Quem contempla Dom Orione, acha-se diante de uma personalidade marcante. O próprio Papa João Paulo II reconhece: “É impossível resumir a riqueza do espírito de Dom Orione, porque tinha um coração como o de São Paulo: terno e sensível até as lágrimas; incansável e tenaz até a audácia; dinâmico até o heroísmo; viveu em contato com os grandes homens da política e da cultura, iluminou os sem fé, converteu pecadores, viveu recolhido em contínua oração, praticava incríveis penitências”.
Diante das interrogações de seu tempo, Dom Orione soube dar respostas adequadas, que compuseram aquilo que chamamos o carisma orionita, que deve, naturalmente, ser desenvolvido e atualizado.
Vamos deter-nos um pouco sobre alguns aspectos da rica espiritualidade do nosso fundador que podem servir de inspiração para todos nós da família orionita: religiosos e jovens.
a) Só Deus!
Dom Orione tornou-se um apaixonado de Jesus. Era Jesus seu amor, profunda e substancialmente sentido em sua vida.
“SÓ DEUS! Um breve lema, mas que traz dentro de si o resumo de toda a perfeição cristã”
Quem viveu ao lado de Dom Orione, ficava impressionado com seu espírito de oração. Temos que lembrar sua vida: um verdadeiro homem de oração, que depois de um dia de serviço total ao próximo era capaz de passar, muitas vezes, a noite inteira em oração diante do Santíssimo Sacramento.
“O coração deste estrategista da caridade foi ilimitado, porque se dilatou com a caridade de Cristo. A paixão por Cristo foi a alma da sua vida audaciosa, o impulso interior de um altruísmo sem reservas, a fonte sempre fresca de uma esperança indestrutível.
Este filho humilde de um pedreiro proclama que somente a caridade salvará o mundo” e a todos repete que a alegria perfeita não pode existir, senão na perfeita dedicação de si mesmo a Deus e aos homens, a todos os homens”.
b) A Cruz
Dom Orione abriu o primeiro oratório numa Semana Santa. A primeira igreja onde conduziu seus garotos foi a igreja do Crucificado em Tortona. Com um amor cheio de ternura ele pediu para si o grande crucifixo de madeira que ali se venerava e o colocou no seu pequeno quarto, um crucifixo enorme, que chamava atenção mais do que qualquer outro objeto.
“Eu fui crucificado com Cristo; não sou mais eu que vivo, mas Cristo vive em mim…O Filho de Deus me amou e entregou-se por mim”. São palavras de Paulo que exprimem perfeitamente oque sentia e vivia Dom Orione.
A contemplação do amor de Deus por nós representado pela cruz de Cristo, é a chave que nos permite entender a vida de muitos santos. “Viver;palpitar, morrer aos pés da cruz ou na cruz com Cristo!”. Dom Orione, desde o princípio da congregação enxerga na cruz de Cristo a árvore de onde brota a nova vida. “Jesus se segue de verdade, se ama de verdade ese serve de verdade, na cruz”.Da capacidade que tem Dom Orione de encher-se de admiração e surpresa diante da grandeza do amor de Deus é que nasce nele a necessidade de viver ele também do amor de Deus. Ele se sente amado por Deus e toda sua vidase torna reflexo desse amor.
c) Confiança na Divina Providência
Para Dom Orione a fé é o motor da História. Para que as lutas pela justiça social sejam efetivas e tragam promoção ao homem, devem nascer da fé em Deus e acontecerem em nome dele. “Avante, em nome de Deus”foi o brado de Orione em sua proclamação às trabalhadoras dos arrozais. Essa convicção se baseava na fé na Providência de Deus que conduz a História e, mesmo quando o caminho é escuro, o desígnio de Deus não falha. Pois bem, essa certeza não tornava Orione passivo,nem acomodado, pelo contrário ele acreditava que Deus se serve de nossa ação para realizar sua obra no mundo. “Filho da Divina Providência quer dizer filho da fé e jamais seremos filhos da Divina Providência sem uma vida toda de fé e confiança em Deus”.
d) Devoção mariana
A devoção de Dom Orione a Nossa Senhora é tão marcante como seu amor aos pobres. “Nós veneramos e proclamamos Maria nossa Mãe e única Fundadora da Pequena Obra; consideramo-la como a celestial inspiradora de todas as nossas atividades”.
“Quanto bem fareis às almas dos jovens, se acenderdes em seus corações a lâmpada do amor a Nossa Senhora”.
e) Amor à Igreja
Em um momento histórico marcado pela repulsa à autoridade da Igreja e anticlericalismo (questão romana, maçonaria, jansenismo e liberalismo) Dom Orione reage pondo-se decididamente do lado da Igreja e do Papa. “Ó Santa Igreja Católica, Igreja de Jesus Cristo, luz, amor, mãe doce e querida! Mãe de nossas vidas, encanto dos nossos corações, vida de nossas vidas!”
Dom Orione percebia profundamente que Cristo é na verdade a rocha sobre a qual se apóia todo o universo; e Cristo, agora elevado ao céu, se faz presente e se manifesta na Igreja, no Papa.
f) Caridade
Dom Orione é o santo da caridade. O amor que o liga a Deus, une-o também aos homens; é um amor imenso e tota que exige dele a entrega total; a postura de Dom Orione diante dessa exigência é uma resposta generosa: todo a todos; não há dor, problema ou sofrimento que não encontre lugar em seu coração formado à imagem do de Cristo. “Sofrimentos físicos e morais, cansaços, dificuldades, incompreensões e obstáculos de todos os tipos marcaram o seu ministério apostólico. Cristo, a Igreja e as almas dizia ele são amados e servidos na cruz e na crucifixão, ou não são de modo algum amados nem servidos”.
“Quisera tornar-me o servo dos servos, dando minha vida pelos mais pobres e abandonados;quisera ser o louco de Cristo, viver e morrer de loucura de amor pelos irmãos.Amar sempre e dar a vida cantando o amor! Despojar-me de tudo! Semear caridadeao longo de meus passos…”
As Constituições dos Religiosos de DomOrione, fazendo suas essas aspirações do Fundador, assim se exprimem:
“Dedicamo-nos aos pobres e necessitados e queremos:
– considerar um privilégio servir Cristo nos mais abandonados erejeitados, porque no mais humilde dos homens brilha a imagem de Deus;
– acompanhar os pobres em suas ascensões e promoção humana e social, assumindo também sua condição;
– ajudar os pobres e indefesos a conseguir sua inserção plena no convívio social, pois ‘toda corrente que tira a liberdade dos filhos de Deus tem que ser rompida;toda exploração do homem pelo homem deve ser abolida em nome de Cristo; nosso campo de ação é a caridade, mas nada excluído que seja a verdade e a justiça; é preciso praticar a verdade e a justiça na caridade”;
– fazer os pobres protagonistas de sua história, valorizando seus dons e capacidades,seus costumes e sua religiosidade…;
– atrair os filhos do povo, pela educação cristã da juventude, para serem renovadores da sociedade; abre-se um horizonte novo, surge uma nova consciência social à luz da nova civilização cristã, sempre geradora de progresso e sempre filhado Evangelho”.
– consagradas totalmente a Deus na caridade, só desejosas de amá-lo e servi-lo nos pobres que são os mais queridos do seu coração e os nossos irmãos prediletos, ‘inclinamo-nos com caridosa doçura à compreensão dos pequenos, dos pobres, dos humildes.
– as obras de misericórdia, às quais nos comprometemos com Voto, são sinais visíveis que tornam-se um meio pedagógico apropriado, digno de crédito e eficaz para dispor e abrir as pessoas a acolher o Evangelho.
g) Espírito de família
15. Com palavras, mas sobretudo com o testemunho de vida,Dom Orione quis formar uma verdadeira família. Narra um ex-aluno: Desde o primeiro dia Dom Orione deu à casaum clima paterno-familiar, baseado na participação, na persuasão, mas sobretudo no seu testemunho de vida… Ele participava dos momentos de recreação, queria que todos estivessem envolvidos, (…) de vez em quando chamava um de nós para conversar, perguntava sobre nossos projetos, sobre os fatos da vida, dava conselhos: transmitia ao coração um grande sentimento de esperança. Tinha não somente um coração de pai, se era necessário tinha também um coração de mãe.
h) Alegria
“Há uma alegria, disse Santo Agostinho,que não é de quem vive da terra para a terra, mas, sim daqueles que amam e servem o Senhor e a Igreja com amor. Essa alegria sois vós, ó Senhor nosso Deus! Essa é a felicidade: gozar de Vós, em Vós e por Vós”.
“A perfeita alegria não está senão na plena doação de si mesmo a Deus e aos homens, a todos os homens, aos mais sofredores e aos física ou moralmente deficientes”.[22]
“Sempre alegres no Senhor; com alegria grande, espalhando bondade e serenidade em todos os nossos caminhos e no coração de quantos encontrarmos”.[23]
i) Criatividade e audácia
17. Dom Orione é homem de grande criatividade, procura sempre novos caminhos, por vezes surpreendentes, para atingir seus objetivos.“Para atrair os povos e a juventude à Igreja e a Cristo, é preciso marchar à frente dos tempos e dos povos e não na rabeira, e não ser arrastados”.
j) Uma vida simples
Dom Orione que a todos encantou com sua santidade, com sua capacidade de organizador, com suas obras de bem, nunca perdeu o sentido cristão da humildade.
“Vivamos como piedosos e bons religiosos e a Divina Providência se servirá de nós, seus humildes trapos e seus filhos”.
l) Disponibilidade para o serviço
“Trabalho, Trabalho, Trabalho! Nós somos filhos da fé e do Trabalho. Devemos querer ser os apóstolos do Trabalho e da fé. Devemos correr sempre para trabalhar e trabalhar sempre mais”.
Esse espírito de trabalho Dom Orione o aprendeu em sua casa, da sua Mãe Carolina, desde quando a acompanhava catando espigas nos trigais e de seu Pai Vitório, juntando-
se a ele no serviço de calceteiro.
O olhar de Deus é como um orvalho que fortifica, é como um raio luminoso que fecunda e faz crescer: trabalhemos então sem fazer barulho e sem trégua, trabalhemos sob o olhar de Deus, somente de Deus!