O que sempre impele a decisão dos grandes homens a seguir a Deus, em todos os tempos, é a convicção de que não estarão sozinhos e que o Senhor que os chamam caminha à sua frente.
As características que posicionam os grandes homens de Deus nas primeiras fileiras são a coragem e a capacidade de tomar decisões, sempre voltadas à luz de Deus. Assim podemos perceber Abrão, que sai da sua terra e vai destemido ao comando do Senhor, mesmo que lhe pareça um tanto exigente e, até mesmo estranha, a ideia de oferecer o próprio filho em holocausto (Gn 22, 9-10). Podemos também tomar como exemplo bíblico o próprio Moisés, que tenta se esquivar e até mesmo apelar, ao ouvir o chamado de Deus, ao ponto de dizer: “Senhor eu não sei falar” (Ex 4, 10), mas na tomada de decisão, foi capaz de ouvir a voz de Deus e, por isso, tornou-se o libertador de um povo.
Essa dimensão do seguimento pode ser vista no Novo Testamento, sobretudo na figura dos discípulos que buscam associar a vida ao convite feito por Jesus que, ao chamá-los, não oferece nem casas, nem túnicas, nem dinheiro, mas diz com clareza e tranquilidade: “quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e segue-me” (Mt 16, 24), pois quem está demasiado preocupado com as coisas do mundo se perde e não encontra o caminho da fraternidade, da comunhão e da salvação. A coragem e a confiança em Cristo é tão forte que mesmo os riscos que o seguimento traz não são capazes de deter o homem ou a mulher dos nossos tempos a fazerem uma experiência profunda com o Senhor, a exemplo dos apóstolos.
Afinal, qual é a relação de Dom Orione, o homem de Pontecurone, e esses personagens bíblicos citados? Uma resposta rápida pode parecer insuficiente para fazer perceber todas as semelhanças, contudo, sem uma tentativa de esgotar as reflexões sobre o assunto, pode-se buscar perceber um detalhe que difere essas pessoas, que estão sempre envoltas em descobertas novas a cada acontecimento: todas têm uma grande capacidade de aproximar-se da compaixão de Deus, manifestada sobretudo no seu Filho Jesus. Buscam imitar os exemplos deixados por Ele.
Jesus, diante dos fracos e dos pobres, sempre buscou uma forma de aplacar, sanar de algum modo, as suas dores existenciais, sobretudo. No caminhar, curou o cego, ajudou o leproso, resgatou a prostituta, comeu com os pecadores, mostrou ao mundo qual era o seu papel no momento e no contexto em que se encontrava.
O Filho do Homem denunciou os poderosos de seu tempo: as velhas raposas que usavam do poder político e das leis para expropriar os pobres. A esses, proclamou que sem a conversão não entrariam no Reino dos Céus. Deixou evidente que seu Reino não é desse mundo, o que afrontava os mestres e doutores da lei, mas não recuou, não se vendeu, e isso, inexoravelmente, acabou levando à sua paixão e morte.
Dom Orione, por seu turno, acolheu as crianças em um pequeno oratório, foi ao encontro dos desabrigados do terremoto em Messina, buscou acalentar os órfãos, os deficientes, preocupou-se com as pessoas que não tinham onde estudar, morar, comer…
Santo Orione sofreu várias crucificações, diante das dificuldades para construir os lares, os abrigos, as escolas, devido à incompreensão dos ricos de seu tempo. Sofreu diversas calúnias que o fizeram perder noites e noites de sono, mesmo assim, seguiu em frente, pois sabia de sua missão de seguidor de Cristo.
Fica evidente que aos pés da cruz, Dom Orione se colocou diversas vezes, porque nela estava sempre o rosto do ressuscitado, que encoraja, direciona os que se põem a caminho. A relação com o Crucificado fica evidente na sua vida totalmente dedicada ao anúncio do Reino e a salvação das almas. Almas e almas! Bradava diversas vezes nos caminhos por onde passava. Seu apostolado em muitos momentos deixou claro que a partir dele, muitas pessoas encontraram um oásis de caridade e a certeza de que ele era e continua sendo um embaixador de Cristo por onde passa através dos muitos discípulos e discípulas que foram apresentados a Cristo por seu apostolado.
Dom Orione fez um caminho de buscas, de lutas, de justiça. Isso é muito significativo, pois deixa o rastro visível de quem buscou servir a Cristo e viver os seus ensinamentos sem se curvar aos erros e desmandos dos poderosos, mas ajoelhado para levantar os pequenos, os empobrecidos e os curvados pelo peso dos opressores. A garantia visível de um apostolado e um seguimento frutuoso denota no reconhecimento honroso que a igreja e o mundo o reconhecem com a aura da santidade, por sua vida dedicada e ofertada em holocausto em favor dos necessitados.
Pe. Edson Lima. P.O.D.P
Revisão e edição: Secretariado de Comunicação