A criança e o homem de branco

A criança e o homem de branco

…..A CRIANÇA E O HOMEM  DE BRANCO

a perenidade de pequenos momentos…..

 

Era mesmo um espetáculo emocionante. Você já deve ter visto uma revoada de pássaros no entardecer. Se viu, fica fácil imaginar a cena. Basta multiplicar aquela infinidade de pássaros por vários milhares, centenas de milhares.

Francisco, o papa,  todo sorrisos, todo bondade como aquele  outro Francisco, o santo,  estava para passar diante de nossos olhos, na grande avenida. Grande avenida, que ficou pequena para a grande multidão.

A mãe com a criança ao nosso lado era um detalhe a mais, no grande cenário da multidão.

– Mãe, é aquele, é aquele.

– Não, meu bem, está de branco, todo de branco, mas é mais velho.

–  Aquele outro, aquele que está vindo, mamãe.

Com a presença do Papa, até a criança ficou mais carinhosa e a mãe mais paciente.

– Não, benzinho. O Papa é mais simpático e tem um jeito de anjo.

– Anjo, ele tem asas?

A mãe não sabia o que responder. Entrou numa enrascada.  O Papa, homem como nós, não devia ter asas. E estava para aparecer diante da multidão. E o menino ia cobrar pelas asas. Com certeza, a mãe bem conhecia o menino.

– Sim, meu menino, tem asas, mas a gente não consegue ver.

Graças a Deus, a conversa foi interrompida.  A multidão de jovens correu  na direção dos nossos olhares. Ouviam-se gritos misturados: está vindo, está vindo. E o Rio de Janeiro tornou-se o palco das emoções. Aqui sim, notou-se mais uma vez que as avenidas são as maiores arquibancadas do Brasil.  Não, ainda não era o Papa. Ainda não. Mas estava para chegar.

Poucos minutos nos separavam da aparição eloquente do Papa-simplicidade, do Papa-humildade. Os helicópteros barulhentos excitavam as multidões. O Papa estava chegando num carro comum, sem tantas  formalidades (será que isso vai converter  nossas comitivas governamentais que usam grandes estruturas para irem em missão de representação a casamentos e jogos? ).

A excitação foi ficando cada vez mais elevada, emoção, abraços e lágrimas contidas. De repente,  alguém sentiu picadas nos pés. Alarmou-se e alarmou o grupo. Um inseto, um escorpião, um formigueiro? Não dava para desviar olhar, e se o Papa passasse naquele instante? Atendemos o telefone. Era o Murilo da Jovem Pan. Depois o Ivan. Queriam notícias. Não demos notícias. Muito mais, descrevemos emoções.

Chegou o momento. Maravilha. Sorridente, espetacular nos gestos. Um homem simples, carregando nos ombros (e no coração) séculos de história, uma multidão de  santos, uma tradição de caridade, de cultura de serviço à humanidade: a Igreja Católica. Carrega também seus pecados e seus pedidos de perdão. E no coração? Carrega a humanidade, os fiéis.

Ficamos pensando no “momento fugaz”.   Assim se faz a vida. Pequenos acontecimentos de nossa história. Quanto nos preparamos  para o nascimento de um filho, para uma formatura, para uma festa de réveillon, para um encontro com um velho amigo. Contamos os dias, as horas, os minutos e finalmente os segundos. Como é emocionante esperar.  Depois se realiza o encontro, o momento nos eleva à felicidade. Tocamos o céu com as mãos. São apenas segundos, mas que deixam marcas. Fechamos os olhos e revivemos a cena, infinitamente.  E ficam as marcas dos momentos impressionantes que a bondade divina nos concede.  A vida é feita de pequenos momentos.

Recordo ainda a multidão, ouço os gritos de  emoção, vejo lágrimas que atravessam os rostos. Mas me recordo mesmo é do menininho, com ares vitoriosos.

– Parece o vovô, não é mamãe? Eu vi, eu vi as asas do Papa. Será que ele voa como os anjos?

  

Pe. Antônio S. Bogaz (orionita) , doutor em filosofia e teologia

Prof. João H. Hansen, doutor em ciências da religião 

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