As escolas católicas, que no passado refletiam as melhores referências em educação, hoje resistem diante de um mundo cada vez mais competitivo com a organização de grandes conglomerados e diante das intempéries da sociedade moderna, com a proliferação do materialismo e do individualismo, que diminui a sociabilidade, tão importante para o crescimento e evolução humana em suas inter-relações.
Na Pandemia desses nossos tempos chegou-se a pensar que o coletivo iria se sobrepor às dificuldades que se evidenciaram, mas as mudanças de comportamento vieram contemplar novos e imensos desafios para toda a sociedade, o que se deu especialmente na área da Educação onde, se supõe, depois e junto à família, ser a grande instituição formadora para o futuro.
As transformações tecnológicas que chegaram para facilitar as soluções de nosso dia a dia vêm se apresentando, também, como um meio de isolar cada vez mais as pessoas. As crianças e os jovens deste século XXI já resistem em escrever, desenhar criativamente, formular textos além dos 280 caracteres (número já atualizado) do Twitter, uma Rede Social que se iniciou como meio de divulgação de informações e trocas jornalísticas e hoje, de forma surpreendente, tem como boa parte de seu público os jovens do Ensino Médio. O desafio para a escola não é apenas migrar essas ações para soluções digitais, mas ajudar nossas crianças e jovens a elaborarem o pensamento com discernimento e criatividade inovativa.
A escola Orionita, que tem como formação a pedagogia de São Luís Orione, sempre esteve adiante de seu tempo. O que podemos mostrar a partir do método criado por ele, o Sistema paterno-cristão – que define sua pedagogia a partir da educação pela razão e pelo amor, tendo a fé e a religião católica praticada-, nela o educador deve falar a linguagem da verdade com a razão, com o coração e com a fé. Assim, a escola deve ser uma família moral bem disciplinada e conduzida com muito afeto no Senhor e com muito cuidado.
A prática, contextualizada no carisma de São Luís Orione, e em todas as suas obras, é o princípio que pode levar à construção de um futuro saudável em todos os sentidos, unindo a fé, a família, a caridade, a educação e, porque não dizer, e ele já trazia a sua importância, a ecologia, na constituição de uma sociedade mais humana e integral.
“(A escola) Deve ser o lugar a se ensinar pela verdade que nutre, tendo a coerência e autenticidade como objetivos fundamentais da ação educativa”, conforme descrito no Projeto Educativo Orionino, que foi publicado em 1996, aos 70 Anos de Fundação do Colégio Divina Providência do Rio de Janeiro, no mesmo ano do centenário do Colégio São Bernardino, o primeiro colégio aberto por Dom Orione.
Assim, “é necessário que a religião envolva tudo na escola e no instituto: o ensinamento, a disciplina, a própria recreação! A religião (…) deve ser sentida constantemente e em toda parte e exercitar sua ação natural sobre a vida inteira”, já dizia.
Esse “exercitar sua ação natural sobre a vida inteira”, está no princípio e em todo o processo da pedagogia Orionina. Pois, para São Orione, a escola é a primeira obra de misericórdia, pois oferece ao mesmo tempo educação da consciência e oportunidade para inserir-se dignamente na sociedade. Nas instituições que fundou, dedicou-se à preparação dos jovens, especialmente daqueles mais necessitados, com o objetivo, também, de facilitar-lhes a inserção digna no mundo do trabalho e na Igreja, e para torná-los agentes do progresso civil e cristão.
É importante reforçar que a educação e a formação profissional da juventude foram os primeiros e, por muito tempo, os principais campos de ação de São Orione, ao longo de várias gerações. E ele não somente abriu escolas, como se tornou um grande educador.
“Caminhar à frente dos tempos, para tirar o abismo que se vai fazendo entre o povo e Deus, entre o povo e a Igreja” e, assim, poder atrair e levar os povos e a juventude à Igreja e a Cristo, repetia. Veja, na íntegra o que diz o item 38 do Projeto Educativo Orionino:
“A ela (Escola) cabe o dever de preparar gradualmente o jovem para inserir-se de modo maduro, adulto e responsável na sociedade, mediante a educação em geral, a formação espiritual e a formação profissional escolhida, levando em conta os dons e as inclinações pessoais e as exigências da comunidade. Contra as tendências modernas, que privilegiam o útil e o funcional, em vista do progresso material e técnico, tal formação exige o culto diligente das capacidades intelectuais, criativas e estéticas; o desenvolvimento da capacidade de juízo; a promoção do senso dos valores; o apoio das atitudes justas e dos comportamentos adequados; o acesso ao patrimônio cultural conquistado pelas gerações precedentes; a formação para o diálogo e a compreensão nas relações humanas.”
Foi com muita alegria que recebemos o tema da Campanha da Fraternidade (CF) de 2022, que conversa diretamente com a Educação Orionita: Fraternidade e Educação: Fala com sabedoria, ensina com amor (Cf. Pr 31,26), adotada imediatamente em nossas Instituições.
A CF 2022 foi inspirada no Pacto Educativo Global apresentado pelo Papa Francisco em 2020, no qual aponta três princípios básicos: a diversidade de época não é motivo de desunião; o que realmente educa são as relações e, em razão disso, é necessária uma aldeia inteira para educar uma criança; uma educação que prioriza a pessoa deve ser capaz de mudar as estruturas caducas e causar a verdadeira transformação no mundo.
O Papa Francisco reforça que a educação humanizada, que contribua na formação de pessoas abertas, integradas e interligadas, será ineficaz “se não se preocupar também por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza”. Por esse motivo a CF reforça o quanto “os discípulos e discípulas, marcados pelas lições aprendidas com o Mestre Jesus, testemunhavam em sua ação missionária a pedagogia do amor, do diálogo, da compaixão e do cuidado com a vida”.
São Orione, por sua vez, pautado por uma de suas maiores referências, o amigo Dom Bosco, que tinha como proposta formar “bons cristãos e honestos cidadãos”, já dizia aos jovens de sua época: “Creio nas potencialidades e na capacidade crítica de vocês. Ai do jovem que não formar uma consciência crítica!”
Temos aí, para nos inspirar, toda uma composição de ideias e ações que levam, inevitavelmente, ao número 254 da CF 2022, que diz que “A missão da Igreja é contribuir para a construção de uma nova sociedade, formando agentes com uma educação integral em todas as áreas: escola, universidades, economia, política, ciência, arte, esportes, entre outras”, uma visão presente, também, no magistério do Papa Francisco.
Retomando, ainda, a pedagogia Orionita, que parte da educação pela razão e pelo amor, tendo como base a fé e a religião católica praticada, nosso propósito é alinhar todos esses princípios em ações, proporcionando às nossas crianças e jovens uma educação integral e humana, preparando-os para tantos outros desafios que ainda virão pela frente.
Inspirem-se e inspirem, diariamente, na fala vívida de São Luís Orione à juventude, e façamos um futuro melhor, desde já!
“Olhem para dentro de vocês e busquem viver aquilo que vale a pena viver. Jesus de Nazaré ensine a vocês a crescer no amor e no bem e que sejam transformados, cada dia, em sol e luz no mundo.”
Blanche Ferreira, Leiga e
Cl. Lucas Fernandes.
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Pesquisa realizada em comemoração aos 150 anos de nascimento de São Luís Orione e dos 96 anos de fundação do Colégio Divina Providência do Rio de Janeiro.
Referências bibliográficas: Projeto Educativo Orionino e Texto-Base da Campanha da Fraternidade 2022, da CNBB.