Para iniciar

Para
iniciar o discurso, caro jovem…

Existe, hoje, um cansaço de
palavras
. O mundo está cheio de palavras vazias, de discursos
estéreis, de vanilóquios. Preferem-se fatos concretos, verificáveis,
constatáveis. Existe, igualmente, um cansaço de pessoas-função. Referimo-nos
àquelas pessoas que dizem ou agem de um determinado modo porque devem dizer ou agir exatamente como lhes é
dito que devem, escondendo, assim, sua verdadeira
identidade atrás de uma fachada, a de sua função ou do título que esta lhes
confere. Sem isso, elas não sabem quem são. Existe, ainda, um certo tipo de
catolicismo que veio acostumando as pessoas a considerarem os homens ditos ''de
igreja'' (padres, religiosos, freiras..) como pessoas estranhas, por dizê-lo de algum modo, desencarnadas, quase como se vivessem fora da
realidade.

Quem quer que sejas tu, que estás a ler-nos, se nos conheceres, mesmo se só
superficialmente, verás em nós, Orionitas, homens não perfeitos, limitados; não
sempre coerentes com o que professamos, não sempre a transbordar de alegria e
limpidez; às vezes cansados; às vezes mais ''funcionários do sagrado'' que
profetas. É possível até mesmo que conheças, ou venhas a conhecer, algum religioso desiludido, desencorajado, frustrado.
Mas, então, ser religioso é uma ''profissão'' como qualquer outra? Afinal,
tanta gente abraça uma profissão e se desencanta com a mesma. Escolher ser religioso
é algo como escolher entre ser contador ou ser juiz? Em nossa sociedade,
secularizada e materialista, parece que a resposta seja ''sim''; para muitos,
pelo menos. Exatamente por isso, quando algum jovem decide ser religioso,
suscita inquietantes interrogativos: por quê? como? quem levou-o a isso? Mas, há, ainda perguntas
anteriores a estas: que são os religiosos? que ou quem são os religiosos Orionitas?
que fazem? como vivem?
 Poderíamos
responder com as duas palavras de Filipe a Natanael acerca do encontro com
Jesus: ''vem e vê!'' (Jo 1,46) Mas, nesse caso, esse nosso texto não teria
sentido. E tem, tanto o convite de Natanael, que te repetimos, quanto o texto;
afinal, é necessário que saibas o que vais encontrar, Assim não serás ''pego de
surpresa''.

Este texto e outros que encontras neste site são uma tentativa de dar uma
resposta às perguntas que elencamos no parágrafo precedente; uma tentativa de
explicar, por quanto possível, o que acontece no coração de alguém que, em um
determinado momento de sua existência, decide-se a entreprender uma estrada
que, para muitos, é incompreensível e impercorrível e, para outros, é
simplesmente uma fachada institucional. Trata-se de
apresentarmo-nos. E apresentar-se não é fácil. Mais difícil ainda que apresentar um indivíduo é apresentar um estilo
de vida, um ideal que, em um determinado momento de nossa experiência humana e
cristã, cativou-nos e imergiu-nos em uma aventura que, talvez, nem mesmo nós
possamos narrar com exatidão, descrever com precisão.

Queremos, porém, ser honestos contigo. Se as dificuldades da vida, a luta pela sobrevivência,
a banalidade da existência quotidiana e o não-senso do viver diário mataram em
ti a santa fantasia, o pio desejo, o religioso sonho e, com estes, a esperança;
se materializaste tudo, da inteligência ao coração, da vida ao amor, então,
pára; não continues a leitura, nem faças a dos outros textos propostos. Afinal,
um coração no qual não há esperança, um coração materializado, estagnado, frio e árido, não pode compreender o que estamos por dizer.

Se, por outro lado, em ti a esperança não morreu, se pensas que veneráveis
ideais de vida ainda têm razão de ser, que devotos sonhos têm sentido, que vale
a pena lutar por sagradas utopias, que, ainda que em algum momento te canses, é preciso buscar para encontrar e encontrar para seguir buscando, então,
prossegue. Lê. Pois, só um coração vivo de esperança e animado a uma busca
constante pode compreender-nos. Como já dito, não nos encontrarás perfeitos,
acabados. É possível que vejas gestos dissonantes das palavras de nossa
profissão religiosa e até mesmo palavras vazias. É possível que encontres religiosos-função,
que ''são'' o que fazem.

E, no entanto, apesar de nossas limitações, podes individuar em nós a força
escondida que nos faz percorrer uma via que para muitos parece impercorrível.
Esta força é a esperança. A mesma esperança que pulsa em ti, que te impulsiona
a não descansar, que te move a buscar ser mais. Ela também pulsa em nós, também
nos impulsiona a não nos conformarmos com nossas limitações, a buscar
incessantemente ir além. Portanto, se não nos encontrarás perfeitos, é certo
que nos encontrarás buscando ser o que somos, ser o que professamos, tensos
entre o ideal e a realidade, sem menosprezar esta, tendendo àquele. Não de
qualquer modo, mas, bem concretamente, na realidade de nossas vidas, que não
são tão estranhas, verás, se te aproximares de nós. Tua presença entre nós pode
fazer toda diferença, pois podes juntar-te a nós em nossa busca e, com o peso
de tua esperança viva, fazer-nos pender mais para o ideal, aproximar-nos mais
dele e transformá-lo em realidade.