A MOÇA E O RAMALHETE DE FLORES

JULGANDO PELAS APARÊNCIAS

 

 

Paramos numa praça para esperar um casal que iria nos ajudar num trabalho. De repente pararam duas moças e uma delas disse para a outra:

– Veja aquela com as flores nas mãos.

A outra olhou e nós também, instintivamente, quase sem querer, olhamos. Tratava-se de uma moça simples, sem beleza ofuscante, com um jeito humilde de enfrentar a vida. A jovem parecia, que através da saia azul marinho e da blusa branca, queria dizer que era uma funcionária de alguma empresa muito simples. Em suas mãos um ramalhete muito bonito de rosas.

As duas continuaram a conversa:

– Deve ser vendedora de flores – disse a que olhou.

– Não, para mim, ganhou de um admirador.

– Admirador?  Não tem cara de ter admirador.

– Admirador sim, porque não? Porque está vestida com simplicidade?

– Vamos apostar. Está vendendo flores, não ganhou de ninguém.

– Vamos observar pelo seu sorriso. Se oferece a flor para alguém.

–  É, mas ela não está oferecendo para ninguém.

– Está em pé numa praça com as flores nas mãos. Deve estar esperando passar alguém para começar a vender.

Percebia-se o preconceito na conversa. Se a jovem fosse glamourosa, teria ganhado as flores, se não fosse estaria vendendo. Assim, no mundo dos preconceitos. Bem vestido, ficamos confiantes. Mal vestido, pensamos ser desonesto. E pensar que os grandes malandros da sociedade "vestem Prada", na gravata e nos colares.

O casal chegou, comentamos o que ouvimos, mostramos a moça com as flores e fomos embora.

 Na curiosidade, fizemos a seguinte pergunta:

– Vejam aquela moça na praça, com o ramalhete de flores. Está vendendo as rosas ou ganhou de algum admirador?

Enquanto fazíamos nossa reunião com o casal, ficamos pensando nesta delicada situação de julgamento. Julgamos pela aparência.

O ser humano não é capaz de ficar sem julgar as pessoas. Se está mal vestido, se está bem arrumado, se está num carrão ou numa bicicleta ou se tem flores nas mãos.

A pobre jovem julgada ali pelas duas, nos levantou o questionamento que os julgamentos são feitos aleatoriamente e não levam a nada.

Assim, como nós saímos da praça sem saber quem era aquela jovem que estava com o ramalhete de flores, assim todos na vida, deveriam sair sem saber nada de ninguém. Cada um precisa viver sua vida, sem julgar, se ela ganhou as flores, vai vender, tem namorado, é aniversário da mãe, o que nos importa isso? Nada.

Pensamos que seria uma surpresa se ela estivesse nas redes sociais, tirasse a foto e a gente a visse com o ramalhete e tivesse uma explicação, pois hoje em dia, a única coisa que não deixa de funcionar no país é isso e o whatsapp. E quando para de funcionar por alguém que resolveu ser dono do mundo e deixa as pessoas sem informação da família, dos amigos e colegas de serviços, parece que este planeta vai acabar.

Estamos nós, desta maneira, expostos a julgamento o tempo inteiro, de redes sociais e todos os meios de comunicação, além das pessoas que se julgam no direito de querer saber o que uma jovem numa praça com um ramalhete de flores está fazendo.

Ficou evidente na conversa das duas mulheres. A primeira delas acreditava que a moça tinha recebido as flores. A segunda pensava que a moça vendia flores, pois não estava vestida adequadamente. Se julgamos pela aparência, sempre pensamos que o pobre mal vestido é ladrão e passamos longe dele e se está em terno e gravata ou vestido de grife, são confiáveis. E faz bastante tempo que os maiores ladrões de nossa sociedade vestem ternos alinhados e bolsas caríssimas. Que Deus nos castigue!

Julguemos somente as flores pela sua beleza e pronto!

 

Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e

Teologia Sistemática – Cristologia

Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e

Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia