Araguaína – Cidade Orionita


ARAGUAÍNA ORIONITA

 

Por ANGELO BRUNO

 

História
da grande saga dos filhos e filhas de Dom Orione que ajudaram na construção de
Araguaína.

 

São Luis Orione desde mocinho no oratório
de São João Bosco em Turim, ao ouvir as peripécias dos missionários salesianos,
sentiu-se incendiar de zelo apostólico e desejo de levar a mensagem de Jesus a
quem vivia sem a presença de um sacerdote por anos a fio.

 

Quando jovem seminarista em Tortona foi
obrigado a fechar o oratório, no sonho-visão em que Nossa Senhora
lhe apareceu, mostrando, debaixo de seu manto azul, a imensa multidão de
família, entre esses havia certamente também os sertanejos e os autóctones
deste Norte Goiano, hoje Tocantins.

 

Já sacerdote, cheio de entusiasmo e de
ardor, pede ao Papa Pio X, a bênção para vir em América, o Santo Padre
responde-lhe que a sua Patagônia estava às portas de Roma, e confia-lhe o
pastoreio da parte da cidade eterna onde hoje situa-se a paróquia de todos os
santos.

 

Mas o apelo de além mar cada dia tomava-se
mais insistente e finalmente o Sumo Pontífice concede-lhe a bênção, pode assim
enviar os primeiros filhos missionários. Começa então a grande aventura de
tantos . humildes religiosos que na extrema pobreza se mantém fieis a mensagem
do paiLuisOrione.

 

Realizando
o sonho do Pai

 

Em 1947, faleceu em Tocantinópolis o
lendário Pe. João da Boa Vista, líder espiritual e político de todo o então
Norte Goiano. O jovem bispo de Porto Nacional, Dom Alano, que, recém chegado ao
Brasil cumpria o seu ministério sacerdotal na arquidiocese do Rio de Janeiro,
onde pode conhecer os padres de Dom Orione com aquele abnegado espírito
apostólico que os caracteriza, então os anima a assumirem a futura prelazia de
Tocantinópolis.

 

Inicia assim no alvorecer de 1952 a saga dos “Filhos
da Divina Providência” neste então, Norte de Goiás, hoje o jovem Estado do
Tocantins. Os primeiros três foram: “Pe. Egídio Addobati, Pe. André Alice
e o irmão José Serra.” Dois deles foram tragados pelas águas caudalosas do
rio Tocantins. A mãe não se deixou abater, pois enviou logo uma segunda
expedição de jovens ansiosos para substituir os confrades que tão
prematuramente foram ceifados pelas águasfuriosas.

 

O primeiro dessa leva foi o padre Quinto
Toníni, nascido em Rímini em 1922. Autêntico romanholo, tem o sangue quente
como todos os seus concidadãos. Cursou simultaneamente teologia e enfermagem
com assistência em sala de cirurgia na cidade de Gênova, assim pode no futuro
realizar a grande façanha de preparar as “Samaritanas Socorristas”
que tanto bem fizeram neste vasto rincão, então, tão abandonado.

 

Pelo diretor da missão, Pe. André Alice,
Pe. Toníni foi nomeado pároco de Filadélfia, cidade a quem pertencia o povoado
de Araguaína. Nós tivemos assim a sorte de conhecer o primeiro Orionita no
ardoroso romanholo. O senhor bispo que ainda era o responsável pelo Norte de Goiás,
quis acompanhar pessoalmente Pe. Toníni nesse início de Apostolado em
Filadélfia. “Faziam vida em comunidade. Ao superior eclesiástico competia
apresentar diretivas claras, que colocassem a nova missão sobre bases sólidas e
definitivas. Rezavam, comiam, administravam os sacramentos juntos. Juntos
viajavam, visitavam asfamílias, iam ao rio, confortavam os doentes.”
(Toníni, Dom Orione entre diamantes e cristais , p. 31)

 

Pe. Quinto confidenciou a um amigo:
“Se eu pude resistir bem com saúde, ambientar-me com rapidez, despertar o
entusiasmo do povo, interessá-lo pela religião também como necessidade social.
Se pude suscitar vocações, devo isso a paciência, a bondade, a experiência do
santo bispo, que a nossa missão jamais agradecerá suficientemente”. (Tonini,
p. 31)

 

Ouçamos o pároco declarando:
“Araguaína é uma cidadezinha exclusivamente agrícola, nascida às margens
do rio Lontra, com a chegada dos retirantes perseguidos pela seca do Nordeste.
No dia 17 de junho de 1952, o bispo chegava ali para a festa do Sagrado Coração
de Jesus e benzer a pedra fundamental do novo templo. A capela de palha não
comportava sequer um décimo dos fieis”. (Tonini, p. 29)

 

Pela manhã celebrava-se a Santa Missa, pois
que exigia-se que o jejum Eucaristias devia ser completo e abençoavam-se os
casamentos. “As duas horas da tarde o sol ainda se estendia perpendicular
no céu. O calor sufocava, na capela padrinhos e madrinhas com seus afilhados
não cabiam, usufruíam assim da escassa sombra de alguma árvore vizinha. Todos
se dispuseram em
semicírculo. Eram centro e quatro neófitos. Pe. Toníni
procurava realizar a cerimônia com a pressa, por que o choro das crianças, a
tagarelice das mulheres davam agonia. Foi providencial a presença do bispo que
habituado a semelhantes situações, em torno de uma hora terminou os batizados,
em outra hora também as crismas que superavam o número de duzentos”.
(Tonini, p. 31)

 

À noite cantavam o terço com as ladainhas
do Sagrado Coração de Jesus, enquanto o padre atendia as confissões, depois
vinha a homelía que resumia-se numa verdadeira aula de catequese em linguagem
popular, seguida pela bênção com o santíssimo. Finalmente aconteciam as
confraternizações que eram celebradas na praça da matriz, como então se
chamava. Havia a barraca do padroeiro onde aconteciam os leilões, quermesse e
várias outras atrações, enquanto ao redor pululavam várias banquinhas onde
muitos aproveitavam para ganhar mais uns trocados, pois a pobreza era gritante.

 

“No dia seguinte com um velho caminhão
retornaram a Filadélfia. O povo apertava-se em volta para o adeus. O Pe. Toníni
entusiasmado pela alegria de Araguaína, notou que todos estavam ao redor do
caminhão tristes e calados. Quando o motor acelerou, O Bispo deu a bênção aos
presentes. A maior parte dos fieis enxugava as lágrimas. Mais adiante
compreenderia. Aquelas vilas esparsas entre os bosques só se animavam por
ocasião das festividades patronais”. (Tonini, p.31)

 

Nuvens
à Vista

 

Dois meses depois quis voltar para
Araguaína, desta vez veio sozinho, esquecendo dos conselhos do sertanejo;
“Padre, não viaje jamais só, nem desarmado, no meio do mato”.
(Tonini, p.46) Quando sentiu o peso dos quilômetros passados no lombo do cavalo
e a noite que vinha chegando lembrou-se de quanto era sábio o conselho do
sertanejo; mas, graças a Deus a viagem tinha sido boa. “O alto falante
difundia à melodiosas notas de: “Mãezinha do céu”. O eco daquele
canto que expandia-se na selva escura, tão sonoro, tão nostálgico, evocava na
mente do missionário o agosto romanholo, quando os camponeses, cantando colhiam
o milho nas eiras. Havia sempre agradecimento a Deus por tê-lo feito nascer de
pais pobres. Sentia a necessidade de dizer a alguém que o coração de um
sacerdote é o coração de um pai, mas ao mesmo tempo é também o coração de um
filho. Esperava ao menos encontrar na igreja aquele bom povo que já o conhecia,
transmitir-lhes os seus sentimentos fraternos e paternos, recebendo em troca, o
reflexo do contentamento. No dia seguinte visitaria os doentes, infundindo
neles toda a sua paciência, doçura e caridade herdados de Dom
Orione”.(Tonini, p.46)

 

Chegando, encontrou a igreja vazia e no
rosto de todos uma certa frieza. O que terá acontecido? Havia um bando de
fanáticos liderados por uma beata, uma velha que profetizava a chegada da Besta
Fera e que só se salvaria quem estivesse lá no morro da velha. O povo todo
estava apavorado, até o sub­prefeito tinha ameaçado: “Ai de quem mexer na
velha”. Fizeram até uma procissão invadindo a igreja. Pe. Toníni quando
soube de toda essa história convidou o povo avisando que tinha algo a falar.
Após a janta, cantaram o terço e as ladainhas. A praça estava repleta, quase
como se estivesse no festejo do padroeiro. “Na hora da predica, o
Sacerdote colocou o farol à querosene sobre o altar. Subiu sobre uma cadeira,
de modo que o povo pudesse vê-lo contra a luz, em todos os seus movimentos.
Naquela noite precisava apelar a todos os meios para reconduzir aquele povo ao
caminho reto. A sua sombra projetava-se negra sobre aquela multidão. Com voz
calma e pacata relembrou as origens de Araguaína. O amor e devoção que aquele
povo sempre teve ao Sagrado Coração de Jesus, escolhendo-o como seu
Padroeiro”, (Tonini, p.49 )e falou e falou. Depois fez uma pausa de alguns
minutos em seguida gritou com voz aterrorizada: “Por que cuspis na face de
Cristo, da virgem, do sacerdote e andais atrás dos emissários deSatanás?”.

 

“Voltando à voz pacata alertava o povo
ingênuo de que já possuía as provas de que, naquele negócio, o demônio estava
no meio. Enganaram o Sacerdote com o intuito de enganar o povo todo. Iludindo
os encantos a venderem os seus pertences por preços irrisórios e despedi-las
pobres e miseráveis para morrerem na mata junto com a velha que os divertia com
a fábula da Besta Fera. Enfim concluiu uma vez que pode constatar que quase
todo o povo aderira a mentira, não poderei mais voltar à cidade. Preferistes a
feiticeira ao Evangelho, portanto ficai com ela, eu irei embora daqui amanhã.
Nenhum padre virá mais aqui, a menos que toda a cidade não se arrependa daquilo
que fez. Comigo neste instante sairá também a imagem do Sagrado Coração de
Jesus.”. (Tonini, p.51)

 

Tomou a imagem entre os braços e levantou-a
sobre aquele povo rezando: “Senhor, não castigues este povo em massa, por
que não é culpado. Tu conheces, Ó Senhor. Tem ainda piedade de tantas pobres
esposas abandonadas pelos seus maridos, de tantas viúvas, de tantos órfãos. Faz
com que todos reconheçam os seus erros e retornem ao teu abraço”.(Tonini,
p.52)

 

Desceu da cadeira, levando a imagem. O povo
chorando se lastimava e esconjurava. Assim o padre voltou para Filadélfia
levando consigo o Sagrado Coração de Jesus. O povo arrependido fez o abraixo
assinado e uma comitiva o levou a Filadélfia. Foi marcado o dia que o padre
devolveria a imagem do Coração de Jesus, que foi recebida em triunfo pela
população. Em cavalgada os homens foram recepcioná-lo no rio Jacuba, assim o
povo agora chorava e cantava de alegria. Desse dia em diante ninguém mais
defendeu a velha.

 

Pe.
Pacífico Mecozzi

 

O segundo Orionita que pisou em Araguaína
foi o Pe. Pacífico Mecozzi em 1955. Ele foi o primeiro pároco. No começo teve
como ajudante o irmão Macário Piastrella, um verdadeiro esteio para o
Sacerdote. O padre, para transportar muitos metros cúbicos de pedras, tinha
tomado emprestado carretas com juntas de bois e o irmão, que é também
carpinteiro, consertava as rodas que se estragavam. Além disso o Piastrella
ajudou no coberto da Escola Paroquial com as palhas de babaçu. Enfim aprontou
os bancos de assentos e as carteiras coletivas, pregando as tábuas sobre paus
enfiados no chão.

 

O Pe. Mecozzi levava uma vida heróica;
levantava cedo, recitava as matinas e as laudes, fazia a meditação diária,
celebrava a Santa Missa, depois do café, tornava-se carreteiro. Ele era o
mestre de obra, o ajudante e finalmente o real construtor da igreja. Lá pelas
cinco da tarde tomava o banho de caneca, rezava o terço e atendia aos
paroquianos.

 

Foi mais ou menos nesse tempo que o Pe.
Tonini teve uma idéia esplêndida. Lembrou-se de seu diploma de enfermeiro
conquistado em Gênova, assim poderia preparar-se ajudantes preciosos, formando
catequistas, professoras e enfermeiros para prestar os primeiros socorros. Nas
viagens pelo interior lançou a idéia por onde passava. Poderiam participar
todos que tivessem pelo menos quinze anos de idade e freqüentassem a quarta
série ou mais.

 

O programa constava de: – Religião e
matérias próprias de enfermagem; – Anatomia, Puericultura, Higiene, técnicas de
enfermagem e música. Ele “queria formar um grupo de fidelíssimos, que sob
a veste de enfermeiros pudessem também ser nomeados professores pelo Estado e
nas escolas municipais do interior”. (Tonini, p.106) Conseguia assim em
cada povoado ter um catequista de sua confiança que receberia mensalmente o seu
salário.

 

Para proteger os mais pobres ele via uma
única solução nas cooperativas idealizadas pela sociologia cristã. A noite
costumava fazer celebrações só para os homens. Ali explicava que os pobres só
poderão melhorar se souberem unir-se em associações e não forem aceitar o jogo
de quem só se interessa em mantê-los escravos. “Araguaína era um terreno
fértil para a boa semente. Foi a cidade que mais valorizou o espírito de Dom
Orione”. (Tonini, p.110)

 

O irmão Macário passou poucos meses aqui,
depois voltou para Babaçulândia. Em 1956 chegou do rio de Janeiro o irmão
Francisco, um carioca da gema acostumado a lidar com os escoteiros. Ele não
gostava de ser chamado de irmão, pois dizia que era clérigo, por isso o povo
dizia: “Irmão clero”. Era um autêntico líder nato, organizou os escoteiros
e com eles animou a nossa juventude. Por muitos anos os jovens relembraram seu
entusiasmo e a sua fé. Foi também professor na Escola Paroquial Sagrado Coração
de Jesus nos anos de 1956-1957.

 

Pe.
Giovanni Caprioli

 

Em 1958 o irmão Francisco voltou para o rio
e foi substituído pelo irmão Ângelo Bruno, um jovem entre os jovens. Logo que
chegou, o Pe. Pacífico cantou o bé-a-bá: “Não quero que te metas na
construção da igreja, o seu serviço é cuidar dos jovens e da Escola Paroquial,
fazendo isto tu me estarás ajudando muito.” Neste mesmo ano após o festejo
em junho ele viajou para Itália, o Ângelo ficou sozinho por vários meses. Dom
Tonini vinha visitá-lo para saber se não precisava de alguma coisa. No mês de
setembro, às tantas da noite chegou no caminhão de Filadélfia o Pe. Giovanni
Caprioli, o Pe. João; um homem que tinha servido como enfermeiro durante a
Segunda Guerra Mundial, por isso não era de tantos elogios, mas era de uma fé
invencível.

 

Em 1960 foi celebrar a missa no povoado do
Chichebal, onde dias antes tinha tido um arrasta pé, e dois caboclos bêbados se
estranharam e um dele, O Senhor João Goldino levara a pior, pois levou várias
facãozadas, machucando as duas mãos e uma das pernas ficou pendurada só a um
osso e a uns nervos. Os vizinhos faziam os curativos a base de borra de café e
estrume de gado.

 

Quando o Padre viu a situação, procurou por
que o prefeito não o tinha levado para Carolina; a resposta foi que a
prefeitura nãotinha verba disponível. O Pe. João indagou ainda por que nenhuma
das enfermeiras o tinha tratado? Por resposta veio que nenhuma delas teve a
coragem de enfrentar aquela situação. Mandou então que o levassem ao posto de
saúde da paróquia. Avisou a enfermeira Efigênia que o limpasse direito. A perna
já estava em gangrena, um mau cheiro insuportável. Finalmente chegou a vez dele
entrar em ação.
Lembrou-se dos tantos corpos mutilados no campo de batalha,
hoje estava em frente de mais um irmão dilacerado pelo vício do álcool.
Aplicou-lhe varias anestesias locais, esterilizou bem os ferros que iria
utilizar, amarrou bem à cama o paciente, pedindo a vários homens que o
segurassem; cortou tudo o que era possível com o bisturi, em seguida com o
serrote bem esterilizado com o fogo e com álcool, cortou o osso que pendia. O
homem gritou como um desesperado, mas ao fim sarou e ficou agradecido,
peregrinando por várias décadas pedindo esmola pelas ruas de Araguaína.

 

Padre Caprioli era um homem de uma só
palavra. Dom Comélio, que era bispo, enviou uma carta pastoral ordenando a
todos os párocos para não distribuir a comunhão aos pais que tivessem os filhos
nas escolas crentes. Ele o padre, leu a carta na igreja e avisou que iria
cumprir a ordem. Umas madames duvidaram que ele fosse capaz de excluí-las,
entraram na fila da comunhão. Dito e feito, chegando na vez delas, ele as pulou
e não deu a Hóstia Santa. Ficaram insultadas e se queixaram ao Bispo. Dom
Cornélio repreendeu o padre, alegando que ele devia ter usado bom senso. Mas
ele resmungando completou: “para mim a lei é para todos, ricos e pobres.”.

 

 

 

 

O
Ginásio Santa Cruz

 

Em 1961 o Ângelo estava lecionando para a
turma de exame de admissão, quando um aluno questionou: “Irmão, este nosso
curso é de admissão a quê, se tão cedo não vamos ter ginásio aqui?” Assim
entabulou-se um diálogo que resultou num abaixo assinado dirigido aos deputados
Estaduais de Goiânia. A semente estava jogada, os políticos de Filadélfia
tentaram minimizar, mas quando a semente é boa, ela antes ou depois vai dar
frutos.

 

Pe. Caprioli foi transferido para Xambioá,
quem veio foi o Pe. Nello Bononi que encarnava o verdadeiro espírito Orionino.
Ele carregava consigo uma sanfona que amava e dominava com maestria. Vendo
tantas necessidades do povo, ele despojou-se de tudo, até vendeu a sanfona para
socorrê-los. Por duas vezes seguidas tentou em Goiânia o vestibular de
Medicina, pensando ser este o único meio de atender a todas as necessidades de
seu rebanho. Nas duas vezes foi reprovado. Assim entrou em depressão total;
frente à incapacidade de ajudar a pobreza, se fechou no quarto como um urso
ferido sem receber ninguém. Nessa altura o irmão Ângelo foi para
Tocantinópolis, sendo substituído pelo irmão Antônio Bruno.

 

Em 1962 apareceu o Padre Remígio, um velho
guerreiro da primeira hora, em auxílio o Pe. Nello. Os tratores da Belém-Brasília
roncavam desbravando nossas matas e abrindo o futuro para Araguaína. O Prefeito
Anatólio encampou a luta dos estudantes e com a bênção de Dom Orione em 1963
começou a traçar planos para em 1964 começarem as aulas do “Ginásio Santa
Cruz”.

 

Aos trancos e barrancos, com um ardor
indomável funcionou, pois a juventude era sedenta do saber. Na Itália falecia
Dom Ângelo Zambarbieri, bispo de Guartalla, que deixou toda a sua herança para
o seu irmão Pe. José Zambarbieri, que era superior da congregação Orionita.
Este ofereceu toda a dádiva para a construção de um leprosa rio a ser erguido em nossa Araguaína. O
diretor do Ginásio, Pe. Remígio, na hora de descarregar os tijolos convidou os
alunos e as alunas ginasianos, prometendo que iria, provisoriamente, ali funcionar
as aulas, enquanto o prédio próprio não fosse levantado.

