CRÔNICA MISSIONÁRIA – ORIONITAS EM MISSÃO “NA GRANDE TAPERA DA IGREJA AMAZÔNICA”

CRÔNICA MISSIONÁRIA – ORIONITAS EM MISSÃO “NA GRANDE TAPERA DA IGREJA AMAZÔNICA”

Relato da Experiência missionária na cidade de Novo Aripuanã (Prelazia de Borba-AM) dos clérigos estudantes de teologia: Edgar de Jesus, José Renato e Lucas Alves

Dia 2 de dezembro de 2021 partimos para a experiência missionária no Amazonas, com muitas expectativas, curiosidades e, de certa forma, medo, frente ao desconhecido, mas, acima de tudo, com imensa satisfação em contribuir para levar o carisma orionita ao Amazonas.

Ficamos hospedados no Seminário da Arquidiocese de Manaus por dois dias. Fomos muito bem acolhidos pelos seminaristas da Prelazia de Borba que nos apresentaram a cidade e com a partilha de suas histórias de vida nos ajudaram a ir compreendendo um pouco a realidade local.

No dia 4, sábado, Dom Zenildo foi ao nosso encontro e, juntos, iniciamos a jornada em direção a Novo Aripuanã, fazendo a primeira parada na cidade de Autazes, onde passamos a noite e pudemos participar da celebração dominical, antes de seguirmos viagem até a cidade de Borba, sede da Prelazia. Através dos muitos e agradáveis momentos de conversas que tivemos com o bispo, pudemos conhecer ainda mais a realidade eclesial. Ali permanecemos por dois dias e, na tarde de terça, dia 7, seguimos viagem.

Tudo era novo e nos causava encantamento, sobretudo as paisagens e a extensão do Rio Madeira, que parecia estar ainda mais agitado por causa da forte chuva. Observávamos tudo e ficávamos surpresos quando víamos uma pequena cidade, ou arraial, surgir em lugares, aparentemente inimagináveis. A realidade do garimpo ilegal nos assustou, seja pela complexidade do problema e, ao mesmo tempo, pela dificuldade dos poderes públicos em enfrentar de maneira correta a situação, priorizando, antes de tudo, os mais necessitados.

 Uma calorosa acolhida

No fim da tarde, chegamos em Novo Aripuanã. Fomos recebidos pelo Pároco Suresh, juntamente com o vigário, Pe. Ubahara (ambos indianos e Missionários de Maria Imaculada) e o diácono Sávio Colares, vigário forâneo (que muito nos ajudou nos dias em que estivemos ali). Juntavam-se a eles um grupo de paroquianos que organizaram um desfile, com carro de som, foguetes e buzinaço de motos pelas ruas da cidade para anunciar a chegada do bispo e, com ele, nós, os missionários.

O desfile teve como ponto final a comunidade Santo Antônio Maria Claret, que será a sede da futura área missionária. Muitos comunitários (expressão utilizada para enfatizar a participação efetiva de todos dentro da comunidade) estavam lá nos esperando também! Que recepção fantástica! Brilhos nos olhos, sorriso no rosto e muita alegria! Fomos queridos, antes mesmo da nossa chegada; sentimento que se transformou em certeza quando ouvimos os relatos dos vários mutirões que foram feitos nos 20 dias que antecederam a nossa chegada para organizar a casa, reformando-a e mobiliando-a para que fôssemos bem recebidos. Na nossa mente, ainda fica o refrão da música que cantaram para nos receber naquele dia: “Sou missionário, sou povo de Deus. Sou índio, caboclo, mestiço, fazendo da vida missão. Aqui nesta grande tapera da Igreja Amazônica, sou mensageiro de um Deus que é irmão!”

No dia seguinte à nossa chegada, 8 de dezembro, pudemos participar do ponto mais alto da festa da padroeira, Nossa Senhora da Conceição, em uma procissão que reuniu uma grande multidão de fiéis e foi coroada com a celebração da Santa Missa, presidida por Dom Zenildo. Tradição e devoção se uniam e nos apresentava a identidade daquela paróquia, fundamentada no amor à Mãe de Deus, manifestada na piedade popular.

Durante o mês de dezembro buscamos atender as necessidades da paróquia e, ao mesmo tempo, realizar um trabalho missionário específico nas comunidades que irão compor a nova área missionária, sendo elas: Santo Antônio Maria Claret, Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora das Graças e também de dois bairros que estão passando pelo processo de criação de suas comunidades eclesiais de base. Aos domingos, conduzíamos as celebrações da Palavra e durante os dias semanais realizávamos reuniões e formações. No entanto, a atividade mais importante do mês de dezembro foi as visitas às famílias, fundamental para que compreendêssemos a realidade eclesial local e, sobretudo, para que fizéssemos a experiência de ser Igreja com aquele povo simples e com um grande testemunho de fé.

 Uma emocionante renovação de votos

No dia 12 de janeiro, fomos tomados pela emoção e alegria ao ver o empenho de todos os comunitários na preparação da celebração da Santa Missa na qual renovamos os nossos votos religiosos. Durante a manhã, nos retiramos para um momento de espiritualidade e reflexão sobre a vida religiosa, delicadamente preparado por Dom Zenildo, que foi prontamente a Novo Aripuanã para celebrar conosco esse momento.

No cântico de entrada da celebração foi difícil conter as lágrimas ao ver a comunidade cantar o Hino de Dom Orione, parecia familiar, como se o conhecessem há muito tempo! Já no fim da celebração, mais um momento comovente: falou-se dos Quatro Amores e um jovem declamando o texto “Deus de misericórdia e de paz” entrou com o quadro de Dom Orione, que foi entregue também à comunidade.

Do dia 17 a 21 de janeiro, fizemos a visita às comunidades do interior da paróquia, no rio Mariepauá. Essa foi a nossa última tarefa missionária no Amazonas e sem dúvidas a experiência mais marcante.  O barco tornou-se a nossa casa, as redes nossas camas e após um dia de viagem chegamos à Escola Municipal Victor Civita (na comunidade Abelha), um verdadeiro “paraíso no meio da floresta”, como eles mesmos costumam dizer. Essa escola funciona de um jeito muito peculiar, primeiramente porque o ano letivo vai de janeiro a agosto – isso se justifica por ser esse o período das cheias. Após o mês de agosto o rio vai secando e dificultando, ou até mesmo impossibilitando, o tráfego de barcos. Depois, porque os alunos e professores passam quinze dias na escola com aulas no período integral e quinze dias com suas famílias. Lá fomos muito bem acolhidos pelo gestor, professores e alunos, que ficaram muito gratos pelo momento de oração que realizamos com eles.

Passamos a noite ali e antes do nascer do sol prosseguimos viagem até chegarmos na última comunidade do Rio Mariepauá. Sentimos os desafios da missão logo no início. A visita às duas primeiras comunidades foi difícil, pois nelas havia uma forte presença de igrejas evangélicas e víamos, em razão disso, algumas portas se fecharem para nós. Na noite do dia 18, sem querer que o desânimo nos dominasse, decidimos fazer a celebração da Palavra somente para nós, dentro do barco mesmo; pouco antes de iniciamos a celebração, avistamos uma canoa vinda em nossa direção e com ela o convite de uma família para que nos juntássemos a eles. Nós encontramos acolhida, rezamos e comemos com eles. Essa experiência nos encheu de energia e, dali em diante, estávamos convictos de que todo sacrifício valeria a pena, ainda que somente uma família, ou mesmo uma única pessoa nos acolhesse, pois, sem dúvida, com esses encontros nós estávamos recebendo muito mais do que ofertando.

Nesses cinco dias pelo Rio Mariepauá, visitando as comunidades ribeirinhas, pudemos realizar um verdadeiro reitor espiritual e um encontro belíssimo com Deus que pôde ser contemplado na exuberante natureza da grande floresta amazônica e, sobretudo, na vida daquelas pessoas pobres e muitos simples, mas que transbordavam amor, fé, alegria e gratidão. Como foi interessante perceber que as pessoas que menos tem são aquelas que mais agradecem!

 Um aprendizado para toda a vida

Iniciamos essa experiência missionária justamente no ano em que celebramos os 100 anos da primeira visita de São Luís Orione ao Brasil; portanto, seria difícil não se recordar da própria experiência missionária que ele fez em Mar de Espanha-MG. As palavras que ele disse ali são repetidas por nós, seus religiosos, nos dias de hoje: “E vendo a grande fé do povo abandonado, uma vez mais, prometi a Deus ser um bom sacerdote!” Desejo que nutre o nosso coração nessa caminhada em preparação para os votos solenes e ministérios ordenados que se aproximam.

Não temos dúvida de que o nosso Pai Fundador continua a interceder ardentemente pelo nosso país e agora, de maneira mais especial ainda, pelo povo de Novo Aripuanã, que logo contará com a presença dos religiosos orionitas.

 

Publicado primeiro em: Circular  nº 42 da Província Nossa Senhora de Fátima/Brasil Norte

 

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