HISTÓRIAS PATERNAS AS MEMÓRIAS DO PAI GUERINO

HISTÓRIAS PATERNAS

AS MEMÓRIAS DO PAI GUERINO

 

A Lucinha do Claudinho telefonou.  Ela nos contou com grande tristeza que o  senhor Guerino tinha falecido.

– Vocês não sabiam?  – perguntou espantada.

Não nos avisaram antes. É uma pena, pois gostamos muito dele.

A gente conversava muito. Ele  sempre tinha histórias para contar.

Nos veio à mente o que ele havia contado a respeito de sua vida e também a respeito de seus pais. Contava de seu pai, que se tinha tornado cego e mesmo assim fazia maravilhas. E lhe deram até nome de uma escola: Dante Egrégio.  E teve a parceria adorável da Arabella.

– Antes de tudo era franciscano. Por isso,  gostava tanto dos animais.

Percebemos claramente que cada um de nós tem uma história de seu próprio pai  para contar. E cada pai tem suas histórias. Como não podemos contar todas as histórias dos pais que conhecemos, vamos tentar contar alguns fatos do Seu Guerino, homem de grande simpatia e de fina ironia. Visitar o Guerino era um encontro com a natureza e com a fauna. E mais ainda, era encontrar a bondade e a simpatia da Arabela, irmã querida do Guerino.

Ele adorava animais. Qualquer pessoa que fosse à sua casa, certamente vai lembrar dos muitos tucanos, macaquinhos, passarinhos, tartarugas, cachorros, gatos, araras azuis, cacatua e com o aval do Ibama, lá viviam. Cremos que ele era o único na cidade que tinha este privilégio. Ele acolhia sempre algum animalzinho perdido e proibido. Era neste pequeno zoológico que todo bicho perdido iria parar. Lembrando que era ele também que pagava a conta de seus amiguinhos, que faziam de sua casa uma floresta de felicidade.

Gostava de contar sobre seu pai, que era cego. Dizia-nos que lembrava que já menino acompanhava o pai no trabalho para lhe indicar o caminho e bem cedo começou também a trabalhar. Ser criado por pai cego deu-lhe a possibilidade de contar ao pai como era a cor do mundo real e ajudá-lo a ver que não era sozinho na escuridão. Ele e suas irmãs Arabella e Valéria  eram a luz que o guiava neste caminho.

Com o tempo, apareceu um problema numa das pernas, mas nem isso o impedia de fazer o que tivesse que ser. Não parava um minuto em seu zoológico familiar, sempre cuidando de seus pequenos amiguinhos.  Sua família era o seu grande orgulho, falava com muita alegria de cada um deles. Falava sobretudo de seus filhos, Andréia , Caroline, e André, que eram a realização de suas vidas.

Lembramos que um dia paramos casualmente o carro na porta da casa dele para fazer uma visita a um doente. Ele nos viu entrar no vizinho e quando saímos ele estava lá na porta para nos levar tomar um cafezinho e visitar seus bichos.

Ao entrarmos neste habitat precisávamos ter o sentido de tempo, ou acabaríamos ficando mais do que o tempo permitia. Afinal  cada uma das histórias que relatavam os velhos tempos era um prazer enorme e nos naufragava num universo maravilhoso. Gostoso mesmo era ouvir suas histórias de grande jogador de futebol. Falava dos pernetas e dos craques. Nos seus jogos estavam os velhos amigos, o Pepino. o Eurides da Dalva, Odari, o Sebastião Contatto,  o Quico Paoli,  o Pedro da Neusa e a velha patota. 

Isso o tornava um contador de história de primeira linha, pois havia em seu mundo tantas coisas interessantes que ele fazia com que fosse interessante também para seus ouvintes.

Sua preocupação com a saúde de seus entes queridos sempre era motivo para rezar, pois com todas as qualidades era também um homem religioso e de muita paz. Isso fez com que mesmo tendo tido inúmeros problemas de saúde, vivesse o que viveu, pois ele colocava seus problemas como algo inferior e menos importante que seu eu, era importante o nós para a família.

Estamos celebrando os Pais. Todos os pais têm histórias maravilhosas para contar. Histórias de seus pais e histórias de seus filhos. Cumprimentamos todos nossos  leitores, com um abraço especial pela missão que escolheram na vida de ser pai. Sabemos que neste mundo tão conturbado, toda esquina é um perigo para nossos filhos. Nossas mentes vivem num eterno sofrer para que nada lhes aconteça. Não é uma tarefa fácil, não basta apenas criar, é necessário amar e amparar.  Nossos pais são ídolos, nossos heróis e nossos grandes guardiões.

Não podemos nos esquecer de nossos avós. No nosso romance “Recomeços surgem a cada amanhecer”, a vida faz com que o Vovô Roberto cuide de seu neto Daniel como se fosse um filho. Cuidava, protegia e corrigia. Destas histórias vêm a doçura da vida em dobro, cuidar do neto. A grande questão, quase engraçada, mas profunda é essa: qual a maior felicidade de um homem: ser pai ou ser avô?  

Como tantos pais, Seu Guerino   ensinou tantas coisas de sua experiência de pai, que revelou-se também como pai de um pequeno zoológico. Assim é ser pai: amar e proteger. Pai é quem realmente cuida. Cuidemos de nossos filhos com toda atenção. Eles cuidarão das novas gerações e a família será o jardim da felicidade. 

 

Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e

Teologia Sistemática – Cristologia

Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e

Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia