Entre as festas marianas do Brasil, a grande solenidade que acontece no Belém do Pará é a festa que mais reúne fiéis, aproximadamente 2 milhões no mesmo final de semana. Por certo, Aparecida do Norte é a mais visitada (estudos falam em 12 milhões ao longo do ano, sobretudo em outubro). Em Juazeiro, estima-se 2,5 milhões de devotos do Pe. Cícero. Por ser uma peregrinação concentrada num único evento, no dia da festa de Nossa Senhora de Nazaré, trata-se da maior concentração de devotos marianos num único evento religioso.
O grande evento é registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), considerado como precioso patrimônio cultural de natureza não material.
O dia principal é o domingo, quando o Círio de Nazaré é levado numa romaria fluvial, depois automobilística e em diversas modalidades, mas sobretudo na caminhada do povo que segue o roteiro da procissão, demarcado por enormes cordas de naves, para orientar e proteger os peregrinos.
Iniciando-se logo na primeira alvorada, com uma celebração eucarística, segue pelo rio e pelas ruas da cidade de Belém. O percurso é marcado por uma grande multidão, impressionante, por quase 4 quilômetros, num total de aproximadamente 10 horas de duração. É um espetáculo de fé e de devoção que faz silenciar os mais inóspitos incrédulos da espiritualidade humana e os mais embriagados da negação da devoção mariana. É a grande homenagem à Maria de Nazaré, a mulher simples da Galileia, que cuidou de seu lar e acalentou o menino Jesus desde sua concepção até a sua ressurreição, passando pelas suas andanças pelas cidades e sobretudo pela cruz dolorosa e sua paixão.
ERAM ALGUNS… HOJE SÃO MILHÕES!
Por certo, o Círio de Nazaré, é a maior manifestação religiosa católica concentrada do mundo; uma dos maiores eventos religiosos do mundo cristão. Estes dois milhões de fieis unidos em poucos dias da Solenidade de Nossa Senhora de Nazaré, abrilhanta a cidade e alegra os céus. A origem desta festa está na tradição da Vila de Nazaré, em Portugal, no dia 07 de setembro, há séculos uma grande solenidade cristã. Em Belém do Pará se celebra no segundo domingo de outubro, desde 1793. Foi crescendo aos poucos e a cada ano, para ser em nossos tempos este evento grandioso.
Entre nós, a Solenidade, o Círio, foi instituido timidamente. No início saía do Palácio do Governo. Somente a partir de 1882, o Bispo Dom Macedo Costa, definiu, juntamente com o Presidente da Província, que o início da procissão seria a Catedral da Sé de Belém. Grandiosa solenidade; afinal 2 milhões de pessoas numa única manhã é excepcional e mais ainda porque não é um evento esporádico sem continuidade, mas que há anos continua sempre mais e mais. Curioso anotar que a procissão se realiza pela manhã, para evitar as tardes chuvosas na região nesta estação do ano. A multidão cresce, crescem os devotos, crescem os milagres. Mais círio, mais fieis, mais alegria no coração de Nossa Senhora.
No Pará o mês de outubro é marcado pela maior manifestação de fé do mundo, o Círio de Nazaré traz milhares de fiéis dos quatros cantos do mundo para acompanhar a imensa procissão que reúne mais de 2 milhões de fiéis todos os anos que fazem diversas manifestações e homenagens para Nossa Senhora de Nazaré, a mãe de Jesus.
Entre os devotos, a manifestação de fé se iniciou com o caboclo Plácido José de Souza, em 1700, quando ele encontrou uma pequena imagem da Senhora de Nazaré às margens do Igarapé Murutucu. A imagem foi para sua casa e no outro dia a imagem tinha desaparecido. Estava no mesmo local, no Igarapé. Depois de repetidas vezes, que o caboclo reencontrava a imagem no seu lugar de origem, espalhou-se a notícia e iniciou-se a devoção. A pequenina imagem foi levada ao Palácio do Governo, ponto de partida das procissões anuais.
UMA LENDA GRACIOSA
Segundo contam os antepassados, a imagenzinha da Virgem de Nazaré foi esculpida em Nazaré. Representa a Virgem Maria, em madeira escura, trazendo em seu colo e amamentando o Menino Jesus.Seu itinerário secular passa por Nazaré, na Palestina, tendo sido trazida a Nazaré, em Portugal (ano 711), depois de ficar por décadas na Espanha. A partir do século XII foi eregida a Capela da Memória por um cavalheiro (Dom Fuas Roupinho) como gratidão por um grande milagre. Mais tarde (século XIV) Dom Fernando, rei de Portugal, construiu um grande templo dedicado à Nossa Senhora de Nazaré. Fixou-se a solenidade para o dia 08 de setembro a grande procissão denominada “círio português”.
No Brasil, os jesuítas introduziram a devoção no século XVII de forma oficial, mesmo que a devoção já existia a partir da aparição da imagem para o caboclo Plácido. Quando viveu a experiência, antes de levar ao palácio do Governador da capitania, o caboclo erigiu uma pequena capela no imenso Igararé Murucutu. Sabe-se que a imagem desapareceu da Capela do Governador e reapareceu na antiga capelinha. O Bispo do Pará, Dom João Evangelista (1773) entregou a cidade de Belém à proteção de Nossa Senhora de Nazaré
São inúmeros e impressionantes os milagres e graças atribuídos ao poder da Santa. Havia um grande barco que transportou a imagem de Nazaré a Lisboa para ser restaurada. Dois anos depois, este barco naufragou e todos os passageiros foram salvos, por um bote que misteriosamente passava por perto. Resgatado a embarcação, até nossos dias ele serve ao transporte da santa na grande procissão.
SÍMBOLOS SIGNIFICATIVOS
Entre tantos simbolos, recordamos alguns mais importantes, que se repetem nas procissões e nas celebrações do Círio de Nazaré.
A berlinda é como o andor que carrega a imagem da santa no meio da procissão, deixando-a em destaque e mais elevada.
A corda é o símbolo da força da fé, que tem 400 metros e 700 quilos, feito de sisal. Esta corda requer sacrifício emocional e físico. Antes servia para alçar a berlinda com a imagem, por uma junta de bois. Hoje serve sobretudo para separar o andor da grande multidão e é tecida em forma de um rosário.
O bonito manto azul e branco é um símbolo importante desta Festa. O manto tem conotação mística, relatando textos do Evangelho.
Sempre foi tecido por devotas Filhas de Maria. Com o passar dos anos, a confecção do manto foi assumida por devotas de Nossa Senhora, envolvendo sempre grande mistério, abrilhantado por doações anônimas.
A quantitade incontável das velas ou círios, em formas mais variadas, retratam partes do corpo humano, bem como velas do tamanho do pagador de promessas, agraciado por milagres em sua vida. São formas de gratidão e fé popular.
Anotamos ainda os carros e barcos de promessas, crianças vestidas de anjo e homenagem com aclamações e fogos de artifício. É uma demonstração de grande piedade popular e do sentimento mariano de nossos fiéis.
ACENDER OS CÍRIOS
O círio é uma forma simbólica de expressar a fé, com tanta simplicidade e tanta mística. Uma vela acesa é sempre uma luz que vem da alma e o balouçar da chama revela a leveza de uma espiritualidade que nasce no coração e se concretiza na vida. Carregar um círio aceso é dar testemunho de uma alma que busca a Deus, assim como pendurar-se na corda da grande procissão é um grito de esperança e de justiça que nasce no coração e provoca atitudes concretas para transformar a história dos homens. O círio de nossa fé não pode jamais se apagar, pois não podemos caminhar na escuridão e nos perderíamos nas emboscadas da própria história. Sigamos nos caminhos de Jesus, iluminados pelo Espírito com as luzes de nossos círios lampejando de fé e de amor, para servir nossos irmãos que se perdem no mundo pois seus círios se apagaram. Acendamos o círio de nossa fé e caminhemos.
Prof. João H. Hansen – Pe. Rodinei C. Thomazella – Pe. Antônio S. Bogaz