Espírito de sacrifício e trabalho

Reza o Martirológico: “Em Cuenca, na Espanha o dia do Bispo São Julião, que distribuiu os bens aos pobres e a exemplo dos Apóstolos viveu com o trabalho das próprias mãos e, ilustre por milagres, repousava em paz.”

Esse Bispo, portanto, a exemplo dos Apóstolos, ganhava o pão com o suor de seu rosto; evangelizava e trabalhava. Era como São Paulo que escreveu aos seus discípulos: “Eu não vivo do vosso trabalho, mas com meu trabalho ganho o meu sustento, trabalhando de noite para dedicar à pregação o meu dia”! O trabalho é, pois, tão importante, é a lei de vida da humanidade, desde quando Deus marcou para o primeiro homem: “comerás o pão do suor do seu rosto.”

Nós temos que voltar a trabalhar e à fadiga, se quisermos que a Congregação viva e prospere. Voltemos aos Apóstolos que trabalhavam para ganhar seu pão e tinham o mundo inteiro para evangelizar. Façamos como São Julião que trabalhava com as próprias mãos a exemplo dos Apóstolos. Voltemos também nós ao trabalho, exatamente ao trabalho manual que disciplina as paixões do corpo e disciplina também as tendências do espírito. Voltemos ao trabalho, ganhando nosso pão com o suor do nosso rosto.

Nossa Congregação deve orientar-se nesse sentido; cada um de nós ganhe seu pão com o trabalho de suas mãos, para que ninguém de nós se trone aquele “padrezinho patrão”, para não trair o Evangelho e o espírito do Senhor.

Trabalhar, trabalhar, trabalhar, como os Apóstolos, seguindo os exemplos deles!

São Julião era Bispo, e trabalhava a exemplo dos Apóstolos; trabalhara para Ter com que dar ajuda e esmolas e para ter o seu sustento. Isso demostra que ser sacerdote não dispensa ninguém do trabalho, repito, como os Apóstolos, que não eram de peso para os fiéis, mas ganhavam seu sustento com seu próprio trabalho… Eles não queriam pesar sobre os fiéis! Aí se entende a eficácia de sua pregação e de suas palavras, a ajuda e a graça de Deus.

Preparemo-nos, pois, para trabalhar, se queremos manter o espírito de nossa Congregação, à imitação dos Apóstolos. Eles poderiam dizer: “Mas temos o mundo inteiro para Evangelizar, temos que batizar, confessar, celebrar Eucaristia…” Nada disso: dobravam a espinha, trabalhavam, suavam: “com o suor do eu rosto comerás o pão!” Ganhavam seu sustento, com as próprias mãos…” E que satisfação poder dizer: este pão que eu como, com minhas mãos e meu trabalho ganhei!” Eles trabalharam, trabalharam…

Também São Francisco e de seus frades e de frei Egídio, se lê que trabalhavam nos campos. O mesmo se lê do “pai dos órfãos”, São Jerônimo Emiliano, um nobre de Veneza, que ia para os campos ajudar os lavradores lá na região de Bergamo onde ele fundara os Somascos; ia lá ceifar, arar, capinar, guiar os bois junto com os lavradores… para santificar-se.

Na verdade, estamos fora do caminho certo, temos que voltar à estrada boa. A qual estrada? À dos Apóstolos. De quem aprenderam os Apóstolos? De Jesus nosso Senhor! De Jesus que trabalhou, que primeiro fez e depois ensinou.

Palavra bonita a que lemos hoje no martirológico: um Bispo que seguindo e imitando os Apóstolos, trabalhava e ganhava o pão trabalhando, e não aproveitando da pregação do Evangelho e do seu episcopado.

Eu entendo que agora, para nós que estamos fora da estrada, vai ser difícil voltar, vai custar sacrifício. Mas temos que voltar se queremos nos santificar e ser filhos da Divina Providência. Voltemos ao trabalho.

Que eficácia seria a nossa, que frutuoso o nosso apostolado, se se o povo puder ver que o padre que prega , trabalha, trabalha e prega. Que o missionário ajuda os pobres e cuida do seu sustento. Que não vive atrás dos direitos e salários paroquiais! Temos que voltar ao trabalho, o clero precisa voltar à palha, como Jesus Cristo! Se não fizermos isso o povo não vai ficar conosco! Vai acabar que terão mais razão os marxistas de Moscou do que nós de Roma!

Lembremos tudo isso, tomem nota. Só assim seremos filhos da Igreja, fadiga, trabalho, mortificação, como nos primeiros tempos da Igreja, no estilo dos Apóstolos.

Palavra de Dom Orione, no refeitório, depois da leitura do Martirológico, em 27-01-1940, Parola XII, 52ss