ÁRVORE GENTIL
OS PASSOS SERENOS DO PAPAI JOSÉ
Outro dia lemos uma história infantil, escrita pela Cidinha da Igreja Achiropita. Sua história contava que um dia, num parque, brotaram duas árvores e floresceram juntas. Uma delas, muito vaidosa, não admitia que os pássaros fizessem ninhos em seus galhos. Com deboche, dizia para a outra:
– Eu não quero viver toda suja de passarinhos, com uma barulheira incrível.
E se enchia de orgulho, como a rainha do egocentrismo.
"Não quero viver cheia de ninhos nos meus galhos. Sou uma árvore linda e não uma pousada destas avezinhas".
A outra olhou para ela e respondeu:
– Eu adoro ser uma árvore. Estou à disposição de todos os passarinhos para colocarem seus ninhos. Quero ver seus filhotes brincarem em meus galhos. Eu sou feliz assim. Estou sempre pronta para receber minhas avezinhas.
Que diferença! Assim é a vida, como é bom receber um passarinho que veio nos alegrar com seu canto e com sua presença. Tudo é tão belo quando acreditamos naqueles nascem para nos mostrar a bondade e o amor.
Estamos falando de nosso querido amigo, Pai José Tomazella, esposo de Mãe Maria e pai do Padre Rodinei, Rose (Táta), Nina e Rael. Sem contar os "filhos do coração", netos e todos nós, que nos sentimos órfãos com a sua partida para a Casa Eterna. Lembramos de um poema da Adélia Prado: "pensei que somente das crianças se diziam “órfãs". Estamos todos um pouco órfãos nesta manhã.
Visitamos o papai José. Ele estava todo feliz que iria fazer uma cirurgia e ficar bom. Rezamos. Na manhã do dia da cirurgia, Deus o chamou e o levou consigo. Nem pensamos em brigar com Deus; afinal nós ficamos tantos e tantos anos com Pai José, gostamos tanto e queríamos mais, mas Deus também queria o Pai José para alegrar o céu.
Assim, tivemos que entender que Deus não nos tirou o Pai José. Era um presente, voltou para o paraíso, seu lar.
Quando estávamos indo nos encontrar com a família Tomazella, a primeira coisa que pensamos foi levá-lo para a nossa árvore. Nossa árvore, nossa família orionita, adora receber passarinhos, se alegra com seus cantos contentes. Oferecemos a casa de Deus para que ele ficasse mais pertinho de todos e todos pertinho dele. Que alegria, a família aceitou.
E nós da árvore da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, ficamos imensamente felizes de vê-lo nesta última caminhada junto a nós.
Como nossa árvore não tem um bosque cheio de flores, tanta gente mandou muitas e muitas flores de todos os tipos. A Igreja virou um jardim.
Apesar da tristeza de nossos corações, pela nossa despedida de Pai José, nos sentimos como a árvore, feliz por ter um ilustre hóspede e outros tantos que são a família e amigos que reunidos rezaram, participaram das missas e trocaram afetos.
A vida é assim, Pai José foi um passarinho bom demais, fez seu ninho numa árvore e teve seus filhotes, soube educá-los, amá-los e após sua jornada, Pai José se despediu.
Quando recebia alguém, era somente simpatia e querer bem. Ninguém sabia o que fazer para que todos em sua casa fossem bem recebidos. Deus estava ali sempre presente. Sempre será lembrado por ter sido um homem de Deus, ajudando seu próximo, ajudando e contribuindo para tantas obras e tantas coisas boas que fez em vida.
Vá, papai José e conta lá no Alto que aqui uma árvore ficou mais triste, mas certamente o céu ficou mais feliz por sua chegada. E nós, sejamos árvores acolhedoras, que aninham os passarinhos, que depois nos alegrarão com seus cantos.
Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e
Teologia Sistemática – Cristologia
Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e
Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia