Páscoa: Quando a Vida Vence a Morte

Páscoa: Quando a Vida Vence a Morte

Nesta Páscoa, a liturgia proclama com força: Cristo ressuscitou! Verdadeiramente ressuscitou! E essa verdade de fé, que atravessa séculos, ressoa agora em nossos corações não como uma ideia distante, mas como um consolo urgente, profundo, necessário. Porque nesta Páscoa, não celebramos apenas um acontecimento do passado, pois estamos vivendo, com lágrimas nos olhos e esperança nas mãos, a travessia pascal.

Choramos a morte do Papa Francisco. Um pastor com cheiro de ovelha, um homem da ternura, do encontro, da escuta. Ele não reinou, ele serviu. Em tempos de tanta indiferença, foi presença que acolhia, que chorava com os que choram, que caminhava com os últimos. Sua partida deixa um vazio no coração da Igreja, mas sua vida permanece como Evangelho vivo, como testemunho de um Cristo que não se impôs do alto, mas se ajoelhou para lavar os pés. Francisco foi um Papa pascal, marcou-nos com a leveza de quem viveu a cruz com fé e a ressurreição com sorriso.

O Papa Francisco não foi apenas um pontífice; foi um rosto humano de Deus no nosso tempo. Desde o momento em que apareceu na sacada da Basílica de São Pedro, pedindo a bênção do povo antes de abençoá-lo, entendemos que algo novo estava nascendo: um papa que vinha das periferias do mundo, da América Latina, e que trazia consigo o cheiro das ruas, a dor dos pobres e a espiritualidade do povo simples. Seu pontificado foi uma verdadeira revolução da ternura. Falou mais com gestos do que com decretos. Preferiu a visita a uma prisão do que a uma catedral. Escolheu os doentes, os migrantes, os descartados como seus preferidos. E, ao fazê-lo, apontava para o Cristo pobre de Nazaré, o Cristo crucificado e ressuscitado.

Francisco foi o Papa do diálogo, da fraternidade, da ecologia, da sinodalidade. Fez a Igreja sair de si mesma, ir ao encontro do mundo, das suas dores, dos seus gritos. Denunciou uma “Igreja autorreferencial” e sonhou com uma “Igreja em saída”, que fosse hospital de campanha, que sujasse os pés no caminho. Suas encíclicas e exortações são mapas para uma Igreja mais viva, mais comprometida com o Reino. E, acima de tudo, foi um homem que nos ensinou que o Evangelho não se impõe, se propõe com amor. Que a misericórdia é o nome de Deus.

Mesmo doente, fragilizado, ele seguiu sendo pastor até o fim. Suas palavras eram cada vez mais lentas, mas cada vez mais carregadas de amor. Sua figura dobrada pelo tempo era um ícone do Cristo servo, que dá a vida pelas ovelhas. Sua morte nos toca fundo, porque ele nos fez sentir que Deus não está distante. Que o Papa pode ser santo e humano. Que a fé pode ser firme e ter compaixão. Que a Igreja pode ter autoridade e ainda assim lavar os pés.

Francisco foi o Papa da Esperança. E agora, como semente lançada na terra, sua vida continuará frutificando em nós. Porque ele passou fazendo o bem e nos ensinou que a ressurreição começa aqui, quando vivemos com amor. Que ele descanse em paz… E que do céu, continue a nos abençoar com aquele sorriso simples, humilde e cheio de Deus.

E junto a essa dor universal, vivemos também perdas que tocam nossos cotidianos com a mesma força misteriosa da morte e a mesma esperança pascal.

Jorginho, nosso querido amigo, partiu quase centenário, mas com uma alma de criança. Um anjo aqui na Terra. Quantos abraços ele deu sem precisar dizer uma só palavra. Quantas vezes sua presença silenciosa nos evangelizou mais do que muitos sermões. Ele viveu o Evangelho da doçura, da paciência, da gratuidade. Agora, descansa nos braços do Pai, com o rosto iluminado pela luz da Ressurreição.

Também se foi o Senhor Elias, pai do nosso querido Padre Pedro. Um homem simples, mas de alma grandiosa. Um pai que ofertou seu filho à Igreja e isso não é pouco. É gesto de fé, de confiança, de doação. Ele viveu o mistério pascal ao pé da cruz, como Maria: ofertando, sofrendo, mas confiando. E agora contempla, face a face, Aquele que é Pai de todos.

A Páscoa é esse mistério: cruz e ressurreição. Dor e luz. Morte e vida. Tudo junto, tudo misturado. Não para nos confundir, mas para nos ensinar que a vida verdadeira não é ausência de dor, mas presença do Amor que transfigura tudo. Nossos olhos estão marejados, mas nosso coração repousa na certeza, a morte não tem a última palavra. O Cristo ressuscitado nos promete um reencontro. Nos promete sentido. Nos promete eternidade.

O Papa Francisco, Jorginho e o Senhor Elias, três vidas tão distintas e tão unidas agora no mistério pascal, nos apontam para o Céu. Um céu que não é fuga, mas plenitude. Um céu onde cada lágrima será enxugada, e onde a ternura de Deus será tudo em todos.

Vivamos esta Páscoa com coragem. Não como quem foge da dor, mas como quem crê que o túmulo está vazio e que, um dia, também nós ressuscitaremos.

Aleluia. Cristo vive. E com Ele vivem os que amamos.

Quem descansem em paz os nossos irmãos!

R.I.P.

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