NADA DE POLÍTICA

 

     ““… Em todo o evangelho de Jesus Cristo não há um só ponto, uma vírgula, onde se fala de política… Única frase que se poderia dizer que Jesus fala de política é aquela do Evangelho de hoje “Daí a César o que é de César, daí a Deus o que é de Deus”. A única frase em todo o santo Evangelho. E é uma frase tal que corta toda questão, que, como se diria em italiano, corta a cabeça do touro.

     Dois são os poderes que governam a sociedade: o poder religioso: Deus, e o que rege e governa as coisas do homem aqui na terra: o poder civil, a política. Esses dois poderes são as duas grandes rodas do carro social.

     Daí às autoridades dessa terra a honra, o respeito, a obediência, o reconhecimento, o tributo que lhes cabem. O tributo não é só a moeda, mas tudo aquilo a que o poder civil tem direito. Mas atenção: não se é sempre obrigado a obedecer a quem tem em mão o poder político. Há algumas exceções. Deve – se obedecer em tudo, desde que não se ordene contra a consciência.   Assim não se é obrigado a obedecer ao poder religioso, mas somente enquanto não se ordena, podemos fazer uma hipótese, coisas contra a consciência…

     ‘Daí a César o que é de César, daí a Deus o que é de Deus’… São palavras que nos ensinam que nós devemos retira – nos da política. Devemos deixa-la a quem compete e ficar no puro campo religioso. Com isso não quero dizer que não haja pontos de contato entre os dois campos. Mas, em geral, os padres politicamente terminam por quebrar a cabeça e reduzir seu alto, divino ministério; terminam por entregar-se à paixão do partido, abaixar – se ao nível comum cada vez mais. O que me importa dizer – vos é isto: Jesus Cristo não fez de modo algum política.

     Dom Bosco dizia: ‘A minha política é a política Pater Noster’. E queria dizer que a missão do padre é rezar. Sua missão e dever é a parte religiosa e não política. A Pátria é algo mais alto que a política…

     O padre deve estar fora de partido, fora de política. A caridade é superior a qualquer partido e não tem cor. O Padre não deve fazer política, como não deve negociar, não deve fazer permuta de compra e venda. ‘A minha casa é casa de oração’ (Lc 19,45) disse Jesus: de oração e não de política. Não façais nunca, mas nunca a política! “Não vos interesseis pelos partidos, mas ficai no puro campo religioso, que – aquilo é o que convém ao nosso estado”

(Da homilia de 16 se outubro de 1932 – Escritos 5,107s)

     ‘Daí a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. Como se dissesse: o meu cuidado é a cura das almas, dos corações de tudo o que é celeste e não de tudo o que é humano, terrestre, terreno. Vede esses cabelos brancos? Em muitos anos vi muitas mudanças de coisas e de homens também entre membros do elemento eclesiástico e compreendi, compreendi profundamente, o que nunca sentira quando estava dentro de turbilhão da rebelião política, mesmo trabalhando na Ação Católica: este não é o meio melhor para atrair as almas. Oh! quanto bem nos faziam Dom Bosco e Rua quando nos ensinavam como falar de nossa Pátria!…

     Como amaremos a Pátria? Ninguém mais do que nós amará a Pátria, porque não há maior amor a Pátria do que abraçar os pobres, recuperar os pobres, manter os pobres, evangelizar os pobres, os pequenos. Ama-se a pátria executando obras de caridade, de misericórdia tais, que bastariam para divinizar o cristianismo…

     Guardemo-nos de quem grita `Pátria! Pátria’ e depois não há honra com a vida cristã e honesta, e amanhã estaria talvez pronto a entregá – la em mãos de gente desonesta.

     Como falaremos de nossa Pátria? Falaremos dela como filhos afeiçoados e bons. Guardemos – nos de fazer política!”

 

 

(Do boa noite 04 de Julho de 1939 ano 1939, 7. p. 4)

Cl .Glenio Willian Pereira