DE PONTECURONE PARA O MUNDO

DE PONTECURONE PARA O MUNDO

O nascimento do menino João Luís está marcado pela graça. Todos os sinais são promissores para acolher um homem de Deus, que marcará a história dos povos mais pobres. Foi no de 1872, no mês de maio, bem no seu final. As flores que as devotas colocavam aos pés da Virgem Maria nos pórticos e nos nichos dos paredões das grandes casas estavam murchas. Era o momento de retirá-las, para recolocar no próximo mês mariano. Todas as flores. Menos uma rosa, na parede da casa da família Mazinga. A conversa revela o grande momento, quando uma mulher exclamou: “Veja, Padre Catâneo. Veja. Todas as rosas estão murchas. Todas estão secas”. Mas outra mulher percebeu algo excepcional: “Todas? Todas não. Veja, tem uma flor que está bem bonita, bem viçosa”. Padre Catâneo, sentiu a graça do milagre em seu vilarejo: “Santo Deus! Minha Nossa Senhora, Mãezinha de Deus. Uma flor colorida, bem viva e viçosa. Que Maravilha. Ouço a voz dos anjos. Uma voz do céu me fala ao coração. Está para acontecer um grande milagre em nosso vilarejo. Pontecurone é nossa Belém. Vai nascer um grande santo entre nós”.

Foi assim, ao mesmo tempo que se firmava a unificação da Itália, se perdiam os territórios pontifícios e foi constituído o Reino da Itália, sob o reinado de Vittorio Emmanuelle II, nascia um menino que poderia trazer luzes e formas novas de ser Igreja. Uma Igreja renovada e renovante, não mais fortalecida por muralhas, exércitos febris e impostos antipáticos, mas formada pela graça e pela dedicação de seus pastores e seus santos. O Ressurgimento da “força Itália” para unificar o país foi ainda mais forte na “força Igreja” para renovar a presença da Igreja na sociedade e na história. Na manhã do dia seguinte, o menininho foi batizado na Igreja Nossa Senhora das Graças. Seu nome? João, pois era o dia 24 de junho, dia do santo mártir e batizador. Também Luís, para homenagear um irmãozinho falecido dois anos antes.


GESTAÇÃO DE ORIONE, GESTAÇÃO DA ITÁLIA

O menino Luís foi gestado num período muito conturbado do Reino da Itália. Naquele século, as guerras civis entre as várias regiões da Itália eram muito constantes e havia o germe de uma unificação latente que se esperava há muitas décadas, mesmo porque os demais países já tinham superado as fronteiras de pequenos principados e buscavam a hegemonia da Península. Não era fácil entender a situação e muito menos tomar uma decisão que fosse harmônica, pois se de um lado um pai que acolhia a ideologia da unificação da Itália, por outro lado, tinha a mãe que, fiel devota, estava ao lado da Igreja que acumulava as terras centrais da Península na concepção dos estados pontifícios. Mesmo os embatinados estavam divididos. Esta questão é aprofundada na primeira obra do Grupo de Estudos Orionita (GEO), que se intitulou o “Século Orione”, pois aborda a realidade contextual desde a metade do século XIX, quando as revoluções pulavam em todo território, gerando grande pobreza e rivalidades, até a metade do século XX, quando ainda enxugamos o sangue das duas grandes guerras. Este é o cenário de Luís Orione, o contexto onde se formou sua consciência. Difícil fazer opções, sem perder-se em ideologias e acolhendo as partes fragmentadas do cristianismo e do catolicismo de seu tempo.

Naquele momento, dava-se a unificação da Itália, que foi o processo de união dos vários reinos, que após a expulsão dos austríacos compunham a Península Itálica. Eram vários reinos muito diferentes, unidos geograficamente num traçado natural semelhante a uma bota de soldados de guerra, mas que na verdade eram muito diferentes em suas origens étnicas, em suas línguas, tradições e costumes. As línguas eram dialetais, as etnias misturadas com suas origens remotas e as ideologias diversificadas. Em comum, a vizinhança geográfica e a mesma fé cristã e a profissão de fé católica. Mesmo a devoção papal era muito complexa, pois se misturava a figura do líder espiritual com aquela de chefe de estado, com seus impostos e seus governos ineficientes. Difícil ser fiel e crítico, ou melhor, mesmo sendo crítico ser muito fiel à Igreja. Eis o traço firme da alma do menino pobre, entre os movimentos anti-eclesiais do pai Vitório e a fidelidade ingênua da mãe Carolina.

CRÔNICA DE UM NASCIMENTO MISTERIOSO

No último Congresso do Movimento Laical Orionita em Curitiba, no Paraná, tivemos a graça de celebrar a caminhada de São Luís Orione nos passos de Nossa Senhora. Ou melhor, Nossa Senhora nos passos de João Luís Orione, desde o ventre de sua mãe até seus momentos finais. Podemos mesmo falar numa parceria inquebrantável que revelava um amor filial que fora cultivado em seu coração desde sua concepção.

A Mãe Carolina era o rosto de Maria, que nas suas vestes esgarçadas demonstrava a simplicidade e a pobreza, a nobreza e a grandeza da Mãe de Jesus. Assim, eram Santo Orione e Nossa Senhora. Dois corações que palpitam diante de Jesus. Palpitam diante de Jesus criança e diante de crianças abandonadas. Dois corações que palpitam diante de Jesus perdido no templo, como palpitam diante de jovens perdidos sem família, nas ruas do abandono e no abandono da violência e das drogas. Santo Orione palpita seu coração no coração de Maria, pelo Papa, pela Igreja e por nossas comunidades. Seguimos o Rosário de Maria, rosas para a Mãe de Deus e da Igreja.  Os tempos da infância do menino Luís eram muito difíceis. A Europa estava em convulsões enormes, com guerras entre os países e as fronteiras estavam se definindo com maior precisão, para formatar a carta geográfica do continente europeu.

A Família Carismática Orionita está sempre a servir a Deus e a Igreja, servindo os povos e os pobres. A rosa viçosa nunca murchou. Seus ramos foram replantados mundo afora e continua viçosa e a flores, ramalhetes de evangelização e caridade, pela palavra e pelas obras. Assim é a nossa família, sobre o manto azul da Senhora celestial. Não estamos em nenhum lugar. É um lugar misterioso. Não estamos no tempo, entramos na eternidade. Nosso Santo está cansado de tantas fadigas e tantas lutas. Pão para as crianças, preocupações missionárias, capelas para enviar padres, tudo por fazer a cada dia. Não será em vão seus sacrifícios enormes, pois a Providência nunca abandona seus filhos. O céu se ilumina com um vulto de uma mulher celestial. Vem descendo do céu e vai se iluminando cada vez mais, fortemente. Ela pousa seus pés delicados sobre uma árvore florida. Maria veio coroar suas labutas com a esperança de uma multidão. Surgem jovens, crianças e adultos de todas as raças, de todos os povos.

 

Autor: Pe. Antônio Sagrado Bogaz; Prof. João Henrique Hansen e Nanci B. Oliveira.

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