AMIGOS SÃO OÁSIS
PROCURANDO A FAMÍLIA THOMAZELLA
Após a Missa do Galo, como é conhecida no Brasil, a missa celebrada na noite da véspera do Natal, fomos visitar a Família Thomazella. Estávamos ainda fascinados pela celebração com centenas de pessoas felizes, crianças cantando músicas natalinas e o presente para o Menino Jesus. Foram mais de mil presentes colocados aos pés do menino Jesus, que foram levados pelos vicentinos para as crianças da periferia.
Abraços aos fiéis, com alegria e pé na estrada. Nunca tínhamos ido à noite lá no sítio e simplesmente esquecemos de perguntar o quilômetro da residência. Mas… como já tínhamos ido anteriormente e várias vezes a tarde, achamos que seria simplesmente fácil. Nem é necessário dizer que passamos pelo sítio sem vê-lo. Era tudo escuridão. Ainda mais, a neblina leve e suave dava a sensação que realmente estávamos perdidos.
Fomos em frente. Nos momentos de indecisão, a memória fabrica fantasias. Perdemos a coerência entre a certeza e a dúvida. São trapaças da mente humana.
Num posto policial, o Tenente Marcos, nos atendeu com grande simpatia e interesse. Mas ainda estávamos perdidos. Os caminhões passavam rapidamente e nos assustavam. A Rosária estava conosco e no silêncio parecia rezar.
No momento em que estamos perdidos, a angústia nos assalta e perdemos mesmo o bom senso e a memória inventa mais fantasias. São frutos do medo. Entramos no local e eis que aparece algo nunca dantes visto. Carros e carros e um ambiente de festa. Paramos e fomos perguntar.
Nos atenderam. Era a família do tio João Thomazella, tio do Padre Rodinei. Como a vida tem surpresas bonitas. Fomos acolhidos numa outra festa com grande alegria. Que gente maravilhosa. Abraçamos a todos, comemos e ainda levamos quitutes para casa. Feita a visita relâmpago, eis que chegamos na casa dos nossos anfitriões.Todos estavam nos esperando.
– Ainda bem que chegaram – disse a Tata.
– Estávamos indo para a Rodovia esperá-los, com lanterna e tudo – disse o Tibico.
Os pais José e Maria Thomazella nos ofereciam de tudo, como que querendo agradar.
A Nina, o Raelton, a Tata, o Pe. Rodinei, e os sobrinhos tão simpáticos colocavam doces à nossa frente.
Foi uma alegria muito grande encontrar “seu Zé e dona Maria”, com o carinho de sempre recebendo as pessoas, do Padre Rodinei, da Tatá e do Tibico, noras, genros, netos, parentes, sogras, sogros e tanta gente. Como é maravilhoso ter uma família. Mas família a gente constrói, tecendo laços afetivos na alegria, na doença e na adversidade.
Comentamos sobre algumas pessoas que não tem família e não podem ir para suas casas, pessoas que infelizmente estão de fato perdidas na estrada da vida e não tem que as receba, nem família e nem amigos no Natal.
São os preferidos de Deus. Passam sozinhos e sem ninguém estes momentos familiares, esta alegria que deve se repartida com todos. Existem mesas vazias, porque existem corações vazios.
Nem é necessário dize
r que nos sentimos em casa, com estes amigos, que não saem do coração. Cada vez que estamos juntos, o riso vem naturalmente e tudo o que falamos é do bem que cada família irradia no mundo.
A vida é feita de esperança. E devemos alimentar sempre este sentimento, sobretudo nos momentos difíceis. Poucos minutos antes estávamos perdidos na estrada. Rezamos e não nos desesperamos. Procuramos manter a calma, pois facilmente nos tornamos agressivos nos momentos de aflição e acabamos por maltratar as pessoas mais queridas. Tantas famílias, como a família Thomazella, são amparo das gerações.
Voltamos para casa com o coração leve e feliz. Para quem estava ligeiramente perdido na estrada, encontramos o oásis no coração dos amigos. Certo, assim, o coração dos amigos e benfeitores é o oásis no deserto de nossas vidas. Que seja assim a cada dia deste novo ano.
Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e
Teologia Sistemática – Cristologia
Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e
Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia