08 mar DOM ORIONE: Como viveu o dia 8 de março de 1940, 5 dias antes da sua morte
Ainda um último dia em Tortona. À noite, o inesquecível “Boa Noite” de despedida.
Na manhã de 8 de março, mais uma vez, tudo está pronto para a partida de Dom Orione para Sanremo. Mas Dom Orione decide adiar mais um dia a viagem.
Pe. Calegari recorda: “Eu tinha já preparado o carro que estava na frente do portão da casa. Visto que Dom Orione demorava a sair do quarto, fui até lá. Pelo semblante de Pe. Bariani que estava saindo do quarto, entendi que surgiram algumas dificuldades. Entrei no quarto e encontrei Dom Orione sentado e de um jeito de quem quer tomar uma decisão inesperada, de último momento. Ao lado estava o doutor Codevilla. Todos nós, mas especialmente Pe. Bariani, tentávamos dissuadi-lo e convence-lo a partir naquela manhã, mas ele resistia. Enfim, conseguiu adiar a partida para o dia seguinte, e, num tom que não devia ser muito sério, disse textualmente assim: “Vou para Sanremo para fazer-vos contentes, mas voltarei num caixão”.
À tarde encontra os onze clérigos que receberiam no dia seguinte o diaconato: “Sentindo que as nossas forças diminuem e a vida que está indo embora, nós anciãos podemos ter tanto conforto olhando para vocês aos quais confiamos o Evangelho, a cruz, a estola, o altar, tudo…”.
No final da tarde, Zambarbieri leva para Dom Orione o Livro de Registro das Santas Missas que tinha organizado juntamente com Pe. Carradori. “Ele ficou contente, agradeceu-me e depois com um paternal sorriso, disse-mês estas textuais palavras: E assim passamos a última jornada juntos… Eu não consegui articular alguma palavra, pela comoção”, recorda Zambarbieri.
Depois da oração da noite, na Capela do Paterno, Dom Orione dá a última Boa Noite.
Inicia dizendo: “Eu vim, eu vim para dar a Boa Noite a vocês, e vim também para saudar a todos, porque, se Deus quiser, a partir de amanhã me ausentarei por algum tempo; pouco ou muito ou também para sempre, como desejará o Senhor. E ninguém, mais do que eu, sabe que a minha vida, ainda que aparentemente dada a idade, seja ainda florescente, ninguém mais do que eu sente que esta vida está presa apenas por um fio e que todos os momentos podem ser os últimos. É misericórdia do Senhor se ainda estou aqui falando para vocês. Então, vejo diante de mim e próxima a morte, nunca a vi nem a senti tão próxima como agora”.
As palavras saem tranquilas e serenas, conformadas com a Vontade de Deus. Agora querem me mandar para Sanremo, porque pensam que lá, aquelas aragens (enfático), aquele clima, aquele sol, aquele repouso possam trazer algum rejuvenescimento para aquele pouco de vida que pode existir dentro de mim. Porém, não é entre as palmas que eu quero viver! E, se pudesse exprimir um desejo, diria que não é entre as palmas que quero viver e morrer, mas entre os pobres que são Jesus Cristo! Manifesta-se “descontente por não poder assistir depois de amanhã à primeira Missa do nosso irmão que será ordenado amanhã (Pe. Pigoli)” e recorda “aquele outro nosso irmão que será também ordenado amanhã em Roma (Pe. Kisilak). Mantém no pensamento a Polônia, então de recente invadida pelas tropas nazistas: “Eu amo tanto os Poloneses! Eu tenho um amor pelos Poloneses desde a minha juventude, sempre os amei! Queiram bem a estes nossos irmãos!”.
Seguem algumas recomendações.
“Nada deve existir de mais caro a vocês que cumprir a vontade do Senhor! Também vocês sempre queiram viver na presença do Senhor; queiram fazer sempre a vontade de Deus”.
“Eu recomendo a todos de permanecer e de viver sempre humildes e pequenos aos pés da Igreja, como crianças, com plena adesão de mente, de coração e de obras, com pleno abandono aos pés dos Bispos, da Igreja! Procurem amar sempre o Senhor, caminhem na via de Deus, não desejem outra coisa que viver segundo as leis de Deus, segundo a vocação de vocês, cumprindo não somente aquilo que é a lei de Deus, os Mandamentos de Deus, mas também aqueles que são os conselhos da perfeição, os votos religiosos com os quais vocês se ligaram à Igreja e à Congregação.
Com coração de pai, Dom Orione confia os seus filhos à mãe: “A primeira grande mãe é Maria Santíssima. A segunda grande Mãe é a Igreja. A terceira, pequena mas também grande Mãe, é a nossa Congregação“.
Faz mais uma vez uma espécie de resumo daquilo que está no seu coração:“Sejam todos de Maria Santíssima! Sejam todos “coisa” da Igreja! Amem muito o Senhor! Sejam devotíssimos de Nossa Senhora! Evitem a todo custo, a custo de qualquer sacrifício, o pecado, todos os pecados”. Depois recomenda a Confissão, a Santa Comunhão para viver “na união de Cristo, para ser d’Ele, um dia, ministros não indignos”.
Enfim conclui: “Esta é uma Boa Noite toda especial, toda particular, e vocês estão percebendo… Então, adeus, queridos filhinhos! (para por um instante, inclina a cabeça apoiando-se na balaústra, comovido) Rezem por mim e eu carregarei vocês todos para o altar e rezarei por todos vocês. Boa Noite!”.
Como que por um tácito acordo ninguém se move dos bancos. Dom Orione se ajoelha e apoia a cabeça sobre os braços entrelaçados sobre o altar. Sente-se um silencio cheio de comoção. Muitos choram. Passam alguns minutos. Depois o Cônego Perduca pede um clérigo para se aproximar e pedir ao Diretor a benção para todos.
Dom Orione se levanta, recita uma “Ave Maria” e com um gesto amplo abençoa, dizendo: “Gratia, misericordia, pax, et benedictio Dei Omnipotentis: Patris et Filii et Spiritus Sancti descendat super me et super vos, et maneat semper nobiscum. Amen”.
(Publicado originalmente em italiano no site www.donorione.org; por Don Flávio Peloso)
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