Cotolengo de Caucaia

“Nada de
farolete em meio às trevas; o Pequeno Cotolengo será, isso sim, um poderoso
holofote,a espalhar luzes em todas as direções!”

Elaine (Assistente Social), Gutierrez, Pe. Pedro, Flávio, Francisco e Davi.

São palavras de nosso Santo Fundador, registradas em Tortona, no dia 4 de janeiro de 1926. Lidas hoje, 86 anos depois, no contexto da abertura de mais uma atividade no Pequeno Cotolengo de Caucaia, adquirem um tom cearense e podem ser plenamente aplicadas à nossa estrutura de caridade: o  farolete  já  iluminava  tanto,  ora  se fortalece de luminosidade e está se tornando um holofote de caridade.
Como sabemos, a principal atividade da nossa obra de caridade de Caucaia, considerando especialmente o número de assistidos, é o atendimento de 135 crianças e jovens portadores de alguma deficiência, na faixa etária entre 4 e 30 anos, em dois turnos diurnos. Em nossa Casa eles são atendidos e acompanhados por profissionais especializados: professores, fisioterapeuta, fonoaudióloga, psicopedagoga e educador físico. Pe. Pedro Júnior até precisa de uma pequena pausa para recordar todas as especialidades. Fico eu agora   com a dúvida se me disse que dispõem também de psicóloga, mas tenho certeza que não deixou de lamentar a falta de um terapeuta ocupacional. Os assistidos participam de tantos projetos, como por exemplo, o de inclusão digital, e podem contar com bons aparelhos para as diversas terapias físicas.
Todos os dias, de segunda a sexta, acontece uma algazarra festiva logo cedo e uma outra por volta das 13 horas com a chegada do ônibus escolar, cedido pela Prefeitura. O turno da manhã retorna para as suas casas antes do meio dia, o turno seguinte no final da tarde. É como uma escola, com os seus turnos diurnos de atividade, enriquecida com a presença das mães ou acompanhantes que podem aproveitar o tempo de espera para algum curso ou atividade formativa específica.
No Shopping de Caucaia, os nossos assistidos se exibiram com alegria e descontração,
 recordando Luiz Gonzaga.

É um trabalho bonito e significativo, uma referencia no município de Caucaia, especialmente no que diz respeito ao atendimento da pessoa autista. Todavia, este esquema  escolar  tem  os  seus  limites:  a  nossa  estrutura  fica  um  pouco  ociosa  no intervalo entre os dois turnos, durante a noite e especialmente nos finais de semana.
É verdade que uma outra atividade do Cotolengo funciona praticamente 24 horas por dia e sete dias por semana. Trata-se da “Casa de Passagem” que recebe por um tempo determinado pessoas em situação de vulnerabilidade social. Mas, esta Casa está constituída como uma estrutura bem delimitada no terreno do Cotolengo, com seus horários e organização próprias. Nos dias da minha visita, encontrei e saudei um casal de anciãos, ainda em fase de integração e recuperação social. Para os seus residentes, a Casa coloca à disposição a estrutura de hospedagem, simples e digna,  com  alimentação,  e  uma equipe com Assistente Social para recuperar  o  contato  com  a  família, providenciar a documentação pessoal, promover atividades que recuperem a autoestima e o bom cuidado com o próprio corpo.
É  um  verdadeiro  pronto  socorro social, de portas abertas para ajudar quem não encontra ajuda e apoio em outras  instituições.  Mas  a  atividade que está dando mais vida ao Cotolengo, transformando-o – para usar as palavras do Fundador – num “holofote de caridade” e abrindo tantas perspectivas de crescimento e de fortalecimento é o início do atendimento, em regime de internato, de assistidos carentes com deficiência múltipla. Por enquanto, são apenas quatro! E que vida dão à nossa Casa. E sem algum convenio com instituições públicas. São verdadeiros filhos da Providencia Divina, pois não são amparados por outra providencia, senão a Divina Providência!
Faz parte agora do roteiro de visita no Cotolengo conhecer os novos donos da Casa: Davi Rodrigues, Francisco Davi, Flávio José e Gutierrez. Cada um com a sua história delicada de vida e o seu jeito peculiar de demonstrar satisfação em estar ali.
Uma moradora da casa de passagem recebe os cuidados de beleza.
E as histórias? O nosso Cl. Romulo já  tem  um  “despertador vivo” todos os dias, por volta das cinco e meia da manhã. É o Gutierrez que grita na porta do quarto: “Rombo, Rombo, acoida, qué merenda!”. Já o Cl. Maciel tem que dar conta da obediência do Flavinho.
O Francisco, outro residente, se encarrega das relações públicas da casa, é sociável, recebe as pessoas, mas dizem que ninguém segura se fica nervoso. O Davi está há mais tempo conosco e agora vive mais sereno em nosso ambiente. Neste final de semana, durante a festa da nossa Paróquia do Tabapuá, marcaram presença na barraquinha que vendia os produtos personalizados do Cotolengo. De verdade, eles se sentiam donos da barraca; são agora os nossos patrões.
Na conversa com o Pe. Pedro foi inevitável tratar a questão da manutenção da Casa. Tantas atividades, tantos funcionários, alimentação, 13º chegando… Respondeu-me que a providencia sempre se antecipa. Tem o convenio, tantos  eventos e promoções,   muita    gente generosa   e bondosa, o telemarketing… “Mas tem dia – disse-me quase numa confidencia (e nem sei se ficará contente que revele isso) – tem dia que eu peço a  Deus  para  que  alguém  me  solicite  uma  Missa fora, para poder colocar os 20 reais de espórtula, como combustível, no carro.”  É assim! Os nossos confrades vivem numa pobreza digna e transparente, plena de sacrifício e de entusiasmo, desejando oferecer o melhor para as crianças e jovens.
No domingo presidi a Eucaristia. Capela  lotada,  cadeiras  do  lado  de fora. Sempre deste jeito, informaram! Durante a semana a comunidade religiosa mantém acesa a chama da espiritualidade com as   orações de costume. E não é que a questão da missa diária dos religiosos serviu também   como   argumento   para   o diretor justificar a necessidade de um tirocinante substituto do Cl. Maciel em 2013:
“Padre celebrar para um só não é bom não. Pelo menos dois para responder a missa!” Missa  dominical  com  o  povo  e  Missa  cotidiana  dos  religiosos.  Deste  modo,  as palavras de Dom Orione, as mesmas da carta citada no início se concretizam: “O Pequeno Cotolengo se firma e se baseia na Eucaristia. Não há outro jeito. Só no altar e na mesa de Deus há vida e amor para aprendermos a servir estes nossos irmãos. Só assim formaremos um só coração com nossos irmãos  os  pobres.  Não podemos nos contentar em lhes dar o pão material, mas temos que preparar-lhes a mesa do pão da Vida. E adianta coisa alguma, ter em nossa capela a Eucaristia, a secar e a envelhecer nos cibórios? Para ficarmos em Deus, temos que ir a Ele cada dia.”
É este o testamento espiritual de Dom Orione para os Cotolengos. Ele mesmo diz: “Guardem esta minha carta. Que ela seja a linha orientadora da espiritualidade dos nossos Pequenos Cotolengos.”
Se Deus quiser, o nosso Cotolengo do Ceará será  sempre mais “a cidadela de fé e de amor cristão. E a Divina Providência não lhes faltará; o Pequeno Cotolengo será a cidadela da fé e do espírito para a cidade e para a Congregação”.
E a profecia-desejo de Dom Orione vai se realizando. Prova disso foi a realização do I ENCONTRAR, organizado e preparado pela nossa Comunidade  de Caucaia (Paróquia, Filosófico e Cotolengo), que reuniu no mês de agosto uns 500 jovens no Cotolengo. Animados pelo sucesso deste grande encontro, conversamos sobre outros projetos para promover especialmente a presença e a frequência dos jovens em nossa casa de caridade: organizando momentos de voluntariado com grupos menores, acampamentos juvenis no Cotolengo e presença em momentos litúrgicos fortes como um Tríduo Pascal no   Cotolengo,   um   Domingo no Cotolengo. São atividades agora possíveis também pela presença dos nossos novos moradores.
D. Orione justifica e nos motiva: “Nada de farolete… O Pequeno   Cotolengo   deve   ser um poderoso holofote, a espalhar luzes em todas as direções.”
Padre Tarcísio Vieira
Superior provincial da província Nossa Senhora de Fátima – Brasília-DF