Pentecostes: o Fogo de Jesus sobre a terra

 

Cl. Renaldo Elesbão

Cl. Antônio Johnes

 

“Eu vim lançar fogo à terra” (Lc 12,49), disse Jesus. O Espírito Santo é o fogo que ele prometeu. O seguimento a Jesus nos põe em oposição as forças do mal. O verdadeiro discípulo não vive para agradar as pessoas a fim de conseguir reconhecimento. Jesus é causa de divisão. “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8, 34). Não carregamos a cruz de Cristo, mas a nossa cruz atrás da cruz de Cristo. Conosco está o Consolador prometido por Jesus (cf. Jo 16,7).

O Espírito Santo é o fogo abrasador, impulsionador, divisor de águas, é o consolador, defensor, noutras palavras, é a vida pulsante do Pai e do Filho. Ele é a fecundidade do Pai e a vida do Filho. Ele é o inconformado porque a Obra de Deus não está pronta. Quem é possuído por Ele realiza as Obras de Jesus e “fará ainda maiores” (Jo14,12). O Espírito Santo é a santificação do mundo. Ele é a ordem criadora, o fogo, a vida criativa, a paz inquieta, a esperança ativa, o amor apaixonado e apaixonante da missão, ele é o sentido da vida de Jesus.

O Espírito Santo é a o vivificador. Quem é possuído por Ele o possui, ou seja, quem está em comunhão com Ele oferece-o as pessoas porque ele é o Amor. Nele somos fortes, perseverantes. Com Ele temos salvação. Quem é plenificado por ele possui a vida eterna. Nele Jesus se manifesta como Palavra e Atitudes. Noutras palavras, o Espírito Santo é a vida Divina em nós.

O cristão é o sacramento do Espírito Santo. O cristão é liberto e se torna libertador. Não é admissível para um cristão morrer solitário. Como conceber um cristão apático, alheio ao sofrimento e a dor dos irmãos. Como aceitar um cristão conformado. Como aceitar um sistema opressor que se opõe a vida em abundância que Jesus veio trazer? (Jo 10,10). O cristão é batizado na água e no fogo. “Ele [Jesus] vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3,11). A água limpa, o fogo aquece. Batizado no Espírito Santo somos missionários. Porque o Espírito é vida vitalizante, amor amante, fogo abrasador e a energia contagiante. 

O Espírito Santo é o Amor do Pai e do Filho. Ele é o testemunho de que “Deus é Amor” (1Jo 4,8). “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou pela unção para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor” (Lc 4,18-19).

O Espírito é quem consagra o missionário. O missionário age pela unção do Espírito Santo. Por isso, ele é o sinal visível da vivificação. O Espírito Santo é a graça de Deus agindo em nós. Deus mesmo age em nós. O Espírito de Deus nos liberta do medo e nos põe no Caminho (cf. Jo 14,6).

O cristão mesquinho, fraco, medroso, apático, conformado não representa Jesus porque não é cristão, isto é, o ungido. O cristão é o ungido pelo Espírito para levar fogo à terra. Assim, promete Jesus: “Recebereis uma força, a do Espírito Santo que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e a Samaria, e até os confins da terra” (Atos 1,8).

Uma Igreja batizada no Fogo é “uma Igreja ‘em saída’” (EG, n. 20). É o Espírito que nos move. Se não estou plenificado pelo Espírito de Jesus não posso ser missionário. Sem o Espírito todo propósito evangelizador fica no âmbito apenas humano.

Como aceitar um cristão sem o Fogo? Como primeirear, como quer o papa Francisco, se não sou consagrado pela Unção? Como libertar os oprimidos sendo escravo de mim mesmo? Como proclamar o Evangelho, a Boa Nova, sendo velho? O cristão tem cheiro de vida, não de morte. Seu rosto irradia ressurreição. “Há cristãos que parecem ter escolhido viver uma Quaresma sem Páscoa” (EG, n. 6). O sorriso do cristão ungido contagia porque vem do profundo do coração. O cristão possui um “coração sem fronteiras”, como afirmara São Luís Orione. 

Infelizmente, na Igreja está relativamente cheia de cristãos amorfo, isto é, sem forma cristã. Verificamos nos cristãos, muitas vezes, como aponta Raniero Cantalamessa “um ágape sem eros” (2017, p.10). São meros funcionários do Sagrado. Tais pessoas são motivadas pelos seus próprios projetos e não pelo projeto de Jesus (o Reino de Deus). O que deve mover e motivar, portanto, o cristão é o Espírito do Ressuscitado.

Como anunciar a vida se tem cristão doentes na alma, presos a seus fantasmas psíquicos? Eis o que ensina o ungido do Senhor: “Primeirear, envolver-se, acompanhar, frutificar e festejar” (EG, n. 24). A renovação pessoal e pastoral que o papa Francisco deseja só vai acontecer se houver uma consagração espiritual dos cristãos. Cada um deve partir a partir da experiência do Cristo ressuscitado.   

É o Senhor ressuscitado que nos batiza com o Fogo abrasador. “‘Não ardia o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, quando nos explicava as Escrituras?’” (Lc 24,32). O Espírito é incontrolável. Ele sopra onde quer e age silenciosamente (cf. Jo 3,8). Seus efeitos são, contudo, transformadores. Ele respeita as diferenças e as usa como meio de expressividade. Ele age em todos. “O Espírito habita na Igreja e nos corações dos fieis, como num tempo (cf. 1Cor 3,16;6,19)” (LG, n. 4). Precisamos estar atento as suas expressões.

A Igreja é rica de vivificações espirituais. Seus movimentos e, alguns bem claros, revelam a ação abrasadora do Espírito de Jesus ressuscitado. Por isso, tenhamos cuidado para não julgar as experiências do Espírito de Jesus dentro e fora da Igreja. Deus é espírito, isto quer dizer, ele é presença presentificante (Deus é onipresente). É o Espírito que primeireia. Ele nos antecede preparando os corações. “E, toda vez que o Espírito faz um homem dizer Abba, Pai!, ele o faz nascer filho de Deus” (CARRARA, 2014, p. 293). Confiemos em sua presença onipresente. É o Espírito Santo que tem a missão de cristificar todas as coisas. É ele que vai pintar a imagem de Cristo nos homens.

Se estamos movidos pela unção do Espírito de Jesus ressuscitado seremos sacramento vivificante e abrasador. Nossas mãos levarão Fogo aos confins da terra. Seremos sinal de unidade, liberdade, salvação, de vida em abundância se estivermos cheios do Espírito Santo. Santificaremos a nós mesmos e os outros como o fogo faz com o ouro. Nossa presença fará os corações arder de Amor pelo Senhor Jesus. “Permaneçam na cidade até serdes revestidos da força do Alto” (Lc 24,49). A partir daí o ser cristão já é evangelização.