ENTRE TANTOS, SULAMITA
Estamos em plena Paralimpíada. Neste espetáculo da boa-vontade, vemos pessoas deficientes fazendo o que muitos nos “padrões normais” não conseguem fazer. Gente que joga bola, corre, nada, pessoas que não param mesmo diante de problemas tão sérios de saúde. Gente coragem.
Nós mesmos conhecemos muitos deles, crianças e jovens com deficiências que são coroinhas, dançarinos e mesmo voluntários em obras sociais. Assim, nem é necessário ir longe para ver pessoas que, mesmo em momentos difíceis, fazem maravilhas. Entre tantos, citamos a simpática Dona Sulamita, do amável e paciente Sr. Valdemar. Se tem que cantar, mesmo tendo que enfrentar as escadarias do Coral da Capela Santa Gorete, ela arranja forças no seu espírito e vai corajosamente. Se precisar ficar em suas muletas e se movimentar para todos os lados, ela encara corajosamente o desafio.
Tem disponibilidade e coragem para pintar, cantar e mesmo visitar doentes. Em todas as atividades que requeiram sua presença, ela simplesmente participa com alegria. Ela aprendeu que para viver é necessário conquistar. É o desafio que ela faz e que deixa todos felizes em saber o quanto uma pessoa pode se dedicar a uma série de atividades sem que seus limites físicos possam interferir no resultado final.
Assim como D. Sulamita, temos visto outras pessoas lutando. Lembramos do Yves, amigo do Marcos Muniz, tão corajoso que nos contava:
– Depois do acidente, eu nunca pensei que teria minha vida de volta, foi tudo horrível e quando me vi na cadeira de rodas. Achei que tinha acabado tudo para mim. Hoje continuo tudo o que fazia, até com mais amor e mais paixão, a cadeira não me impediu de viver.
A Helen do Daniel, nossa querida amiga, também tem a sua cadeira de rodas e nem por isso deixou de viver e animar a todos que estão sem motivação para viver. Que vergonha!
– Não é a cadeira de rodas que vai tirar meus sonhos e projetos. Apenas os adaptei. A cozinha –disse-nos ela um dia – é uma delícia cozinhar. Tudo bem que de vez em quando atrapalha um pouco, mas impedir não mesmo, por acaso, vocês que comem meu arroz doce e falam tão bem dele, perdeu o sabor? Não, porque é feito com muito sacrifício e mais amor ainda.
A Paralimpíada mostra estes atletas nos dando uma lição de vida, pessoas que teríamos a impressão que precisaria ficar em casa, jogando cartas, e lá estão jogando bola e tantas coisas mais.
E vida é feita de desafios. Estes desafios que os deficientes estão fazendo, são dignos de nota, pois provam que o ser humano, mesmo diante da dificuldade, consegue resolvê-la, com força de vontade.
Temos vários amigos cegos e todos continuam trabalhando e fazendo sua parte social, participando de celebrações, conversando, ajudando, procurando dar o máximo de si e sem enxergar, mas enxergando o que o coração e a capacidade de cada um pode atingir. Basta recordar o Marcio da Andréia, pai do Guilherme, e o Marcos, da comunidade Santa Luzia. Assumem até mesmo atividades pastorais. Boa vontade e amor no coração.
Com isso, felicitamos D. Sulamina e tantos heróis de cadeiras de rodas e muletas, sem visão, mas com olhos na alma. Abraçamos todos os que lutam com suas deficiências e transformam sua vida num testemunho extremo de amor.
Não é difícil entender, pois muitas vezes não temos deficiências físicas ou mentais, mas somos “deficientes no espírito e na alma” e nem percebemos que não somos tão normais como pretendemos. Dona Sulamita e tantos portadores de deficiências são iluminados na alma e estão apenas desafiando todos os limites, para viverem com elegância e nos ensinar a viver bem.Com nobreza de alma e com gratidão no coração.
Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e
Teologia Sistemática – Cristologia
Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e
Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia