06 jun "Servos de Cristo e dos pobres": um carisma em saída
Cl. Renaldo Elesbão de Almeida
O encontro com Jesus nos impulsiona ao encontro com os irmãos. A atitude do Bom Samaritano é a constatação do encontro pessoal com Cristo. Pois, quem ama conhece e se abre porque o amor é doação. Vive de abertura para si mesmo e para o outro, é pessoa. O verdadeiro Orionita sabe que a face de Cristo se expressa no próximo. A saída missionária, por sua vez, é fruto da liberdade interior de quem vive como totalidade de sentido pessoal. Dom Orione não fala de um serviço filantrópico, mas de Caridade.
Caridade é a pro-atividade criativa e estratégica do amor a Cristo. Cristo é o fundamento e o impulso do amor aos irmãos. Todos são incluídos, a saber: pobres e ricos. Porque pobres é todo aquele que carece de amor (cf. Lc 19, 1-10). Ninguém sai missionário se não ama Quem envia. O missionário não é conduzido por um projeto humano, mas divino. A fonte é o amor de Cristo. “Com efeito, não recebi nem aprendi de homem algum, mas por revelação de Jesus Cristo” (Gl 1, 12), afirma São Paulo.
Jesus nos ama por primeiro. Ele antecede, através do Espírito Santo, toda nossa intenção missionária. A saída missionária não é uma saída apenas geográfica, mas também e, principalmente, existencial. O missionário deve experimentar a saída egocêntrica, isto é, saída das suas necessidades imediatas para amadurecer na aproximação do outro. Assim também, a orionilidade manifesta maturidade psicológica e espiritual. É a experiência de maturação antrodivina.
O XIV Capítulo geral da Pequena Obra da Divina Providência (orionitas) tem por base fundante a dinâmica da Caridade que é uma Pessoa e se exprime nas pessoas. Quem serve Cristo, serve os irmãos e quem serve os irmãos serve Cristo. Jesus se “esconde” no desconhecido. Prestemos atenção naqueles que são esquecidos. Os sem diploma, sem roupa, sem voz, sem comida, sem cidadania, sem “cultura”, sem saúde, sem “educação”, sem teto, os sem cama e etc..
Enfim, o carisma orionita se revela na atitude pro-ativa do Bom Samaritano. Ver, aproximar, tocar, cuidar e não cuidar sozinho, mas pedir ajuda são características do dinamismo orionita (cf. Lc 10, 29-37). A personalidade do Orionita é a pro-atividade. É “primeireia-se” na Caridade “fazendo o bem sempre, a todos”. O Orionita sabe que “Somente a Caridade salvará o mundo”.
Fazer o bem sempre é o mandamento da espiritualidade orionita ao modo de Jesus que é o rosto misericordioso de Deus Pai. É a participação no senhorio do Mestre, a saber: “ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão para com ela e lhe disse: ‘Não chore!’ Aproximou-se, tocou o caixão, e os que carregaram pararam. Então, Jesus disse: ‘Jovem, eu te ordeno, levanta-te!’ O que estava morto sentou-se e começou a falar” (Lc 7, 13-15).
Somos convidados a ser na vida dos irmãos um novo então que inaugura um novo momento vital e vitalizante. Vital na vida pessoal e de vitalidade na vida interpessoal, ou seja, Vida na vida do jovem e Vida na vida da mãe. “E Jesus o entregou à sua mãe” (Lc 7,15). A Caridade é misericordiosa porque sente compaixão. Ela devolve a pessoa a si mesma e a comunidade. De fato, Deus em Jesus “veio visitar o seu povo” (Lc 7, 16). A Caridade orionita é uma epifania da visitação vivificante, cuja fonte é Cristo Jesus.
A Caridade, porém, é feita em comunhão com a Igreja, ou seja, a Caridade orionita é eclesial. É paterna porque proclama a paternidade de Deus. Dom Orione tinha pressa em “primeirear”. Parafraseando o papa Francisco os Filhos da Divina Providência formam um carisma congregacional em “saída”, visto que é uma congregação de “discípulos missionários que ‘primeireiam’, que se envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam” (EG, n. 24). Ou seja, estão “à frente dos tempos”. O Orionita, assim, é profeta. Não do futuro, mas do presente em vista do que há de vir: o Reino de Deus, a saber, toda ação caritativa orionita visa “instaurare omnia in Christo”.
O Orionita, em suma, serve Cristo nos pobres. Mantém com Jesus Cristo “uma intimidade itinerante” (EG, n.23). Saindo, toca as feridas de “todas as periferias que precisam da luz do Evangelho” (EG, n. 20). Isso mediante a alegria do Evangelho que contagia acolhendo e protegendo das adversidades existenciais. Essa é a experiência da Ressurreição. Em pé, acolhe e chama à mesa. Essa é a distinção do Orionita: acolher bem. Somente, com isso, contraímos o “cheiro de ovelha” (EG, n. 24).
O Bom pastor tem os sentidos afinados às necessidades alheias. Possui a capacidade empática de perceber, apreender, compreender e de se “envolver-se”. Mas, o Orionita estar à “caminho de uma conversão pastoral e missionária, [e sabe] que não pode deixar as coisas como estão” (EG, n. 25). A verdade é que o Orionita é um inconformado com o mundo porque se fosse não seria Orionita. Porque o Orionita visa restaurar em Cristo, com Cristo e para Cristo todas as coisas. O Reino de Deus não está pronto. Nisto consiste o chamado.
O tema Servos de Cristo e dos pobres se refere ao XIV encontro dos Orionitas na Itália. O tema revela o sentido carismático da Congregação: experimentar Cristo nos pobres. E revela também que precisamos de uma constante “renovação eclesial inadiável” (EG, n. 27). Oxalá São Luís Orione nos “primeirei” nas nossas pro-atividades Caritativas. A Caridade, em suma, para nós é Jesus Cristo.
O Orionita, dessa maneira, não é adjetivo, somente, mas substantivo, isto é, se refere à íntima constituição pessoal que o faz existir como pessoa humana de modo que as qualidades é a pessoa e a pessoa são as qualidades. Portanto, ser e fazer constitui o Orionita. Ele é, um estrategista da Caridade na caridade: ama amando. Assim, não há separação entre servir a Cristo e servir aos pobres. A Caridade possui, com isso, uma “dinamite” que contagia a todos, pois há um perfume que tira o odor da indiferença. Ela é empática porque é uma Caridade Samaritana, tem sede e fome de ação sempre à beira do Poço: Cristo e os pobres (cf. Jo 4, 1-42).
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