AÇÕES BENEMÉRITAS
MUTIRÃO DE SANGUE PELO GILBERTO
Numa conversa animada com a Dona Neusa do “seu” Sérgio Bianchini e a simpática Dona Lourdes Varzeloni, ouvimos dizer como nossa crônica é apreciada. Elas esperam com ansiedade a manhã de sábado para lerem nossa “breve história”. Bem, recebemos nestes dias a Relíquia do Sangue de São Luís Orione. Um homem santo que deu sua vida pelos pobres, seguindo o exemplo de Jesus que derramou seu sangue por toda a humanidade. Ocorreu-nos recordar um acontecimento antigo, onde muitos jovens deram o sangue por seu amigo. Nestes tempos em que tantos malfeitores não apenas negam seu sangue, mas sugam o sangue dos irmãos mais pobres,como vampiros, que acariciam e atacam, este fato nos toca o coração e quem sabe nos converta um pouquinho.
Passaram muitos, muitos ano desde a realização deste acontecimento, que passamos a relatar. Chamava-se Gilberto, o jovem, que pertencia ao Grupo de Jovens Raízes. Este era um dos numerosos grupos da Paróquia. Tempos áureos da juventude. Bem, não é bem assim, pois os grupos de jovens continuam vibrantes em nossa comunidade. São outros grupos, mas são os mesmos sonhos; Grupo Abba, Águias, Juntos, Arte Deus e tantos outros. Tempos do Josumar, do Rodinei, do Tarcisio, sem os títulos de padre, ainda.
Naqueles dias, soubemos que o Gilberto, um jovem adorável estava muito doente. Sua família era muito pobre, pobre mesmo da Comunidade São Francisco. Todos os jovens se reuniram para rezar por sua saúde.
– Rezar está bem – disse a Silvinha do Grupo Vida – mas basta assim?
– Tem razão a Silvinha, entrecortou a Marlene, precisamos fazer algo de concreto por sua família.
– Soube que a família está passando necessidades. Ele parou de trabalhar e era o que mais ganhava para sustentar a família.
O Giovani, seu irmão, estava na reunião e nada dizia.
– Vamos fazer uma “vaquinha” mensal. Façamos uma lista com contribuições mensais.
Todos concordaram e isto se resolveu com certa facilidade. O Helinho ficou com a responsabilidade de organizar a coleta. A Soninha do Grupo Semente aceitou fazer as compras e entregar para a família.
A saúde do Gilberto foi se agravando. Descobriu-se que ele tinha problemas mais graves e fazia-se necessário um transplante de medulas. Tantos anos atrás, a cirurgia era muito delicada e de alto risco.
Nova reunião e eis a juventude toda em polvorosa. Maravilhoso era perceber que o sofrimento do amigo jovem mobilizava todos os companheiros.
A grandeza do ser humano está em sentir a dor do próximo e estender a mão em seu socorro.
Gilberto foi internado num hospital em Curitiba. Diziam que era a cidade mais equipada para este tipo de tratamento, além de que os Orionitas o hospedaram, com sua família. Pe. Luis Oliveira acolheu a família com muito carinho e dedicação.
Organizou-se uma grande campanha para a coleta de sangue. Veio uma unidade de saúde do hospital. Assistimos ao espetáculo de solidariedade humana. Os jovens vieram para doar sangue. Eles corriam pelos bairros e convidam as pessoas que estavam nas casas, no trabalho e tantos lugares. Em cada esquina que encontravam pessoas reunidas, os jovens as abordavam, contavam a situação e, se acolhidos, caroneavam para a coleta de sangue. Impressionante como os jovens subiam nos ônibus circulares e clamavam as pessoas para doarem sangue. Tantos passageiros desciam do transporte público para fazer uma boa ação.
Foram aproximadamente quinhentos doadores. Os jovens ficaram felizes, como se tivessem participado de uma grande missão; a maior missão de suas vidas.
– Quase quinhentos doadores. Nunca vimos nada igual.
– Quantos faltam, perguntou a Denise. Quantos faltam para os quinhentos.
Não eram tantos os faltantes. Os jovens ainda encontraram fôlego para saírem pelas ruas do bairro para encontrar mais doadores.
– Chegamos aos quinhentos.
Foi uma alegria geral. A presença silenciosa do Gilberto impulsionava todos os corações. Alguns mais novos nem o conheciam bem, mas eram tomados pela ansiedade de salvar sua vida. Afinal precisavam de pelo menos trezentos doadores. Chegaram aos quinhentos.
As notícias da saúde do Gilberto chegavam a cada dia. As relações entre os jovens ficaram cada vez mais intensa e profunda. O coroamento de tanta dedicação e solidariedade teve um coroamento, infelizmente, muito triste.
Ainda hoje os jovens se recordam daqueles dias, tão formidáveis, que marcaram suas vidas para sempre. O capítulo ¨Gilberto¨ foi um dos mais importantes da sua juventude e torna-se uma referência curricular de sua espiritualidade.
Com os anos que vão passando, todos nós temos histórias para contar; histórias bonitas onde fomos protagonistas, quase heróis. Todos nós queremos contar para nossos amigos, nossos filhos, nossos companheiros de caminhada que em algum momento de nossa vida servimos uma causa humanitária, que encontramos tempo em nossa agenda para servir os irmãos de forma gratuita e generosa.
Tantas campanhas são feitas para socorrer flagelados, para socorrer animais, para desratizar o bairro ou para limpar uma várzea.
Importa sim, mas não importa tanto a conclusão dos fatos, pois nem sempre as coisas tem o desfecho que esperamos com tanta ansiedade.
No primeiro momento, queremos a vitória, mas afinal fica a graça de ter participado de uma grande missão. Devemos aprender que na vida devemos estar felizes com as coisas que realizamos. Se houver frutos vitoriosos, tanto melhor, mas se não houver os frutos da vitória, valeu a pena de servir por uma causa maravilhosa.
Padre Antonio Bogaz e Professor João Hansen