Ao 7 de julho de 2003, na presença do Santo Padre João Paulo II, foi oficialmente promulgado o Decreto que reconhece um milagre atribuído à intercessão do Beato Luís Orione, fundador da Pequena Obra da Divina Providência, “pai dos pobres e benfeitor da humanidade sofredora e abandonada”, como foi definido por Pio XII, “uma genial expressão da caridade cristã”, como disse sobre ele o Papa João Paulo II na homilia da beatificação.
A HISTÓRIA DA DOENÇA
Pelo menos neste caso, pode-se dizer que Don Orione foi “profeta em sua própria terra” porque o Sr. Pierino Penacca, nascido em Momperone no dia 14 de maio de 1912 e curado milagrosamente, é da diocese de Tortona (Alessandria).
Recebi o cargo de psotulador geral da Pequena Obra da Divina Providência em 1998. Exatamente no outono daquele ano, estava no Pequeno Cotolengo de Tortona uma senhora que me apresentou o caso da cura de seu pai.
O acontecimento acontecera oito anos antes e até aquele momento tinha ficado em silêncio. Pela seriedade da pessoa que contava e pela natureza da narrativa, me pareceu que o episódio merecia atenção. O médico de família confirmou a versão e acrescentou: “Com certeza, este é um milagre”
O que tinha acontecido? Em outubro de 1990, o Senhor Pierino Penacca, residente em Momperone, diocese de Tortona, acusa a presença de sangue no expectorado da tosse. Depois de uma análise no Hospital de Alexandria, foi diagnosticado um carcinoma pulmonar. Os familaires levam as amostras para Milão, para repetir as análises no Hospital “São Rafael”, esperando por um diagnóstico menos trágicos. Porém a saúde do homem se agrava rapidamente e no final de novembro foi internado no Hospital São Rafael.
Infelizmente, as novas análises confirmam as precedentes sobre a suspeita de carcinoma. A última confirmação foi antecipada a viva-voz no dia 31 de dezembro. Quando entregam o documento escrito, os médicos decidem dar alta no dia seguinte ao senhor Penacca, uma vez que era ancião, e num estado complexo de saúde talmente deteriorado, que não poderia suportar a quimioterapia ou a radioterapia. Os médicos aconselham os familiares a evitarem um tratamento terapêutico intensivo, e permitirem ao paciente, um fumante veterano, de fumar em paz seus cigarros, para não fazê-lo sofrer inutilmente. A mensagem era clara: não há nada para ser feito. Dizem: “Contactem o médico especialista em terapia da dor, para acompanhá-lo nos seus últimos dias”,
A ciência, portanto, chega até aqui, naquela tarde de 31 de dezembro de 1990, no São Rafael. Como foi dito, a resposta definitiva das novas análises foram antecipadas pessoalmente, na tarde de 31 de dezembro de 1990, a Gabriella, filha do senhor Penacca. É neste momento que intervém a oração e a intercessão de Don Orione.
AS INVOCAÇÕES A DOM ORIONE
Pierino Penacca, a pessoa agraciada com o milagre, era natural de Momperone (AL), do ano 1912, na juventude tanto ele como a esposa tinham conhecido pessoalmente Don Orione. Foi um gesto espontâneo para ele e para toda a família recorrer à intercessão do beato quando ficou sabendo que tinha um tumor nos pulmões.
Eis algumas passagens do testemunho feito no dia 30 de janeiro de 1999, durante o processo de investigação na diocese de Tortona.
“Do meu estado de saúde antes de ir ao Hospital recordo somente que estava muito mal. Recordo o sangue que saía pela boca e que estava muito fraco. Também do período de internação recordo pouco; para mim, é mais fácil recordar as coisas distantes, da juventude, que aquelas recentes.Depois que voltei do hospital, comecei a me sentir bem. Também naquele ano fui para a praia, no mês de janeiro, porque nunca deixei de ir para o mar durante o inverno. Mas não recordo bem. Depois daquele ano nunca mais estive doente, de cama, não fui mais ao hospital.
Veja, eu sempre rezei a Don Orione. Recordo quando Don Orione vinha na cidade para recolher as panelas estragadas para fazer a estátua de Nossa Senhora da Guarda de Tortona. Recordo que Dom Orione me obteve a graça de não ir para a guerra. Tive uma licença para visitar minha família antes de partir para a frente de batalha. Com minha esposa fui ao Santuário de Tortona para solicitar a graça a Don Orione de não ir para a guerra. Don Orione tinha morrido há pouco tempo e seu corpo estava sepultado na cripta. Eu supliquei que me concedesse a graça de ficar próximo de casa, porque a minha família estava numa situação difícil: os meus pais eram idosos e doentes, minha esposa também não estava bem, tinha os meus filhos e mais 4 filhos do meu irmão morto alguns anos antes quando tinha apenas 37 anos. Um Major do exército de Tortona, conhecendo a minha situação, sem que eu pedisse, me colocou na contra-aérea de Tortona e assim não parti para a frente de batalha. Depois, porque sabia música, me colocaram como tocador de trombeta e assim nunca precisei usar arma de fogo e participar diretamente da guerra. Sempre tive tanta confiança em Dom Orione e invoco-o sempre. Se estou curado devo agradecer ao Senhor e a Dom Orione.
A minha saúde agora está bem boa, naturalmente como a de um idoso. Devo fazer a vaporização, tomar remédios, mas, graças a Deus ainda estou bem. Nestes últimos anos não tive doenças graves.
Dom Orione já me concedeu outras graças e me protegeu também desta doença. Eu não sei o que dizer deste fato. Devo somente agradecer ao Senhor e a Dom Orione”.
A filha Gabriella testemunhou que lhe comunicaram o resultado do segundo exame citológico na tarde de 31 de dezembro de 1990:
“Quando soube o resultado dos exames sobre a doença do papai, naquela tarde, por volta das 6 horas (do dia31.12.1990), fiquei muito sentida. Depois da janta, papai se adormentou e eu desci até a Capela do Hospital São Rafael. Tinha comigo uma relíquia de Don Orione, segurava-a na minha mão, apertava-a muito forte. Ali na capela pensei no Papai… E pedi: Don Orione, diga a Deus de deixar ainda o meu pai! Naquela noite, rezei e falei com Don Orione enquanto apertava forte, quase a me fazer mal, uma relíquia de Don Orione… Depois da oração, após aquele momento de aflição interior, improvisamente senti uma grande quietude que sabia que não era minha. Preparei-me para fazer uma encenação de festa de fim de ano e, de acordo com a enfermeira, fui passando pelos quartos da enfermaria desejando votos de feliz ano novo e oferecendo doces e bebida aos pacientes. Sentia-me contente e serena porque tinha colocado o Papai em boas mãos.
A outra filha, Isaura, sabendo a triste notícia…
Quando Gabriella me comunicou o resultado do exame feito no São Rafael, no último mês do ano 1990… no dia seguinte fui até o santuário de Nossa Senhora da Guarda, em Tortona, e aproximei-me do corpo de Don Orione, girando em volta da sua urna, e lhe fiz uma súplica: Sei que papai está muito mal de saúde; Don Orione, se podes, pede ao Senhor que deixe o papai ainda um pouco conosco. Todos nós sempre tivemos muita confiança e familiaridade com Don Orione, seguindo o exemplo do papai e da mamãe.
O filho Fiorenzo
Minha irmã pedia-me para rezar a Don Orione, referindo-se ao fato que sou ex-aluno de Don Orione… Don Orione é o meu “defensor” há muito tempo… invoco-o todos os dias. E certamente pedi pela saúde do papai.
Uma intensa cruzada de orações dirigidas a Don Orione se moveu em favor do enfermo, bem conhecido e querido no ambiente orionita: rezaram os familiares, alguns sacerdotes orionitas (Angelo Pellizzari, Giuseppe Sorani, Angelo Moro) e também os internos do Pequeno Cotolengo de Seregno que o Sr. Penacca costumava ajudar, acompanhados pelo enfermeiro Ennio Moneghini, que narrou:
“Todos juntos queríamos obter esta graça. Tínhamos algumas relíquias de Dom Orione com as quais rezamos… Tínhamos rezado muito, também com os jovens internos do Pequeno Cotolengo. E depois me veio uma certeza: pode ficar tranqüilo tudo andará bem”.
A CURA
Diante dos prognósticos preocupantes e considerando a idade avançada do paciente, já em grave estado de enfraquecimento, no Hospital São Rafael não foi considerada oportuna e nem mesmo possível a prescrição de uma terapia específica de quimioterapia ou radioterapia. Recebeu alta hospitalar um dia depois da confirmação do relatório que confirmava a presença do tumor, sem tratamentos específicos, deixando-o ao seu destino. Os médicos somente recomendaram aos familiares de entrar em contato com um especialista em terapia de dor para aliviar o sofrimento dos seus últimos dias. Mas isso não foi necessário.
“O estado de saúde do papai melhorou bem e rapidamente”, afirmaram unanimemente os filhos Fiorenzo, Gabriella e Isaura. Totalmente curado. Estava tao bem que aos 15 de janeiro poude viajar e ir ate perto de Sanremo para tratar da Asma como fazia todo ano. Não tivemos mais diagnósticos clínicos ou manifestações que de algum modo indicassem a existência do tumor no pulmão. Pierino Penacca retomou a sua vida de sempre: trabalhava na horta, podava, fazia algum trabalho de carpinteiro, serrava madeira, tocava sanfona. Conservou-se bem, até poucos meses antes da sua morte, ocorrida no dia 2 de abril de 2001, com 89 anos de idade, por causas diferentes do tumor.
Foi o Dr. Francesco Misenti, médico da família, quem suspeitou cientificamente do que aconteceu. Os familiares, que mantiveram a devida reserva sobre a prodigiosa cura, tinham uma explicação e testemunharam tal cura, primeiro ao Postulador de Don Orione, P. Flávio Peloso, e depois diante do tribunal eclesiástico presidido pelo Bispo de Tortona, Dom Martino Canessa.
O EXAME CANÔNICO DO MILAGRE
Como a pessoa curada era originária da Diocese de Tortona, a pesquisa diocesana foi instruída junto à aquela Sede, e teve como presidente do Tribunal diocesano, o próprio bispo, Dom Martino Canessa.
A investigação diocesana foi realizada em Tortona de 4 de janeiro a 12 de março de 1999. Foram ouvidas 9 testemunhas relacionadas, foram recolhidos documentos e provas clínicas sobre o caso. Depois todo o material foi transmitido à Congregação vaticana para as Causas dos Santos para um meticuloso estudo do ponto de vista científico e teológico.
No dia 14 de maio de 1999, o exame da Congregação para a Causa dos Santos, emitiu o Decreto sobre a validadeda pesquisa diocesana. Foram solicitados os dois Juízos preliminares médico-legista ex officio (significa nomeados pela Congregação para as Causas dos Santos) ao Prof. Giandaniele Bonanni e ao Prof. Lorenzo Bonomo.
A Consulta Médica – colégio estável de médicos especialistas de grande fama, nomeados pelo Papa – se preocupou com o caso em três reuniões sucessivas. A primeira reunião ocorreu no dia 13 de abril de 2000 e, sem pronunciar-se com votação, foram pedidos “outros acertos particularmente de tipo citológico” para melhor provar a certeza do diagnóstico grave “quoad vitam”.
Na segunda fase do estudo, o Perito da Postulação Prof. Ezio Fulcheri e o Perito ex officio Prof. Arnaldo Capelli apresentaram nos seus estudos citológicos os elementos que, segundo eles, eram demonstrativos da propagação do carcinoma.
A Consulta Médica de 20 de dezembro de 2000 registrou, no entanto, dúvidas, por parte da maioria dos seus componentes sobre a absoluta certeza do diagnóstico, relativamente à propagação do carcinoma, que fosse a tal ponto de excluir toda e qualquer hipótese de explicação natural e científica.
Na continuação das pesquisas, a Postulação foram pedidos ulteriores estudos a vários especialistas, entre os quais também Fernando Carlos de Landér Schmitt, um citólogo brasileiro, professor de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade de Porto (Portugal), e os Profs. Francisco Sartori e Paulo Boccato, da Universidade de Pádua. A partir do exame citológico deste último – documentado fotograficamente – veio o descoberto que eliminou toda dúvida de interpretação diagnóstica. Ele documentou que no caso do senhor Penacca se tratava de “carcinoma indiferenciado de grandes células” com alta e irreversível propagação.
A documentação e a avaliação do Prof. Boccato foram plenamente assumidos como válidos pelo Prof. Ezio Fulcheri, Perito da Postulação, e pelo Prof. Arnaldo Capelli, Perito da Congregação vaticana. A Consulta Médica – com os mesmos membros das reuniões precedentes – se reuniu no dia 16 de janeiro de 2003 e houve pleno acordo sobre o juízio do novo quadro diagnóstico dos relatórios. A nova documentação microscópica evidenciou a avaliação de todos os Membros da Consulta Médica. De fato, na votação conclusiva, a Consulta fixou o seu juízo nestes termos:
diagnóstico: “carcinoma pulmonar”, necrótico, em grandes células, vastamente infiltradas” (unanimidade);
prognóstico: “muito reservada quoad vitam” (unanimidade);
terapia: “inexistente” (unanimidade);
cura: “rápida, completa e duradoura, não explicável cientificamente” (unanimidade).
O Conselho Médico resumiou, de modo plenamente unânime, que a cura era “inexplicável scientificamente”, porque se tratava de um “carcinoma pulmonar, necrótico, em grandes células, vastamente escamosas” e que “a regressão espontânea, clínica e citomorfológica, de tal lesão, com uma cura rápida, completa e duradoura e uma sobrevivência do paciente, nunca submetido a terapia, por outros 12 anos, não resulta explicável em termos médicos”.
Sucessivamente, o Conselho dos Teólogos, na reunião de 4 de abril de 2003, tendo presente o parecer do Conselho médico, verificou que na seqüência de tempo entre o diagnóstico do tumor, a oração a Dom Orione e a cura existe um nexo de continuidade. Todos, por unanimidade, à pergunta se se tratava de um milagre, responderam afirmativamente.
Enfim, veio o juízo competente da Congregação dos Padres Cardeais e Bispos durante a Sessão Ordinária de 3 de junho de 2003, sendo relator-ponente Dom Andréa Erba, Bispo de Velletri. Os Padres julgaram por unanimidade que se tratava de um milagre atribuído ao beato Luís Orione.
O Papa, João Paulo II, informado da inteira questão, confirmou com o seu consentimento o juízo positivo dado pela Congregação dos Santos, dispondo que fosse preparado o Decreto sobre o mencionado milagre.
O beato Luís Orione nasceu no dia 23 de junho de 1872 em Pontecurone, na diocese de Tortona, numa família de pobres trabalhadores. O encontro com São João Bosco orientou a sua vida que, já desde clérigo, quis consagrar à educação dos jovens e às obras de caridade. Ordenado sacerdote em 1895, ampliou o seu apostolado em favor dos jovens, dos doentes, dos pobres. Fundou a Pequena Obra da Divina Providência, formada por sacerdotes, irmãos eremitas e coadjutores, e a congregação das Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade. Com fervor e múltiplas iniciativas desenvolveu o ministério sacerdotal e a sua atividade social, caritativa e educativa na Itália e também na América Latina. Em toda parte resplandece pela santidade de vida e amor à Igreja e aos Romanos Pontífices. Morreu no dia 12 de março de 1940.
