A SOMBRA QUE PROTEGIA O SOL
Na reunião da Equipe do Dízimo, a Regina do Ângelo Zanão, quase espontaneamente, foi falando.
– Precisamos falar com a Rosária, para comprar os presentinhos de aniversário, para os dizimistas.
O Cícero da Angela, da Santa Luzia, foi dizendo.
– Boa ideia, ela sempre resolve tudo para nós. Pesquisa valores, modelos e encaminha tudo com a maior dedicação.
A Keila e a Bruna, da Comunidade Orione, que recordaram na maior tristeza.
– Meu Deus, vocês esqueceram?
Foi então que recordamos todos que a Rosária estava no paraíso.
– Estamos tão atrapalhados, precisamos de algumas coisas que a Rosária nos fazia e como vamos fazer agora?
Olhamos, enquanto o Roberto da Célia disse delicadamente:
– Olha, a Rosária vai fazer muita falta, ela cuidava de tanta coisa aqui na comunidade. Precisamos encontrar algumas pessoas para nos ajudar.
A Ângela voltou a falar:
– A partida de alguém é sempre doída, principalmente alguém que era ativa como a Rosária, que ajudava a fazer muitas coisas como a montar um livro, levar as telas para colocar molduras, ajudava nos filmes, principalmente com as célebres autorizações de imagens, participava de todas as festas.
– Além de ser a famosa secretária do Padre Bogaz – disse a Keila, meio sorrindo
Uma comunidade precisa de muitas pessoas e quando Deus leva um dos seus, temos que nos reunir e ver quem pode aprender e começar a trabalhar em algo que não fazia.
A vida nos surpreende, pois ela é totalmente frágil, estamos bem, não sabemos quando é o dia marcado para cada um, para ir para a Casa do Pai. Com a Rosária foi assim, um mal súbito e nos deixou. Pelas homenagens feitas, podemos ter certeza do quanto era querida pelas comunidades de Rio Claro e da Achiropita.
Com muito sacrifício, a Rosária fez a faculdade de Teologia e nunca deixou, também, de ir nas aulas de Teologia, para continuar aprendendo para ensinar. Não tinha preguiça de trabalhar e com seu aprendizado na área de informática aprendeu a fazer trabalhos minuciosos. Estava sempre ajudando a evangelizar. Mais triste ainda, o fato é que deixou o Pedro, o filho, sem uma grande mãe. Tinha um orgulho muito grande do filho e da nora, Dani.
Podemos lembrar da Rosária através de um conto árabe muito interessante. Um beduíno um dia parou num oásis e tinha apenas duas pequeninas árvores para dar sombra e um poço. Olhou em volta e viu que a caravana anterior tinha deixado algumas sementes no chão, jogadas. Lavou-as e plantou-as. Após isso, foi embora.
Muitos anos depois, outros beduínos pararam lá e viram um oásis cheio de árvores com tâmaras, damascos e figos. Ficaram maravilhados e aproveitaram a água, as frutas e principalmente a sombra que permitia que eles descansassem.
Um deles observou que eram árvores plantadas e não nascidas por acaso. Que alguém deveria ter feito isso e que graças a pessoa que fez, eles tinham sombra para seu descanso. Resolveram rezar por quem tinha feito isso e assim fizeram.
Assim, foi a comunidade, nem todos sabiam o trabalho que a Rosária fazia, mas todos acabaram sentindo a sombra no oásis pelo que fazia. Agradecemos a Deus pela passagem da Rosária que foi a nossa sombra no deserto.
Cada vez, descobrimos uma coisa muito importante. Quando alguém parte de nossas vidas, ou por viagem, por mudança de cidade e sobretudo por óbito, suas atividades são aos poucos resolvidas e encaminhadas. No entanto, sua ausência afetiva e espiritual fica marcada para sempre. Deste modo, devemos cuidar mais de nossos afetos que de nossos serviços. Vale mais o sentimento que as atividades. Deste modo, as múltiplas atividades que a Rosária desenvolvia, aos poucos vamos resolvendo, mas nunca, ninguém vai preencher o vazio que ela deixou. Nem precisa, não ficou vazio, pois ela continua viva em nossas memórias. É a fé, a força da fé.
Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e
Teologia Sistemática – Cristologia
Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e
Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia