CAOS NO TRANSITO

CAOS NO TRÂNSITO

EXASPERAR JAMAIS

 

Chegamos quase de madrugada de viagem, após um curso numa faculdade. Estávamos cansados e já se iniciava uma nova segunda-feira de trabalho. Levantamos muito cedo, fomos em direção à rodoviária de São Paulo, para embarcar para Rio Claro. Saímos de casa por volta de seis horas da manhã. Tentando escapar do trânsito matinal, para pegar o ônibus das sete horas. No meio do caminho, nós percebemos que esquecemos o celular. Não havia outro meio, simplesmente tivemos que voltar para pegá-lo. Sem querer fazer piadinha infame, alguém consegue sobreviver sem celular para atender chamado o dia inteiro de trabalho, de problemas e de família? Não, simplesmente não. Celular é um dos vícios da modernidade. São os recursos do mundo atual, ou o caos se torna ainda maior quando queremos falar ou precisamos receber recados.

Seis horas da manhã. Em São Paulo isso significa que o trânsito já está todo alvoroçado, que um retorno e uma volta significam uma perda de tempo enorme. Mas o que fazer?

Entramos na garagem, pegamos o celular e tentamos novamente voltar para o caminho de destino.  Retomamos o caminho. O trânsito estava um pouco maior. Mas tivemos que voltar mais uma vez. No caminho, pela segunda vez, recebemos um recado de um material a ser trazido para as gravações do filme Frei Galvão. Voltamos para casa, novamente.

A Avenida que nos leva em direção à Rodoviária e que passamos meia hora antes, tranquilamente, estava literalmente parada. Ouvimos pelo rádio que uma passeata sobre o aumento do ônibus havia interditado a avenida.

Nossa sorte foi que estávamos ao lado da única saída que existia. Tal saída não nos levava para o nosso caminho. Servia para buscar um novo caminho, novas alternativas.

E lá vamos nós tentarmos esta terceira corrida maluca para chegar à Rodoviária do Tietê. Mas a cidade já tinha virado um caos, com passeada fechando o Anhangabaú. Percebemos logo que nenhum caminho nos levaria ao destino. Tudo parado.  A volta ao mundo para um novo caminho nos leva a fazer a única opção que sobrou: o metrô.

– Que vamos fazer?

– Só tem uma solução, eu vou de metrô até a Rodoviária.

– Vai ter que fazer várias baldeações.

– Não faz mal, é a única tentativa de pegar o ônibus das oito.

– Certo.

Assim foi. Com baldeação em várias estações para pegar, finalmente a linha vermelha. Conseguimos, isto é, um conseguiu embarcar às oito horas em ponto e ir para Rio Claro.

Devido à loucura de correr, perde-se a noção do tempo e da realidade. Misturamos e confundimos propósitos e replanejamos a vida cotidiana e a rotina de cada dia. Nem se pode falar muito em rotina.

O importante nesta hora é manter a calma. Ponderar o que pode ser melhor para sairmos desta situação. Não podemos esquecer que nossas vidas têm mais valor, do que tentar correr e causar um acidente, ou tentar atravessar uma avenida que pode nos dar uma multa sem necessidade. Nesta hora, a calma e a paciência precisam prevalecer.

Temos de aprender a lidar com as perdas e buscar os melhores caminhos para a crise. Mesmo que, no momento aflitivo, pareça ser impossível. Depois – sempre depois – raciocinamos que na hora escolhemos o que era o melhor. A escolha sempre nos leva para uma reflexão.

É preciso lidar com a adversidade sem se exasperar. Assim é, sem exasperar, sem atacar as pessoas erradas, buscar e superar, perdoar a si mesmo e aos outros. É sábio não colocar culpa nem em si e nem em ninguém. Tudo faz parte da vida. Saibamos administrar nossos caos, afinal Deus está ali sempre. E no caos revelamos nossa verdadeira identidade. 

 

 

Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e

Teologia Sistemática – Cristologia

Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e

Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia