A vida contemplativa orionita

 

Queridos leitores, quero apresentar o rosto contemplativo de nosso pai fundador São Luís Orione, e certamente é algo surpreendente, pois todos nós conhecemos um Dom Orione “que corre”, isto é que está sempre pronto a prestar sua ajuda nas diversas situações, socorrendo os mais pobres e humildes de sua época.

“Espíritos ativos e contemplativos” eis o seu convite para todos os filhos e filhas da Divina Providência. O grito da caridade que o acompanhava não era simplesmente um brado comum, mas um grito imbuído de uma mística que o envolvia do seu encontro com o eterno Pai na mais íntima oração noturna, nas vigílias; era lá que São Luís Orione ia buscar na fonte, onde só ele sabia o quanto era doce mergulhar na presença do Altíssimo.

É formidável saber que São Luís Orione ainda jovem sacerdote dá início a um ramo da congregação no estilo de vida contemplativa, chamando-os de eremitas, na verdade não vivem no sentido verdadeiro da palavra como eremitas solitários, pois Dom Orione quis um estilo todo diferente, isto é, valorizou a vida fraterna em comunidade, por isso ao fundar em 1899 o ramo dos eremitas, sempre os quis vivendo ao modo de São Bento, o “ora et labora”, oração e trabalho.

É fácil conhecer a vida contemplativa de outras ordens ou congregações, mas a vida contemplativa orionita tem um toque especial, pois ela é inebriada do odor fortíssimo da caridade, presente nas mais variadas obras caritativas de nossa Congregação, é isto que a difere das demais. Uma vida contemplativa com as duas faces do fundador, ou seja: espírito contemplativo e ativo. Ser eremita orionita é ter dentro de si a chama da caridade, pois ninguém poderá mergulhar na contemplação sem antes trazer consigo o grito angustioso dos pobres e humildes.

Pode-se dizer que a Congregação orionita nasceu de uma intensa vida de contemplação do nosso santo fundador. A situação econômica de sua família não era das melhores, mas nem por isso o então seminarista Luís Orione teve a intenção de deixar o seminário, assim sendo foi lhe oferecido o serviço de vigia da catedral de Tortona, lá num quartinho perto da torre ele pode ver o sacrário e passar horas em adoração. Em sua oração diz: “quero ser vossa lâmpada ardente, Jesus, e aquecer os corações dos homens”.

O serviço aos pobres e humildes sempre o levou a uma vida intensa de apostolado, mas nunca deixou de atingir a força para o serviço aos mais pobres, que não fosse numa vida intensa de oração, e muitas vezes horas passadas à noite diante de Deus.

Não resta dúvida nenhuma que São Luís Orione foi um homem contemplativo, diferente é claro de quem se doa na oração coral, como a dos monges beneditinos, ou de um cartucho abandonado em sua sela. O que levava Dom Orione ao intenso apostolado era o seu grande amor principalmente pelos pobres, os últimos os mais esquecidos dessa sociedade e todos eles estavam em seu coração e em sua mais terna vida de oração íntima com o seu Deus, o qual ele contemplava na pessoa destes irmãos mais esquecidos. Os eremitas orionitas tem essa particularidade que as outras ordens e congregações contemplativas não possuem, nasceram de uma vida voltada para os pobres e sua contemplação se passa nos claustros das obras orionitas, isto é, trazendo-as presentes em sua oração coral e íntima com Deus.

“A contemplação das verdades divinas e a constante união com Deus na oração deve ser o primeiro e especial dever de todos os religiosos”. Assim nos diz no Código de Direito Canônico número 663, & 1º. Na família orionita existe a presença de dois ramos que vivem unicamente para contemplar dia e noite a face de Deus, são os Eremitas e as Irmãs Sacramentinas Cegas, ramo este fundado por Dom Orione em 1927. As irmãs oferecem suas vidas numa entrega silenciosa ao Pai, ainda que privadas da visão contemplam com os olhos da alma a face esplendorosa de Deus e consagram toda a sua vida como hóstias puras colaborando com as demais irmãs e irmãos orionitas que atuam no campo da caridade.

Interessante notar que não somente os religiosos e religiosas são convidados a vivenciar a vida contemplativa, mas os leigos também podem encontrar momentos de pausas em suas vidas para conhecer melhor a face de Deus e melhor aprender a amá-lo. Existe na congregação um grupo de leigos que são chamados oblatos, isto é, participam da família de Dom Orione oferecendo suas vidas em holocausto a Deus, mas no silêncio de suas casas ou ambiente de trabalho, são sustentados pela palavra Divina e fazem promessa de viver uma caridade evangelizadora.

Enquanto escrevo este artigo, a Providência me faz uma indagação através de Dom Fernando Penteado, a quem tive a felicidade de conhecer no Eremitério por ocasião do retiro espiritual assessorado por ele aos religiosos orionitas. Quando me apresentei e disse que era um eremita, ele ficou admirado e logo disse: “você está ligado à parte orante da congregação”. Ainda fui interrogado pelo mesmo que perguntou: “O que é a oração?” Confesso a vocês que no momento não me veio a resposta de imediato, e Dom Fernando arrancou de mim a resposta: “a oração é um desafio”. Os dias vividos no eremitério são dias de profunda intimidade com o Mestre que nos chamou a tal estado de vida, portanto, conforme nos diz as normas dos Eremitas: “A oração é a ocupação mais importante da vida do religioso eremita”. Mas voltando ao início deste texto, dizia que todos nós filhos de Dom Orione devemos ser espíritos ativos e contemplativos, portanto a oração íntima com o Deus da vida deve ser uma ocupação importante não só na vida do eremita, mas de todos aqueles que seguem a espiritualidade orionita.

A contemplação do orionita é marcada pela presença do crucificado, pois nossa congregação foi fundada numa sexta-feira da paixão. São Luís Orione introduziu em nossa família religiosa, a grande veneração ao crucificado, como ponto de partida e de chegada de todo trabalho caritativo de nossa congregação.

A mais profunda contemplação que um orionita pode fazer é mergulhar no mistério da cruz, e isto nosso querido Dom Orione soube fazer muito bem e deixou como herança a nós seus filhos. A cruz, como diz São Paulo aos Coríntios: "É escândalo para os judeus e loucura para os gregos; mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos Cristo crucificado, poder de Deus e sabedoria de Deus" (I Coríntios 1.23-24). O mistério da cruz nos ensina a amar e conhecer o Pai, pois na cruz se manifesta o amor. Contemplar a cruz de Cristo é fazer a experiência do amor, pois só pode amar quem aprendeu a sofrer. Dom Orione tinha um grande amor à cruz de Cristo, pois contemplava nela as dores e os sofrimentos da humanidade, por isso ele aprendeu a amar indistintamente a todos.

Termino deixando-vos uma frase maravilhosa que Dom Orione dizia a nós eremitas: “As muralhas dos vossos corações são o eremitério mais bonito, são o amor de Jesus crucificado”.