A VISITA DE LEANDRO
E depois de tantos anos, longe, nosso amigo Leandro nos avisa que vem passar a Semana Santa conosco. Nosso reencontro foi em Viracopos. Ele chegava de Porto Alegre, onde mora com sua família. Veio sozinho matar a saudade dos amigos.
– Você não mudou nada – diz um.
– Mudei, estou ficando careca – disse o Leandro, dando um sorriso maroto.
– Ficou melhor assim – disse outro.
– Mas, Padre, seus cabelos estão embranquecendo – disse Leandro.
– Um pouquinho – respondeu ele.
– E você quantos netos tem, Sr. João?
– Dois, Gabriel e Pedro.
Assim, as primeiras perguntas são sempre as mesmas, e então começa algo mágico. É como ter um fiozinho que quebrou de uma tomada, depois que você conserta, a luz se refaz, ilumina e parece que sempre foi assim. O passado se torna presente.
Recordações interessantes de todos os amigos. Refizemos a trajetória da amizade. Leandro esteve presente na ordenação, veio para um doutorado e nos momentos dos dramas. O padre fizera seu casamento e batizara seu primeiro filho. Recordações de tudo que aconteceu naquela época. A distância tornou-se mais e mais difícil. Depois a vida faz mudanças, com todos nós. Parece até um muro que colocaram entre a gente, estamos afastados e não queremos. Eis que a picareta de repente aparece e quebra tudo. Pronto, estamos novamente juntos.
– Leia este livro, você vai gostar, chama-se “Recomeços surgem a cada amanhecer’.
– Vou começar a ler, pelo menos um durante o período que estiver aqui.
– Esta é a história da amizade que sempre reacende.
– Como se diz: a amizade é como o sol, uma nuvem pode cobri-lo, mas jamais apagá-lo.
– Vamos agora para a igreja, vamos ter celebração da Semana Santa.
– Vou ter gosto em conhecer os amigos de Rio Claro. Vocês dizem que são maravilhosos.
Assim Leandro é apresentado à comunidade e faz novos amigos. Amigo de amigo, amigo é.
Fomos levá-lo para ver o Lago Azul, o Horto, as igrejas da comunidade e nossa cidade, tão bonita.
– Calor, faz muito calor, diferente de Porto Alegre que é uma cidade mais fria.
– É o calor da alma do povo.
Perguntamos dos filhos, nos conta que estão na universidade, fala-nos dos cursos que estão fazendo; por outro lado ele quer saber dos novos livros, crônicas, filmes, comentamos um pouco de tudo, nos conta sobre o pai dele, a saudade da mãe que está com Deus.
Amigos são lembrados:
– Lembra-se da Marisa? Morreu o marido dela.
– Tão jovem, o que aconteceu?
– Um acidente… e a Mirela, e o Ari e o … alegrias, surpresas, risadas e lamentos.
Uma correria em meio ao dia normal. Leandro encanta-se com as celebrações, encenações e tanta gente. E se recorda dos velhos tempos, pois recordar é viver, sempre.
O tempo passou muito rápido, nem deu para extravasar as emoções. Uma saudade do tempo que se fez adeus, dos sonhos vividos, dos sonhos esquecidos. Quando somos jovens a vida é projetada no futuro. Na maturidade temos consciência do tempo e recordações. Dizem que somos jovens quando temos muitas histórias para escrever e velhos quando temos muitas histórias para contar. Presumimos que ficamos sábios e até damos conselhos. Entre amigos, dividimos experiências.
Rever amigos e reencontrar nossos corações, que outrora bateram juntos em momentos partilhados. A vida nos joga em milhares de quilômetros de distância, e lá vem o fiozinho e religa. Passaram os dias e o levamos ao aeroporto. Despedimo-nos e prometemos nos ver novamente. Tomara que dê certo. Amigos se guardam no coração, onde não existe a distância, apenas a saudade.
Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e
Teologia Sistemática – Cristologia
Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e
Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia