Mar de Espanha – MG – A primeira cidade orionita das Américas

 

“No Brasil eu não procuro ouro mas os seus filhos mais pobres e mais necessitados de Deus”. (Dom Orione, in Revista: La Piccola Opera della Divina Provvidenza, Ano LVIII, n. 21, 01 de novembro de 1963, pág. 202).

 

Há cem anos Dom Orione, num gesto ousado e corajoso, enviou seus primeiros missionários ao Brasil. Os pioneiros da missão ad gentes da Pequena Obra da Divina Providência foram: o jovem sacerdote Pe. Carlos Dondero, o novíssimo clérigo Carlos Germano e o leigo sr. Júlio Vigonò.

Era este um humilde início de atividade missionária além fronteiras mas foi, sem dúvida, a porta aberta pela Divina Providência para os Orionitas na América Latina. É interessante observar que desde o início de sua primeira missão ad gentes Dom Orione quis contar com os jovens e os leigos dando a eles um especial destaque e tornando-os verdadeiros protagonistas.

Durante muitos anos Dom Orione sonhou e alimentou este grande desejo de iniciar uma missão no Brasil. Recordando o seus anos de estudos e seminário realizados com Dom Bosco, em Valdoco – na Itália, ele exclamava: “Ó dias santos, dias belos da minha vida… então não se sonhava que mar a atravessar e almas para salvar…”(DOPO. II, 372-373).

Dom Orione já havia recebido convites insistentes da parte da Madre Michel (fundadora das Irmãs da Divina Providência) para vir e enviar seus missionários ao Brasil. Mas quando o Arcebispo de Mariana, Dom Silvério Gomes Pimenta, lhe escreveu e implorou  ele se exultou de alegria: “Agora, finalmente, os mares para sulcar apareceram… e um Anjo me chama para salvar almas no nome do Senhor, no distante Brasil!…”(cfr. DOPO I, 398).

E ainda escreveu: “Estou disposto a ir eu mesmo ao Brasil, quando for necessário e para a Glória de Deus. Não sei a língua, não sei nada, mas a caridade fala uma só língua e todas as línguas…” (Sui passi di Don Orione, pag. 215).

Os primeiros missionários:

No dia 17 de dezembro de 1913 os três primeiros missionários partiram de Gênova, Itália, em direção ao porto de Santos, no Brasil, onde chegaram no dia 29 de dezembro. De trem prosseguiram a longa viagem e chegaram a Mar de Espanha, MG., no dia 02 de janeiro de 1914.

Pe. Carlos Dondero, primeiro sacerdote orionita a trabalhar no Brasil, tinha apenas 30 anos de idade quando aqui chegou. Era cheio de ardor apostólico, corajoso e ousado. Tinha um caráter forte, decidido e parecia ser um grande empreendedor. Logo que chegou assumiu vários compromissos com as autoridades e com o povo de Mar de Espanha de abrir uma escola de artes e ofícios, uma colônia agrícola e muitos outros projetos.

No dia 11 de fevereiro de 1914 foi aberto o primeiro orfanato escola, o Instituto São Geraldo, lá no horto, em Mar de Espanha.

Seus dois primeiros colaboradores, o cl. Carlos Germano e o sr. Júlio não conseguiram acompanhar o seu ritmo e por dificuldades de adaptação e convivência logo no início desistiram da missão. Preocupado com a continuidade da missão Dom Orione enviou em junho de 1914 mais um missionário, o Pe. Angelo De Paoli. Sua vinda colocou em evidência algumas dificuldades que impediam a atuação completa do programa que havia sido feito, ajudou a superar algumas adversidades e deu novo impulso ao trabalho apostólico.

Em 1920 Dom Orione enviou mais dois missionários para Mar de Espanha, o Pe. Francisco Casa e o Pe. Gabriel Ballino.

Primeira viagem de Dom Orione à América Latina:

   (04 de agosto de 1921 a 18 de junho de 1922)

A primeira vez que Dom Orione veio à América Latina foi em 1921 e no Brasil permaneceu por quatro meses. A maior parte do tempo em Mar de Espanha, MG. Neste período ele esteve também em Mariana, Conselheiro Lafaiete, Rio de Janeiro, São Paulo e Santos.

Ao partir de Gênova, Itália, em direção ao Brasil, no dia 04 de agosto de 1921, ele assim escreveu: “Agora parto para o Brasil, onde já deveria ter ido antes, para ver os Filhos da Divina Providência que a mão do Senhor conduziu até lá…vamos para dar uma ajuda e para levar o conforto do nosso amor fraterno…” (cfr. In ADO, Scritti 62,12). Com ele vieram mais dois missionários: Pe. Mário Ghiglione e Pe. Camilo Secco.

Do navio, no dia 18 de agosto, Dom Orione escreveu às Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade: “… vou à América para preparar um maior e mais vasto campo de caridade”. (Revista: La Piccola Opera Della Divina Provvidenza… 01 de novembro de 1963).

Dom Orione chega ao Brasil:

Na manhã do dia 20 de agosto de 1921 Dom Orione chegou ao Porto do Rio de Janeiro. Celebrou sua primeira missa, no Brasil, no orfanato das Irmãs da Divina Providência, no dia 21, no Catumbi.

Dom Orione vai a Mar de Espanha:

No dia 26 de agosto chegou em Mar de Espanha, na humilde sede que deu início às atividades missionárias da Congregação. Escreve a Dom Sterpi e manifesta suas primeiras impressões: “Mar de Espanha é linda. Conta com cerca de 2.500 habitantes no centro e todo o município cerca de 4.000. O povo é educado, inteligente e muito bom. A Igreja é bela, tem uma navata com Jardim à frente: digna de uma cidade… Tudo na cidade circula em torno da Paróquia. A nossa Paróquia se estende em um território grande com várias capelas, algumas distantes. A viagem se faz a cavalo… Eu chorava ao ver aquele povo sem um sacerdote que batizasse os seus meninos, que confortasse os seus enfermos, que abençoasse o túmulo dos seus falecidos… Nossa Senhora das Merces é a Padroeira da Paróquia”. (cfr. In ADO, Scritti 28, 113).

Nossos missionários permaneceram em Mar de Espanha de 1914 a 1927. Neste período trabalharam em toda a região, principalmente em Chiador e São José das Tres Ilhas.

Adeus Mar de Espanha:

Em 1927, com grande dor, a congregação teve que deixar Mar de Espanha, onde tudo se iniciou, onde os primeiros missionários orionitas se sacrificaram e onde o próprio Dom Orione residiu e fez grande experiência missionária. Ter de sair de Mar de Espanha depois de 14 anos foi muito sofrido tanto para os nossos religiosos quanto para o povo da cidade; porém, naquele momento foi necessário, para investir nossas forças em outras regiões e lançar a semente do carisma de Dom Orione pelo grande Brasil.

A dor por ter que deixar Mar de Espanha e a morte do pioneiro no Brasil, Pe. Carlos Dondero, também em 1927, longe de decretar falimento total da missão, abriram novos horizontes para a Congregação no Brasil, como uma semente que cai por terra e depois renasce produzindo novos frutos.

Mar de Espanha continua para nós Orionitas como o berço providencial da primeira obra missionária brotada do coração de Dom Orione no Brasil. Mar de Espanha é para nós orionitas a nossa “terra santa”, pois aqui nossos primeiros missionários deram a vida e é onde Dom Orione também viveu e fez sua grande experiência de missionário no Brasil.

Dom Orione, mais de uma vez, expressou o seu carinho pela cidade e pelo seu povo: “Deus te abençoe e abençoe a todos, todos desta primeira casa e desta querida cidade. Eu rezarei sempre por Mar de Espanha… Desejo que tudo se faça para o bem da Paróquia e para a prosperidade da cidade…”. (Carta de Dom Orione a Pe. Carlos Dondero, 19 de fevereiro de 1922, in ADO, Scritti, 29, 38).

 

                                         

                                                                 Pe. João Inácio Assis Gomes