18 out Paulo VI: o Papa do séc. XX será proclamado beato
Paulo VI será proclamado beato no dia 19 de outubro
Brasília: Giovanni Battista Montini (nome de batismo) e Paulo VI (nome que escolheu quando eleito à Cátedra de Pedro). O Papa que continuou e encerrou as atividades do Concílio Vaticano II, será beatificado neste próximo domingo. A causa de sua beatificação se dá por um milagre que salvou a vida de uma criança na Califórnia (EUA) com 20 semanas de gestação. No próximo domingo, fiéis do mundo todo olharão para a Praça de São Pedro e acompanharão a beatificação de mais um Papa que soube guiar com sabedoria e santidade a Igreja no séc. XX. A memória de Paulo VI continua viva e atual na Igreja, porque foi o Papa que soube compreender e levar adiante um modelo de Igreja que caminha sempre à frente dos tempos, dialogando com o mundo moderno. Nós orionitas nos orgulhamos com este acontecimento eclesial, porque Paulo VI conheceu Dom Orione no período de sua juventude, precisamente em 1926 no Pequeno Cotolengo de Gênova. Como Cardeal em Milão e mais tarde Papa, Paulo VI não perdia a ocasião para dizer que teve a honra de conhecer pessoalmente Dom Orione. Jamais se esqueceu de seu primeiro encontro com Dom Orione e recordava junto ao seu amigo Don Franco Costa que as palavras do Santo Fundador são sementes de vida. Paulo VI sempre quis bem à Congregação. Com cardeal em Milão visitou várias vezes o Pequeno Cotolengo Milanês. Em Tortona visitou o Santuário Nossa Senhora da Guarda e rezou no túmulo de Dom Orione. Quando foi eleito Papa, em 1963, em diversas ocasiões demonstrava o seu afeto por Dom Orione e à nossa família religiosa. Viva o nosso beato! Viva Paulo VI!
P. G.
O TESTAMENTO DE PAULO VI
No decurso da reunião da Congregação Geral dos Cardeais, na quinta-feira, dia 10, foi lido o texto das últimas vontades de Paulo VI, do qual, antes de ser publicado, se dera conhecimento aos Seus Familiares. O Testamento consiste num escrito de 30 de Junho de 1965, com dois suplementos, um de 1972 e outro de 1973, e contendo ao todo 14 páginas manuscritas. O primeiro suplemento foi acrescentado em Castel Gandolfo. Além da data, traz a indicação da hora — 16 de Setembro de 1972, 7h.30m. — e apresenta entre parêntesis, ao alto e ao lado das armas pontifícias, a indicação: “Notas complementares ao meu testamento”. O segundo, intitulado “Suplemento às minhas disposições testamentárias”, é formado de poucas linhas escritas numa única folha no dia 14 de Julho de 1973.
Algumas notas para o meu testamento
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Ámen.
1 — Fixo o olhar no mistério da morte e daquilo que a segue, à luz de Cristo, o único por quem ela é esclarecida; e por isso faço-o com humilde e serena confiança. Reparo na verdade deste mistério, que para mim sempre se reflectiu sobre a vida presente, e bendigo o vencedor da morte por haver afugentado as trevas e manifestado a luz.
Por isso diante da morte, total e definitivo desprendimento, sinto o dever de celebrar o dom, a felicidade, a beleza e o destino desta mesma fugaz existência: Senhor, agradeço-Te por me haveres chamado à vida, e ainda mais porque, fazendo-me cristão, me regeneraste e destinaste à plenitude da vida.
De igual modo sinto o dever de agradecer e de abençoar quem para mim foi transmissor dos dons da vida, os quais, da Tua parte, Senhor, me foram distribuídos: quem na vida me introduziu (oh sejam benditos os meus digníssimos Pais!), quem me educou, me quis bem, me beneficiou, me ajudou e rodeou de bons exemplos, de cuidados, de afecto, de confiança, de bondade, de afabilidade, de amizade, de fidelidade e de fineza. Olho com reconhecimento para as relações naturais e espirituais que deram origem, assistência, conforto e significado à minha humilde existência: quantos dons, quantas coisas belas e altas, quanta esperança recebi neste mundo ! Agora que a jornada acaba, e que, desta estupenda e dramática cena temporal e terrena, tudo termina e se desfaz, como agradecer-Te, ó Senhor, depois da vida natural, aquele outro dom, ainda superior, da fé e da graça, em que afinal unicamente se refugia o que resta do meu ser? Como celebrar dignamente a tua bondade, Senhor, por me ver introduzido, apenas entrei na terra, no mundo inefável da Igreja católica? como também por haver sido chamado e iniciado no Sacerdócio de Cristo? como ainda por ter experimentado a alegria e a missão de servir as almas, os irmãos, os jovens, os pobres e o povo de Deus, e a imerecida honra de ser ministro da santa Igreja, especialmente em Roma ao lado do Papa, depois em Milão como Arcebispo, sobre a cátedra, para mim demasiadamente alta e venerabilíssima, dos Santos Ambrósio e Carlos, e finalmente sobre esta, suprema, formidável e santíssima, de São Pedro? Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor.
Recebam saudação e bênção todos aqueles que encontre! na minha peregrinação terrena; os que foram meus colaboradores, conselheiros e amigos — e tantos foram, e tão bons, generosos e queridos! Benditos os que acolheram o meu ministério, que foram meus filhos e irmãos no Senhor!
Para vós, Lodovico e Francesco, irmãos de sangue e de espírito, e a vós, caríssimos, todos os da minha casa, que nada pedistes, nem de mim recebestes favores terrenos, que sempre me tendes dado exemplo de virtudes urbanas e cristãs, me compreendestes com tanta discrição e cordialidade, e sobretudo me ajudastes a procurar na vida presente o caminho para a vida futura — vá a minha paz e a minha bênção.
Entretanto, o pensamento volta-se e alarga-se em redor; bem sei que não seria feliz despedida, se não me recordasse do perdão, que devo pedir, a quantos haja ofendido e não servido, não amado suficientemente; e se não me recordasse do perdão que alguém desejasse de mim. Que a paz do Senhor esteja connosco.
E sinto que a Igreja me circunda: a Santa Igreja, una, católica e apostólica, recebe, com a minha saudação de aplauso, o meu supremo acto de amor.
Para ti, Roma, diocese de São Pedro e do Vigário de Cristo, dilectíssima para este último servo dos servos de Cristo, a minha bênção mais paternal e mais plena, para que tu, Urbe do Orbe, sejas sempre consciente da tua misteriosa vocação, e quer com as virtudes humanas, quer com a fé cristã, saibas corresponder, por longa que seja a história do mundo, à tua espiritual e universal missão.
E para Vós todos, Venerados Irmãos no Episcopado, a minha cordial e reverente saudação; estou convosco na única fé, na mesma caridade, no comum empenho apostólico, no solidário serviço do Evangelho, para a edificação da Igreja de Cristo e para a salvação da humanidade inteira. Para todos os Sacerdotes, para os Religiosos e Religiosas, para os Alunos dos nossos Seminários, para os Católicos fiéis e militantes, para os jovens, para os que sofrem, para os pobres, para os que procuram a verdade e a justiça, para todos, a bênção do Papa que morre.
E assim, com particular reverência e reconhecimento aos Senhores Cardeais e a toda a Cúria romana: diante de vós que me rodeais mais de perto, professo solenemente a nossa Fé, declaro a nossa Esperança, celebro a Caridade que não morre, aceitando humildemente da vontade divina a morte, a mim destinada, invocando a grande misericórdia do Senhor, implorando a clemente intercessão de Maria Santíssima, dos Anjos e dos Santos, e recomendando a minha alma ao sufrágio dos bons.
2 — Nomeio a Santa Sé meu herdeiro universal: obrigam-me a isto o dever, a gratidão, o amor. Exceptuo as disposições abaixo indicadas:
3 — Seja executor testamentário o meu Secretário particular. Haverá por bem aconselhar-se com a Secretaria de Estado e pôr-se de acordo com as normas jurídicas vigentes e com os bons usos eclesiásticos.
4 — Acerca das coisas deste mundo: proponho-me morrer pobre e simplificar assim toda a questão a este propósito.
Quanto a coisas móveis e imóveis de minha propriedade pessoal, que ainda tenha de proveniência familiar, delas disponham os meus Irmãos Lodovico e Francesco livremente; peço-lhes alguns sufrágios pela minha alma e pelas dos nossos Defuntos. Queiram dar algumas esmolas a pessoas necessitadas ou a obras boas. Conservem para si e dêem a quem merece e deseja alguma, recordação das coisas ou dos objectos religiosos ou dos livros que me pertencem. Destruam notas, cadernos, correspondência e escritos meus pessoais.
Das outras coisas que se podem dizer minhas próprias: disponha, como executor testamentário, o meu Secretário particular, conservando algumas recordações para si e dando às pessoas mais amigas alguns pequenos objectos como recordação. Agradeceria fossem destruídos manuscritos e notas de minha mão; e que da correspondência recebida, de carácter espiritual e reservado, fosse queimado tudo o que não era destinado ao conhecimento alheio.
No caso de o executor testamentário não poder ocupar-se disto, queira tomar o encargo a Secretaria de Estado.
5 — Recomendo vivamente que se façam disposições para os sufrágios convenientes e para generosas esmolas, quanto for possível.
A respeito do funeral: seja piedoso e simples. (Tire-se o catafalco agora em uso para as exéquias pontifícias, substituindo-o por estrado humilde e decoroso).
O túmulo: desejaria que fosse no interior da terra, com humilde sinal a indicar o lugar e convidar à cristã piedade. Nada de monumentos para mim.
6 — E a respeito do que mais conta, despedindo-me da cena deste mundo e encaminhando-me para o julgamento e a misericórdia de Deus: tantas coisas teria para dizer, tantas. Sobre o estado da Igreja: preste ela atenção a algumas palavras nossas, que para ela pronunciámos com gravidade e amor. Sobre o Concílio: cuide-se de o levar a boa execução e proveja-se para lhe realizar fielmente as prescrições. Sobre o Ecumenismo: continue-se a obra de nos aproximarmos dos Irmãos separados, com muita compreensão, muita paciência e grande amor; mas sem nos afastarmos da verdadeira doutrina católica. Sobre o mundo: não se julgue que é ajudá-lo adoptar-lhe os pensamentos, os costumes e os gostos, mas sim estudá-lo, ama-lo e servi-lo.
Fecho os olhos para esta terra dolorosa, dramática e magnífica, chamando uma vez mais sobre ela a divina Bondade. Abençoo ainda a todos. A Roma especialmente, a Milão e a Bréscia. Para a Terra Santa — a Terra de Jesus, aonde fui como peregrino de fé e de paz — uma saudação especial de bênção.
E para a Igreja, para a dilectíssima Igreja católica e para a humanidade inteira, a minha bênção apostólica.
Por fim: nas Tuas mãos, Senhor, entrego o meu espírito.
Eu: Paulo PP. VI.
Dado em Roma, junto de São Pedro, aos 30 de Junho de 1965, ano III do nosso Pontificado.
Notas complementares ao meu testamento
Nas tuas mãos, Senhor, entrego o meu espírito.
A minha alma louva o Senhor. Maria!
Creio. Espero, Amo. Em Cristo.
Agradeço reconhecido a quantos me fizeram bem.
Peço perdão a quantos eu não tenha feito bem. A todos dou a paz no Senhor.
Saúdo o caríssimo Irmão Lodovico e todos os meus familiares, parentes e amigos, e quantos acolheram o meu ministério. A todos os colaboradores, o meu obrigado. À Secretaria de Estado especialmente.
Abençoo com especial caridade Bréscia, Milão, Roma e a Igreja inteira. Quão amáveis os teus tabernáculos, Senhor!
Tudo o que é meu seja pertença da Santa Sé.
Procure o meu Secretário particular, o querido D. Pasquale Macchi, determinar alguns sufrágios e alguns actos de beneficência e, entre os livros e objectos que me pertencem, destinai alguns, como recordação, para si e para as pessoas queridas.
Não desejo nenhum sepulcro especial.
Algumas orações para que Deus use comigo de misericórdia.
Esperei em Ti, Senhor. Ámen, aleluia.
Para todos a minha bênção em nome do Senhor.
PAULUS PP. VI
Castel Gandolfo, 16 de Setembro de 1972, às 7h.30m.
Aditamento às minhas disposições testamentárias
Desejo que o meu funeral seja simplicíssimo e não desejo nem túmulo especial nem qualquer monumento. Alguns sufrágios (actos de beneficência e orações).
PAULUS PP. VI
14 de Julho de 1973
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