 

Igual a formiguinhas eles atenderam ao
convite e num piscar de olhos os caminhões foram descarregados. Realmente até
que não fora erguido o Ginásio Santa Cruz, as aulas foram ministradas no prédio
antigo da maternidade. O irmão Antônio tinha sido transferido e em 65 voltou o
irmão Ângelo dando mais outra parcela de contribuição. Em 66 foi a vez do Irmão
Macário retornar à sua Cafarnaum e aqui firmar as raízes, como esteio forte e
válido para o Ginásio Santa Cruz. Outros padres Orionitas que derramaram os
seus suores nesses anos em Araguaína: Pe. José Francisco, Pe. José Vicente, Pe.
Carmelo, Pe. Martins, Pe. Vitorio, Pe. Genésio Poli, Pe. Rinaldi Rodella.

 

O
Hospital e Maternidade Dom Orione

 

Enquanto o Ginásio ia de vento em popa, o
leprosário dava os seus primeiros passos, ora como abrigo de velhos, ora como
hospital, sem uma definição. 0 Pe. Rodella despendia aqui os seus melhores anos
de apostolado e só Deus é testemunha do enorme bem que ele prestou a nossa
cidade, ajudado pela sua irmã Silvana que tanto amor semeou nesse engatinhar do
Hospital.

 

Araguaína crescia dia-a-dia. As
necessidades tornavam-se mais prementes. O Ginásio tornavam-se Colégio Santa
Cruz. Vários diretores se alternaram: Irmão Macário, Pe. Luís Frison, Pe. João
Grosshols. Enquanto o hospital seguia engatinhando. Também os párocos foram se
revezando: – Pe. Morini, Pe. Pattarello, Pe. João Porfiri, Pe. Luís Frizom. Não
podemos esquecer o jovem Eurico Zardoni que veio como missionário leigo,
organizou o “CREDO”, num verdadeiro oratório festivo. E quem pode
esquecer os torneios de futebol por ele organizados? Em seguida foi para o
seminário, é hoje um dos padres que honram o nome de São Luís Orione.

 

Em 1976 pega fogo o Hospital Estadual, o
governador, Irapuam Costa Júnior pede ao Pe. Mário Scalco, responsável pelo
Hospital Orionita, que nunca tinha saído dos seus primeiros passos, para que
assumisse provisoriamente a saúde de Araguaína. Após interpelar os superiores,
Pe. Mário aceita e, deste dia em diante, o sonho de Padre Tonini tornava-se
realidade.

 

O Padre fundador ia ser elevado às glórias
dos altares, a Congregação em peso quis erguer um momento que fosse digno do
grande Apóstolo da Caridade, então resolveram construir o Hospital e
Maternidade Dom Orione de Araguaína. Reformaram a parte já existente e
edificaram a parte nova com um projeto que verdadeiramente da inveja aos
melhores do Estado. Para tanto todas as casas Orionitas de todas as partes,
onde a Congregação estende as suas asas, quiseram contribuir. Até da pobre
África vieram as ajudas. Quantas crianças renunciaram aos brinquedos para
poderem contribuir com esta obra. É maravilhoso hoje olhar as belas e
acolhedoras acomodações, mas é justo relembrar que elas são fruto de muitos que
sonharam ajudar quem realmente precisava.

 

Pe. Mário ficou diretor geral do Hospital
por anos a fio, em seguida coube ao Pe. Giovanni Grosshols, que foi substituído
pelo Pe. Ademar. É difícil avaliar todo o bem que esta obra tem realizado e
ainda hoje continua servindo ao povo; há muitos maus informados que acham que
ela navega num mar de fartura.

 

Facdo
à Frente dos Tempos

 

O Colégio Santa Cruz está hoje mais que
nunca ativo. Já foi ultimamente dirigido por: – Pe. Jarbas, Pe. Paulo Arcanjo,
e hoje pelo Pe. Francisco Alfenas. Uma grande obra está sendo aqui realizada,
com a Faculdade Católica Dom Orione. Sempre foi um dos sonhos do nosso Santo
fundador, estar a frente dos tempos.

 

Dos três sonhos que burilaram na mente de
Pe. Quinto Tonini: -Educação, Saúde, organização Social, estão hoje a educação
e a saúde completamente realizados, espera-se agora que a organização do povo
venha, pela Católica, realizada; conseguindo arregimentar e formar homens que
realmente saibam conduzir os destinos de Araguaína, levando o povo a se
organizar em cooperativas, não sendo levados como folhas ao vento sem rumo.

