04 abr A religião do bem…
“Quero continuar crendo na religião do bem” e no “bem da religião”
Fico pensando no quanto a religiosidade faz parte da realidade humana. É incrível percebermos as pessoas buscando valores transcendentais. Existem pessoas que constantemente procuram experiências que lhes forneçam a garantia da presença divina em suas vidas. No entanto, há aquelas que sem buscar garantia alguma, creem e tem a bonita oportunidade de viverem a autenticidade da fé, justamente porque acreditam sem necessidade de provas.
Muitos escritores falam sobre o desejo do divino que existe no humano, mesmo que não deem o nome de “Deus” a este anseio. O médico brasileiro Raul Marino Jr., um dos maiores especialistas em neurocirurgia do país, em seu livro intitulado “A Religião do Cérebro”, fala um pouco sobre isso. Ao viajar cientificamente pelo cérebro humano Marino vai revelando como determinadas regiões de sua anatomia funcionam como espécies de antenas que, por meio das crenças e religiões, captam as vibrações de Deus. É o olhar da ciência para a necessidade natural que o ser humano tem da religião.
Neste ponto que eu gostaria de chegar: a Religião. Do latim religare, religião indica justamente o que a sua etimologia expressa, re-ligar. É o meio por onde o ser humano vai se ligando à realidade de Deus em sua vida e assumindo tudo o que esta experiência compete. Logo, acolhendo os valores da religiosidade as pessoas tendem a exercer o que fundamentalmente surge como consequência de uma vida religiosa: o bem. Mas uma coisa me assusta, as pessoas que em nome da religião fazem o que de contrário ela sugere: o mal.
Infelizmente presenciamos discursos e atitudes que em nome de Deus se esquecem da humanidade alheia. De que o outro é a extensão de meu compromisso com o divino em fazer o bem. São os casos dos chamados “fanáticos”, justamente porque reduzem Deus e a experiência religiosa a um ideal que tem traços fortemente humanos e, por vezes, cruelmente inumanos. Neste processo de vida religiosa busco o Deus dos meus ideais e não abro mão, mesmo que para me relacionar com Ele eu tenha que me ornamentar de bombas e praticar terrorismo.
Recordo-me que no ano de 2010 os meios de comunicação mostraram o presidente norte-americano Barack Obama, anunciando o envio de militares ao país africano Uganda para conter ações do chamado Exército de Resistência do Senhor (LRA), grupo guerrilheiro acusado de matar e cometer atrocidades com milhares de pessoas da região. O que mais me abalou nesta notícia, além dos absurdos cometidos para com o ser humano, é a fundamentação do grupo militar africano. Ou seja, com que finalidade eles agem. O LRA é um grupo cristão protestante que tem a frente um líder que se proclama porta-voz de Deus com o objetivo de estabelecer um regime teocrático. Um governo aonde os valores divinos prevaleçam. Nossa… isso dá medo! precisamente porque há contradições entre a fé professada e os meios empregados para que a crença seja atualizada no dia-a-dia do povo.
Com este tipo de fato você consegue entender um José Saramago, ateu e crítico, que falava: “O mundo seria mais pacífico se nós fossemos todos ateus”. Não se justifica que a paz seja fruto do ateísmo, mas é triste quando “fanáticos religiosos” tendem a obscurecer a finalidade da religião dando assim, autenticidade ao desejo de um mundo ateu. Apesar disso, quero continuar crendo na “religião do bem” e no “bem da religião”. De que acreditar em Deus e cultivar esta fé com o compromisso religioso só tende a ser gratificante para mim e para os outros.
Seminarista: Evandro Carvalho.
Diocese de Uruguaiana – RS
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