal. Para elevar  Pedro e Paulo, o Papa, em Roma, rezava três missas. A primeira missa era celebrada na própria Basílica de São Pedro, na sede da Igreja no Vaticano. Depois seguia em procissão  pelas ruas, atravessando os muros antigos e celebrava a segunda missa na Basílica de São Paulo. A terceira missa era rezada nas catacumbas de São Sebastião, pois segundo a tradição, repousavam neste lugar as relíquias dos santos. O povo  seguia o Papa, sacerdotes e diáconos nesta peregrinação e era uma grande festa em toda cidade, pois era considerado o nascimento da Igreja.

PEDRO NOS VERSÍCULOS DA BÍBLIA

As duas colunas da Igreja, Pedro e Paulo, têm grandes fundamentos nos escritos da Sagrada Escritura. Para o “primeiro responsável da Igreja”, encontramos seu chamado no Evangelho de Mateus (Mt 16, 13), onde Jesus o convoca para a grande missão. Seu nome original não é senão Simão, mas sua vocação é “ser pedra” (Lc 22, 32). Se Jesus é a pedra angular, Pedro é a primeira pedra deste grande edifício que está se construindo aos poucos, pela dedicação dos primeiros apóstolos e amalgamado pelo seu sangue. O chamado e o envio de Pedro não são simples. Ele é eleito por Jesus Cristo depois de provar sua coragem e dedicação ao próprio projeto do Mestre. Sobretudo sabemos que este chamado de Jesus vem depois que Pedro professa por três vezes seu amor. A pergunta insistente e repetida de Jesus não deve deixar dúvidas. Ela vai se aprofundando a cada vez: “tu me amas?”; em seguida: “tu me amas mesmo?”. Não basta ainda para o Senhor e Pedro experimenta certa estranheza, mas não recua e confirma: “tu me amas mais que estes outros?”. Jesus quer a confissão de um amor incondicional, pois este sentimento tem grandes exigências. Professar o amor exige fidelidade para não escapar jamais, porém exige segurança para suportar as adversidades, mesmo no martírio.

AS CHAVES DO REINO

A liturgia confirma esta coragem e este evento é revivido nas orações e nos prefácios, para destacar a força do chamado, a profundidade da resposta de Pedro e a responsabilidade da convocação, que Pedro acolhe sem pestanejar. Com Pedro, somos todos Igreja.  sob sua batuta de mestre da orquestra cristã, seguimos fieis e anunciamos a mensagem e o amor do Senhor.

Pedro teme a sua responsabilidade, pois em tempos de martírio deve ser o primeiro a ser sacrificado, como em nossos dias, o Papa é o primeiro a ser atacada pelas forças hostis da Igreja. A promessa vem de Cristo, que garante que ele sempre vencerá no amor e na misericórdia, porque as “portas do inferno” não o vencerão; quer dizer, não vencerão a Igreja. As forças do mal sempre estiveram presentes na vida dos cristãos, com o martírio e as grandes perseguições, mas, sobretudo pelas calúnias e perseguição dos incomodados com a força da Igreja e seu apoio aos mais pobres e abandonados. Em todos os tempos, mesmo que imperfeitamente, a Igreja esteve ao lado dos perseguidos e marginalizados e isso incomoda os perseguidores e prepotentes. Pedro caminha em todos os lados do mundo conhecido, para evangelizar. Sai de Jerusalém e vai para diversos pontos do antigo Oriente Médio para propagar a Palavra. Sua missão vai longe, muito longe. Atravessa o mar e vai para Roma. Esta é a cidade de seu patíbulo, onde na cruz consumou seu total amor pelo Senhor.

A iconografia de Pedro destaca as chaves em suas mãos, para ilustrar o mandato de Jesus, que lhe deu a missão de guardião do Reino de Deus, um reino verdadeiro que se instaura no mundo, para transformar o coração dos homens. Os pergaminhos nas mãos recordam as suas cartas, escritas com maestria para defender a Igreja dos primeiros heréticos que usam o nome de Cristo para ganhar dinheiro  e prestígio. Podemos perceber que a missão do Papa em nossos dias é semelhante à missão de Pedro e do mesmo modo é caluniado e atacado pelos inimigos,  muitas vezes dentro da própria Igreja.

PAULO, ÚLTIMO E PRIMEIRO, O GRANDE PREGADOR

Quando observamos as pinturas e estátuas de Paulo, sempre o vemos com dois símbolos fundamentais: a espada e o evangelho. Morreu pela espada, decapitado e corajosamente fora dos muros da cidade, mas sempre pregando o evangelho de Jesus Cristo, do qual se tornou seguidor e servidor. Se Pedro é considerado o alicerce da Igreja de Jesus Cristo, Paulo é seu edifício. Com Pedro à frente e alicerçado nas suas pregações, Paulo é o edificador carismático da comunidade dos cristãos que cresce de forma admirável. Nas páginas dos Atos dos Apóstolos testemunhamos a determinação de Paulo, bem como sua sede inextinguível de levar aos povos a mensagem de salvação que aprendera com os apóstolos. Notamos também sua referência e fidelidade a Pedro, sobretudo quando volta a Jerusalém pra discutir sobre a importância da circuncisão (At 15). Ele argumenta com clareza, mas é Pedro quem vai decidir e todos acolherão a resposta final. Para ser cristão é preciso crer no Senhor Jesus e anunciar, não é preciso seguir velhos mandamentos culturais e religiosos da tradição antiga. Para viver como cristão é necessário amar e não circuncidar. 

Nas horas difíceis, Paulo experimentou o amor de Deus, como recita “provei na minha vida, o amor de Deus sem fim, já não sou eu quem vive, mas o Cristo vive em mim”. (Gal 2, 20).  Na sua fraqueza provou o amor de Deus, uma vez que sua entrega foi total, pois Deus lhe bastou, porque Ele tanto o amou. Em Cristo, Paulo é fortalecido na sua tribulação (2Tim 4, 6 – 8), que não foi fácil, uma vez que suas ameaças de morte foram muito frequentes e com tentativas de assassinatos e prisões recorrentes. Paulo é o modelo a perseverança e com Pedro são colunas fortes e seguras da Igreja.

O BENDITO CAMINHO DE DAMASCO

Quando caminha para Damasco, Paulo recebe o chamado e se torna verdadeiro apóstolo. Como todo homem em processo de conversão, passa a usar as mesmas armas da perseguição como instrumentos de pregação. Não lhe faltam a coragem e a disposição para seguir seu caminho. Paulo não tem preguiça e jamais se acomoda, pois vai sempre em frente para novas cidades e vilarejos. Não teme o ridículo, o confronto e a perseguição. Sabe chegar, permanecer e escapar quando percebe a fúria descontrolada dos algozes. Foge da morte, mas nunca abandona sua missão. Sua vocação de mensageiro de Cristo, o faz um grande apóstolo, pois vai até os confins do mundo. Para os tempos bíblicos, descolar-se por cidades era um grande acontecimento. Paulo atravessa desertos e rios pra atingir seu propósito de propagar os ensinamentos que recebera de Ananias (At 9, 10 – 13). Considerando as distâncias e os perigos do caminho, seu anseio de tornar Cristo conhecido o faz enfrentar tempestades nos desertos e no mar para chegar à sede do Império romano. Mesmo em Roma, sob custódia dos perseguidores, foge no meio da noite para falar do amor de Deus aos povos. Paulo tem consciência que se evangelizar Roma, esta fé poderia se difundir em todos os recantos da dominação romana. Foi isto que aconteceu de forma milagrosa. Todo o mundo ocidental, desde a Europa e Ásia, passando pela África, vai carregar no coração a cruz de Cristo. O grande império bebe das águas nas fontes do Salvador, servidas no cálice do martírio de Paulo e Pedro, como parceiros na ação missionária. Paulo é o grande apóstolo das nações e oferta sua vida, suas forças, sua inteligência e sua cidadania romana para difundir sua fé, a fé que o salvou da ignorância e o colocou no reino dos bem-aventurados.

CONFESSAR A FÉ E ANUNCIAR O CRISTO

A mensagem dos textos bíblicos desta festa atestam dois valores vinculados destes santos juninos: eles confessam a fé em Jesus Cristo e anunciam seus ensinamentos aos neófitos. A verdadeira fé nos coloca na estrada da evangelização. Ao descobrirem Jesus Cristo, partem pelas estradas desconhecidas, enfrentando o perigo das estradas e das ondas ferozes para cumprir o mandato do Mestre: “ide e anunciai” (Mt 28). A confissão de Pedro (Mt 16, 13) toca o coração de Jesus. Não se trata de uma confissão doutrinária, mesmo que sua confissão comprova que acredita ser o “homem de Nazaré” o verdadeiro Messias. Pedro reconhece n’Ele o Filho de Deus vivo, o Messias esperado pelas nações. A confiança de Pedro assegura que Ele será fiel para sempre. Está selado o seu futuro, pois tomou o timão da barca de Deus. O “velho Simão” se torna o “novo Cefas”, a pedra primeira da comunidade dos crentes em Cristo. Pedra nas construções antigas representa segurança, estabilidade e garantia de equilíbrio em toda construção.  Pedra angular é muito mais que isso; pois é a referência para todo edifício, mas a primeira pedra é o parâmetro para todas as pedras que serão plantadas no edifício. São as pedras vivas que congregam um povo que se converte e quer transformar o mundo.

A simbologia da pedra atribuída à missão de Pedro é enriquecida pelo símbolo das chaves. Conhecemos os guardiões das cidades, com suas grandes chaves vigiando os portões para que não entre malfeitores e os cidadãos fiquem protegidos. Existem ainda as chaves dos cofres de tesouros, bem como as chaves de ingresso nas embarcações. A missão do detentor das chaves é muito grande, pois está com ele  a segurança de todos que habitam o edifício e a cidade. Ele é protetor e exige confiança, pois se for subornado todos correm perigo. Pedro recebe total confiança de Cristo e para sempre os cristãos rezam pelo Papa para que seja forte e protegido em sua missão. Esta é a grande missão do Papa e podemos perceber que tantos cristãos que se afastaram de sua proteção se perderam e criaram novas igrejas que se corromperam e ficaram marcadas como comunidades heréticas, envolvidas em golpes, riquezas e luxos. Ainda que todos sejamos pecadores e a Igreja mesmo é santa e pecadora, o Papa, pela força do Espírito, nos garante fidelidade ao Reino de Deus.

PEDRO APÓSTOLO, PRÍNCIPE DOS APÓSTOLOS

Com as chaves na mão e a fidelidade no coração, Pedro, o Papa (Pedro Apóstolo, Príncipe dos Apóstolos) nos indica poder de governar e garantia do caminho certo no seguimento de Cristo. A promessa do Mestre para Pedro, depois de longas provas e provações encontra um fundamento bíblico muito importante, quando Isaías profetiza: “colocarei as chaves da casa de Davi sobre seus ombros. Ele abrirá e ninguém jamais fechará; mas se ele fechar, jamais alguém a abrirá” (Is 22, 22). Aquele que segura as chaves em suas mãos não é o dono da cidade, mas é seu guardião e lhe é confiada uma grande missão. Assim como a casa de Davi não pertence a Eliaquim, mas este é apenas seu guardião, a Igreja pertence a Jesus, que é seu Senhor, e Pedro é seu fiel escudeiro, seu guardião fiel. Como o jardineiro não é proprietário do jardim, mas cuida das plantas como devoção e amor, igualmente o Papa é o jardineiro fiel da Igreja, que protege e vela pelos cristãos do mundo inteiro. É um grande mistério e nem todos podem compreender tão grande missão. Sobretudo os invejosos e os adversários lutam contra esta porta, mas não poderá jamais vencer. Cristo a protege de todos os males para sempre.

Estamos falando de Pedro, mas nos referimos a todos os Papas que ao longo da história, com sofrimentos e mesmo com infidelidades, protegeram a Igreja e a sustentaram para sempre. Pedro, como todos os Papas, não são os senhores da Igreja, pois a Igreja é de Cristo e Cristo é de Deus. Pelo poder das chaves, sua missão é iluminar e orientar a Igreja, para que seja sempre fiel ao seu verdadeiro Senhor. São guardiões da verdade evangélica, da fé cristã e da moral dos seguidores do Nazareno.

PEDRO E PAULO, PREGADORES E PRISIONEIROS

Inúmeras vezes, os dois primeiros pilares da Igreja foram encarcerados enquanto exerciam o ministério da pregação entre os gentios nas cidades e nas suas praças. Não poucas vezes, tiveram que se refugiar em casas de amigos para não serem apedrejados, mas nunca desistiram da sua missão. Logo depois de Pentecostes, quando estava pregando em Jerusalém, Tiago, filho de Zebedeu foi martirizado pelo governador da Judeia, Herodes I. Em seguida, Pedro foi feito prisioneiro e foi milagrosamente libertado por um anjo de Deus (At 12). Os milagres acontecem: “Por aquele mesmo tempo, o rei Herodes mandou prender alguns membros da Igreja para os maltratar. Assim foi que matou à espada Tiago, irmão de João. Vendo que isso agradava aos judeus, mandou prender Pedro. Eram então os dias dos pães sem fermento. Mandou prendê-lo e lançou-o no cárcere, entregando-o à guarda de quatro grupos, de quatro soldados cada um, com a intenção de apresentá-lo ao povo depois da Páscoa. Pedro estava assim encerrado na prisão, mas a Igreja orava sem cessar por ele a Deus.” Os cristãos ficaram assustados, mas ao mesmo tempo sentiram a presença de Deus em suas vidas e seguiram corajosamente na missão.   Cumpre-se a compreensão que o sangue dos mártires fecundam novos cristãos. Também Paulo foi preso e pelas mãos de Deus foi libertado, como é relatado nos Atos dos Apóstolos: “Pela meia-noite, Paulo e Silas rezavam e cantavam um hino a Deus, e os prisioneiros os escutavam. Subitamente, sentiu-se um terremoto tão grande que se abalaram até os fundamentos do cárcere. Abriram-se logo todas as portas e soltaram-se as algemas de todos.  Acordou o carcereiro e, vendo abertas as portas do cárcere, supôs que os presos haviam fugido. Tirou da espada e queria matar-se. Mas Paulo bradou em alta voz: “Não te faças nenhum mal, pois estamos todos aqui”. Então, o carcereiro pediu luz, entrou e lançou-se trêmulo aos pés de Paulo e Silas.

Os dois acontecimentos, entre tantas prisões e intervenções divinas revelam três proposições. Em primeiro lugar, entendemos que os dois primeiros apóstolos da Igreja são destemidos e não deixam de anunciar. São modelos para todos nós. Revela ainda que Deus está com eles e não os abandona, dando-lhe grande segurança e confiança na Providência divina e, em terceiro lugar, que estes acontecimentos geram grande admiração nos cristãos e força de conversão para os pagãos. As atitudes destes dois discípulos são testemunhos para os cristãos ao longo dos séculos. A figura dos dois, vivendo corajosamente entre perigos e ameaças animaram muitos missionários e estes se lançaram em terras distantes, enfrentando realidades sombrias e mundos desconhecidos.

VIRTUDES COMPLEMENTARES

Pedro e Paulo, tão distantes no início da história do cristianismo, tornam-se próximos e se integram na missão. Pedro vem de um ambiente humilde e pobre, onde era pescador, numa família humilde, à beira do lago da Galileia. Paulo é oriundo de outro universo, bem distante, com formação acadêmica, conhecedor das letras e das culturas. Mesmo sendo um judeu de origem, tem cidadania romana, o que permite transitar entre os judeus e os romanos. Esta condição lhe foi favorável para transpor fronteiras e exigir seus direitos.

Foram tocados pela mão de Deus e são celebrados como partes de uma mesma solenidade. Agostinho de Hipona ensina que os dois eram unidos, como se fosse um único ministério. Pedro segue à frente, cavando o sulco das sementes e Paulo vem semeando.  Não foram martirizados no mesmo dia e nem no mesmo lugar, embora os martírios tenham sido próximos no tempo e no espaço. Pedro foi martirizado na colina Vaticana e Paulo fora dos muros da cidade. Mas estavam unidos no ideal e tinham marchado juntos para Roma.

Os dois apóstolos foram prisioneiros na mesma prisão Mamertina, no coração de Roma, provavelmente sob a ordem de Nero, como atesta Clemente Romano na sua Carta aos Coríntios.  O martírio de Pedro foi por crucifixão (de cabeça para baixo, como aparece nas pinturas) e Paulo foi decapitado, mas ambos viveram o martírio de sangue como consequência da fé em Jesus Cristo.

Deste modo, ambos são considerados fundadores e pais espirituais da Igreja de Roma, que se torna por isso a Igreja mãe de todas as Igrejas do mundo inteiro. O Papa Bento XVI os descreve como antíteses dos dois fundadores de Roma, como é narrado no mito da loba que alimentou os irmãos Rômulo e Remo. Desta feita, ambos são considerados “principais padroeiros da Igreja de Roma”. Pedro cuida da Igreja na sua intimidade e Paulo de sua expansão. São as duas dimensões da vida da Igreja. Pedro tem seu olhar “ad intra” e Paulo lança suas redes “ad extra”. Assim, a Igreja vive na autenticidade,  que é a “missão petrina” e expande suas fronteiras, como é a “missão paulina”. Pedro, o santo das chaves, é a rocha firme sobre a qual o Senhor quis edificar sua Igreja e Paulo com seu pergaminho do evangelho nas mãos vai seguir repetindo: “ai de mim se não evangelizar”.

EM PRECE, COM PEDRO E PAULO

A Igreja sempre reza com Pedro e Paulo e todos os atos oficiais do Sumo Pontífice, na tradição, são promulgados clamando o nome dos dois grandes apóstolos, que edificaram e difundiram a Igreja entre os povos. Na oração litúrgica I (Prefácio), o celebrante anuncia que “Pedro foi o primeiro a confessar a fé em Cristo e Paulo a ilustrou com sua doutrina”. Seguindo o trocadilho, rezamos que Pedro estabeleceu a Igreja entre os filhos de Israel e Paulo a anunciou entre todos os povos. Como serviram a única e verdadeira Igreja, são venerados em todas as partes do mundo, com a mesma devoção e a mesma fé. Seus derradeiros atos religiosos são a oferenda de suas próprias vidas. Pedro é nosso primeiro apóstolo, o pai espiritual da Igreja, personificado em nossos dias pelo Papa, em Roma, a Igreja mãe, que gera filhos na fé para todos os povos em todos os tempos.

Pe. Antônio S. Bogaz – Prof. João Henrique Hansen

Autores de Homilia: a teologia do Papa Francisco. Paulinas: 2019

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BOX I

SANTOS DE JUNHO

 

            O mês de junho une três festas de santos muito populares, quer sejam Santo Antônio de Pádua (dia 13), São João Batista (dia 24) e São Pedro e São Paulo (dia 29).

Santo Antônio e os milagres: santo é português, mas viveu em Pádua, na Itália. Pregador eloquente e muito popular tem, como símbolo, sua língua conservada intacta no seu santuário. Amigo de Francisco de Assis, sua devoção é divulgada pelos franciscanos. A ele são atribuídos muitos milagres. Sua verdadeira história misturou-se a lendas, nascidas da imaginação popular. Sua imagem traz o evangelho, pois era um grande pregador, e o menino Jesus, que segundo a tradição lhe apareceu e lhe explicava as escrituras.

            Na prática litúrgica popular, a devoção a Santo Antônio está relacionada com a caridade,  propagando a bênção dos pães, além das orações para encontrar objetos perdidos e promessas para se casar. Quanto à promessa de matrimônio, a superstição consiste em colocar a imagem do santo no poço e somente ser tirada, quando chegar o dia do casamento. Muitas vezes, encontramos orações, correntes de oração e outras devoções nas portas das igrejas.

São João e as colheitas  é venerado como o “santo das colheitas”. Ele é colocado, nos cultos populares, com o olhar direcionado para as plantações, como se cuidasse delas. Por isso, sua festa é ornamentada de flores e plantas.   Em muitas celebrações populares, são levados cestos de alimentos no ofertório, como reconhecimento a São João pelas fartas colheitas. O mastro que é erguido em sua homenagem é ornamentado com espigas de milho, cachos de arroz e flores para agradecer a fertilidade da terra. Esta festa marca o início das colheitas, nas regiões agrícolas.

 

São Pedro e as chuvas, São Paulo e a pregação:  São Pedro é venerado como o “santo das chuvas”. Na religiosidade se refere à posse das  “chaves” do céu, de onde vêm as chuvas, Pedro é invocado para aplacar o suplício das secas. Nas regiões de lavoura e pecuária, onde a importância das chuvas regulares é fundamental, a devoção a São Pedro é muito grande. Por outro lado, Paulo é sempre a motivação para pregar o Evangelho a todos os povos. É um santo missionário e evangelizador.

            Nestas festas, que ocorrem depois de uma celebração litúrgica (missa ou terço), partilham-se comidas típicas (pipoca, batata doce, quentão e outras). Segundo a tradição, quem tem fé, pode à meia-noite caminhar sobre brasas acesas sem se queimar. Os casamentos caipiras também são muito populares nestas festas. Muitas vezes, eles são realizados com humor e inversão de papéis e outras vezes, como se fossem verdadeiros casamentos oficiais. Trata-se de festividades religiosas, muito comuns nas regiões rurais do Brasil e nas periferias das regiões urbanas.

(do livro: Tempo comum e a Festa dos Santos. Paulus:2010)