13 mar DOM ORIONE: Como viveu a hora da sua morte
“Jesus, Jesus… estou indo”.
22h45: “Jesus, Jesus… estou indo”.
Dom Orione, depois de uma jornada serena, há pouco tempo tinha apagado a luz do seu quarto.
“Uns quinze minutos depois ouvi uma espécie de lamento: corri imediatamente – anotou o clérigo Modesto Schiro. Eram 22h30. Dom Orione tinha, na sua cama, dois travesseiros. Desse jeito, ao dormir, mantinha a cabeça um pouco mais alta, isto por causa do coração e da respiração. Quando se sentiu mal, acendeu a luz e se movimentou um pouco mais para cima na cama. Seu aspecto não era preocupante, mas entendi que não estava bem. Mantinha a mão esquerda no coração, e com a mão friccionava um pouco naquele lugar a camisa.
Perguntei-lhe: “Dou uma injeção, Senhor Diretor?”.
E ele: “Não, não, espera um pouco, que passa”.
Estava na cama, em silêncio. Pressionava a mão no coração, eu via que comprimia um pouco os dentes em algum momento. Notava-se que o mal era forte, ainda que os sinais externos não fossem muito evidentes como em outras crises. Eu estava ali, olhando, sem tocá-lo, cada vez mais preocupado, vendo como se ajustavam as coisas. Tinha visto o outro ataque em Tortona que foi muito mais forte. Pensava que poderia passar.
Alguns minutos se passaram. Acreditava que pudesse mesmo ser um mal estar passageiro. Então propus: “Tome pelo menos algumas gotas de coramina!”.
“Bem, isto sim”.
Preparei imediatamente o remédio e então ele tomou: três pequenos goles, rapidamente, para consumar aquele pouco de água no copo.
Passaram-se, desde o início da crise, poucos minutos, cerca de uns quinze minutos, das 22h30 às 22h45. Visto que tinha tomado a coramina e que a crise não parecia diminuir, voltei a insistir: “Façamos também a injeção”.
Fez, a este ponto, sinal de concordância.
“Sim”, disse.
Tinha já preparado tudo. Rapidamente fiz a injeção com Resil.
Visto que tinha dificuldade em respirar, levantei-o um pouco e coloquei atrás das suas costas alguns travesseiros: em seguida pensei em colocá-lo na poltrona ao lado da cama. Mas piorava.
Quer que eu chame Pe. Bariani?
Sim, sim.
Saí e voltando vi Dom Orione disposto a descer da cama.
Quer oxigênio?
Sim.
Enquanto tomava oxigênio, ainda na cama, chegou Pe. Bariani.
Juntos o ajudam a sentar-se na poltrona.
Dom Orione sussurra-lhe: “Um doutor”.
Pe. Bariani saiu para buscar um doutor.
A poltrona estava do lado oposto à escrivaninha, perto da janela. Eu mantinha meu braço direito em volta das suas costas e ele apoiava em mim a sua cabeça; estava morrendo.
No entanto, pela agitação, também as Irmãs se deram conta que algo de grave estava acontecendo. Ir. Maria Rosária, a superiora, pensando que poderiam precisar de alguma coisa apareceu na porta de comunicação entre o meu quarto e o quarto de Dom Orione. Ele fez o gesto para que ela não entrasse. A Irmã saiu.
Suava. Envolvi o seu corpo numa coberta, uma echarpe de cor preta nos ombros. Quando vi que Dom Orione estava mesmo morrendo, fiz um sinal para Ir. Maria do Rosário, que eu percebia quase como uma sombra atrás da porta, para entrar. Ela entrou, mas sem deixar-se ser vista por Dom Orione, colocou-se atrás de mim, ficando ao lado da poltrona, e com o braço direito circundava as costas do corpo de Dom Orione, o qual se abandonava sobre o meu peito e contra o meu rosto.
Dom Orione, com os olhos voltados para o céu, sussurrou “Jesus, Jesus”, uma primeira vez, e ainda “Jesus, Jesus”, e depois “Estou indo”.
Levantou os olhos para mim, com um olhar que jamais esquecerei. Não tinha nenhum sinal de perturbação, mas uma grande serenidade.
Depois, pela terceira vez, levantando mais uma vez o olhar, sem cansaço na respiração, sem afano, repetiu: “Estou indo… Jesus! Jesus!” e reclinou a cabeça sobre os meus ombros”.
São 22h45 do dia 12 de março de 1940.
(Publicado or iginalmente em italiano no site www.donorione.org; por Don Flávio Peloso)
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