O Sumo Pontífice João Paulo II beatificou-o em 26 de outubro de 1980.
Em vista da sua canonização, a Postulação da causa submeteu ao juízo desta Congregação para a Causa dos Santos a presumível cura milagrosa de Pietro Penacca, que em 1990, com a idade de 78 anos, manifestou os sintomas de uma doença pulmonar. Os exames efetuados no Hospital de Alessandria indicavam o diagnóstico de carcinoma pulmonar epidermoidal em células escamosas. Transferido para um Hospital de Milão, foi confirmado o diagnóstico precedente. Os prognósticos eram muito preocupantes e, pela idade avançada do paciente que se apresentava então já muito fraco, não foi considerada oportuna e nem mesmo possível a prescrição de qualquer terapia específica de quimioterapia ou radioterapia.
Teve alta hospitalar no dia 10 de janeiro de 1991, com o diagnóstico de carcinoma e com a previsão de poucos meses de vida. Nesta situação, humanamente desesperadora, recorreu-se ao auxílio divino por intercessão do Beato Luís Orione, invocado pelo próprio paciente, que o tinha conhecido pessoalmente, pela sua família, por alguns sacerdotes da Pequena Obra da Divina Providência e por outras pessoas. Desde os primeiros dias do mês de janeiro de 1991 o enfermo começou a melhorar e rapidamente obteve um completo restabelecimento, atribuído imediatamente à intercessão do Beato.
Sobre o caso, na Cúria de Tortona, em 1999, foi instituída uma Investigação diocesana cuja validade jurídica foi reconhecida por este Dicastério com decreto de 14 de maio do mesmo ano. O Conselho Médico reunido no dia 16 de janeiro de 2003 reconheceu que a cura foi rápida, completa, duradoura e não explicável cientificamente. No dia 14 de abril seguinte, foi realizado o Congresso Peculiar dos Consultores Teólogos e no dia 3 de junho deste ano aconteceu a Sessão Ordinária dos Padres Cardeais e Bispos, tendo sido Expositor da Causa o Ex.mo Dom André Maria Erba, bispo de Velletri-Segni.
Tendo sido apresentado posteriormente ao Santo Padre João Paulo II um relatório preciso sobre estes fatos pelo abaixo assinado Cardeal Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, Sua Santidade ratificou com a sua aprovação os votos da Congregação dos Santos, dando disposição que se preparasse o decreto sobre o mencionado milagre.
Tendo feito tudo de acordo com as normas, hoje, após a convocar o subscrito Cardeal Prefeito, o Expositor da Causa e a mim, Secretário da Sagrada Congregação, e de todos aqueles que se tem o costume de convocar, na presença de todos o Santo Padre solenemente declarou que: Deus operou um milagre, por intercessão do Beato Luís Orione, Sacerdote, Fundador da Pequena Obra da Divina Providência e da Congregação das Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade, com uma cura rápida, completa e duradoura de Pierino Penacca “de carcinoma pulmonar, necrótico, em grandes células, altamente infiltrante”.
O Pontífice estabeleceu que este decreto fosse publicado e conservado nos arquivos da Congregação para as Causas dos Santos.
Dado em Roma, em 7 de julho A.D. 2003
José Card. Saraiva Martins, Prefeito
Eduardo Novak, Secretário
O SIGNIFICADO DO RECONHECIMENTO DO MILAGRE
O reconhecimento do milagre, como acontece na tradição e na praxe da Igreja, é também um sinal de ulterior confirmação da santidade do Beato invocado. Com o Decreto promulgado abre-se a estrada da canonização de Dom Orione. O Papa, reunindo em Consistório os Cardeais, proclamará o reconhecimento de Dom Orione como “santo” da Igreja universal. Mas aqui estamos já no futuro. O Consistório é previsto para fevereiro de 2004 e a Canonização na primavera (março-maio) de 2004.
O Decreto publicado é o reconhecimento da Santa Sé a um evento extraordinário que restabeleceu a saúde a um homem, alegria a uma família, e que, por isso, assegura a confiança na Divina Providência e em Dom Orione invocado como intercessor. A Igreja reconhece os milagres exatamente para confortar a fé em Deus e nutrir a esperança dos cristãos mas também dos distantes da fé.
Tenho estudado muito a vida de Dom Orione, tenho escrito, e a divulgo porque é um bem para todos… e me senti surpreso e grato por ter tido a sorte de ajudar no reconhecimento do milagre. Tenho uma alegre paixão em tudo isso e também um certo temor de não fazer o suficiente para revelar uma tal maravilha.
Superei as minhas últimas sombras de dúvidas sobre a autenticidade do milagre, durante as pesquisas na fase diocesana. No início, eu estava um pouco crítico. Não queria fazer um “papelão”, nem desperdiçar tempo e dinheiro da Congregação.
Agora, se observo todas as pesquisas, documentos e todas as explicações minuciosas, vejo ainda mais claramente emergir aquele momento no qual a ciência não conseguiu atingir (os médicos, tinham dito aos familiares do senhor Penacca: acompanhem-no em casa, não vale a pena fazer tentativas, nem terapias) e a vida de Pierino Penacca foi retomada. Naquele átimo – tenho convicção depois de tantas provas objetivos da ciência – houve uma passagem de Deus, cuja benevolência se realizou, neste caso claramente, por Dom Orione. Falando assim, parece inacreditável. Sou testemunha de um verdadeiro milagre. Isto não poderei jamais esquecer.
Assistir, tocar uma passagem de Deus na vida é sempre um motivo de grande surpresa e suscita também um pouco de indignidade pessoal, mas depois se tem o dever de dizer “é verdade, é de fato verdadeiro”, a ponto de parecer ingenuo. Na verdadem a nossa mente inconscientemente se rebela e não quer admitir que não aconteça aquilo que sempre aconteceu; que não hajam explicações naturais ou um erro num evento em contraste com as leis da natureza. Na pesquisa sobre o milagre, a ciência fez o grande serviço de excluir um possível erro humano de diagnóstico e uma possível explicação natural da cura.
A Igreja continua a desejar que, em alguns casos, se estudem e se reconheçam os milagres. Atualmente, esta prática é constestada por muitas pessoas. Mesmo quando me atribulava para levar adiante o processo do milagre – preferia não fazê-lo, mesmo porque considero Dom Orione igualmente santo – estava, todavia, convencido que valia a pena sobretudo em nosso século, assim racionalista e exigente cientificamente, é oportuno manter tal procedimento para atingir o objetivo de apresentar um sinal de Deus, que certamente vai além da natureza. Isto fortifica a fé.
A presença de Deus permeia a vida e a história até a fundir-se com essa: o máximo de riconhecimento e o máximo também de ocultamento (pensemos na encarnação do Filho de Deus). Para isto, a fé é fácil (Deus se manifesta nos fatos) mas pode também parecer impossível a alguém (Deus se esconde nos fatos). O milagre – este é o seu valor! – rompe a ordinária revelação-ocultamento da Providência de Deus na natureza e no curso dos eventos e por isto se torna um sinal extraordinário que a revela. Pelo Evangelho, sabemos que os milagres de Jesus eram sinais cuja finalidade era abrir à fé, de fazer reconhecer Deus presente e providente.
A Igreja acolhe e cuida de cada sinal de Deus. Neste nosso caso, toma o milagre como uma confirmação de Deus sobre o julgamento humano a propósito da santidade de Dom Orione. Nós devemos oferecer a Deus igualmente a nossa fé, olhando para Jesus Cristo, morto e ressuscitado, porém às vezes, ter algum sinal como estes, ajuda a nossa fraqueza humana.