 

O Hospital e Maternidade nestes últimos
anos foi dirigido pelo Pe. Amilar e hoje tem como responsável o Pe. Márcio. Há
vários décadas trabalha em completa humildade o Ir. João, o anjo bom que visita
os doentes e a todos leva o conforto do seu sorriso e de sua fé.

 

 

A
Força Feminina

 

As irmãs de Dom Orione fazem-se presentes
entre nós a partir de 1964, cuidando da Escola Paroquial e outras obras caritativas.
As primeiras que trabalharam entre nós aparecem: – Irmã Gorette, Ir. Terezinha,
Ir. Maria da Paz, Ir. Claudia, Ir. Libera, Ir. Clara, Ir. Albertina e quem
poderia esquecer a ir. Alberta que orientou e ajudou por anos a fio a juventude
e a pobreza de Araguaína? Como não lembrar a irmã Eny, filha de nossa cidade e
ainda as irmã liaria, irmã Bernardete, a Ir. Linocy que hoje cuidam das
crianças nas Creches: Mãe de Deus e Perpétuo Socorro, testemunhando assim o
carinho que o Santo fundador tinha para todas as crianças mais necessitadas.

 

Criando
Paróquias

 

Com o crescimento da cidade criaram-se
outras paróquias, entre elas: -Matriz de São Sebastião, onde trabalharam como
párocos: Pe. Rômulo, Pe. Mário, Pe. Dante, Pe. Aparício, Pe. Sebastião, Pe.
Noleto, Pe. Geraldo, e Pe. Carmelo.

 

– A Matriz de São José Operário onde
pastorearam, Pe. Remígio e Pe.

José Wilson.

 

-A Paróquia do São Paulo Apóstolo onde
ficou histórico o Pe.Teófilo.

 

– Na matriz do Coração de Jesus tivemos os
párocos: Pe. Enémesio, Pe. Gilmar, Pe. Noleto que reformou a estrutura da
matriz dando-lhe uma forma bem mais utilizada e artística, tanto que Dom
Minguei Ângelo decidiu elevá-la a Santuário diocesano. Finalmente tivemos o
Padre Alidio Pinto Neto, um pastor

que conquistou todos os fiéis, mas a saúde
dele fraquejou e cedeu o lugar ao dinâmico maranhense que hoje ainda permanece
à frente do Santuário do Coração de Jesus.

 

A
Constelação Orione

 

Outras estrelas completam a constelação
Orione em Araguaína que não podemos esquecer:

 

O seminário Pe. Pattarello, que foi
dirigidos pelos Padres: – Pe. Edgar, Pe. Otaviano, Pe. Ladir, Pe. José Wilson,
e hoje o Pe. Antônio.

 

A casa Tra Noi, que tem o Pe. João
Grosshols como cabeça, mas é administrado pelas irmãs de Maria de Nazareth, e
hospeda vários doentes que não encontram outro apoio na cidade.

 

As duas Escolas Paroquiais: Sagrado Coração
de Jesus e Luís Augusto.

 

Uma estrela de primeira grandeza é a
presença do corpo do Pe. Estanislau que repousa no campo Santo da cidade. Pe.
Swiderski é um verdadeiro herói que conseguiu fugir dos campos de concentração
do Sibéria. Ele tinha prometido a Dom Orione que, se conseguisse nessa
empreitada, teria se tornado religioso da Divina Providência. Vitorioso cumpriu
a sua promessa e por décadas serviu a Igreja de Tocantinópolis e Terminou os
seus dias nos braços do povo de Araguaína.

 

Contudo, não são só estas que merecem ser
ressaltadas mas deve-se recordar que desde o inicio a congregação encontram o
terreno propício para afundar as raízes e produzirem os bons frutos que hoje
justificam o título de: Araguaína, Cidade Orionita!

 

Publicado
em : Revista São Luis Orione, 2008, n.2.

ANGELO
BRUNO, Membro da Academia de Letras de Araguaína e Norte Tocantinense, cadeira
n° 3, Professor, poeta e cronista, natural de Fossano (Itália).