Resgate histórico da missão orionita no Brasil

 

     Desde as primeiras fundações, Dom Orione pensava nas missões, e concretamente, no envio de missionários ao Brasil.

A primeira ideia foi a de enviar missionários à África. Mas Dom Orione sabia que as missões na África corriam sempre o risco de servir ao imperialismo europeu. Bom estrategista, ele concebeu a ideia de enviar primeiramente missionários ao Brasil e enviar para a África descendentes de Negros, para evangelizar os Africanos. Falou desse projeto ao Bispo de Tortona. Dom Bandi julgou uma loucura; a Pequena Obra estava nos inícios e não tinha nenhuma possibilidade de enviar missionários para outros países.

    A Madre Michel tinha enviado suas religiosas ao Brasil e insistia com Dom Orione que enviasse seus missionários para cá. Em 1907, o Arcebispo de Mariana, Dom Silvério escreveu a Dom Orione oferecendo-lhe uma missão num território de 150 quilômetros quadrados. O jovem Fundador continuava disposto a insistir no projeto, mas precisou adiá-lo porque em 1908 sobreveio o terremoto de Messina, a nomeação de Dom Orione para Vigário Geral e só depois de três anos ele voltou a pensar no envio de missionários ao Brasil.

    Em 1912 Dom Orione emitiu a profissão perpétua nas mãos de Pio X e falou ao Papa do projeto missionário no Brasil… e Pio X lhe confiou a Patagônia da atual paróquia romana de Ognisanti. 

    Pouco depois, todavia, veio a autorização para a Missão no Brasil e no dia 17/12/1913 partiram os primeiros Missionários da PODP para o Brasil[1]; desembarcaram em Santos no dia 29/12/1913 e seguiram para Mar de Espanha-MG, chegando lá no dia 02/01/1914.

    A primeira Casa orionita no Brasil foi dedicada a Imaculada Conceição; o Pe Dondero pedia a Dom Orione mais algum confrade sacerdote e Dom Orione escrevia: “A missão é promissora, mas eu preciso de santos”.

     A primeira fase da Missão no Brasil, de 1914 até 1940, ano da morte de Dom Orione, foi de vinte e seis anos e foi um calvário.  De Mar de Espanha os orionitas, depois de choques e fracassos, saíram expulsos.

    Dom Orione esteve no Brasil duas vezes. Pensou criar um ramo da PODP para descendentes de Negros e Índios; só teve apoio de Dom Silvério, que logo em seguida faleceu. Outros Bispos faziam declarada oposição, alegando a proibição de receber membros das “raças infectas: Índios, Negros e Judeus”.

     No entanto, convidado a visitar a Argentina, lá Dom Orione ficou três anos, nos quais organizou a Congregação e constituiu lá a sede provincial para a América do Sul. Ao voltar para a Itália, deixava a Congregação no Brasil com apenas duas pequenas paróquias e um minúsculo orfanato no Rio de Janeiro.[2]

    Do alto do Corcovado, Dom Orione despediu-se do Brasil, prometendo que “depois de morto, faria pelo Brasil, o que não pudera fazer durante a vida”.

    A Segunda fase da Missão Orionita no Brasil pode ser considerada a que vai de 1940 até 1985; 45 anos, de extraordinário crescimento da PODP. Em 1941 foi criada a Casa de formação em Paraíba do Sul, em 1943 o Noviciado; em 1945 nasceu a Casa de Formação religiosa em Miguel Burnier –MG.

    O número de Candidatos subiu para mais de cem. As Profissões Religiosas se multiplicaram. As primeiras Ordenações Sacerdotais foram em 1946. Em 1947 foi criada a Província de Nossa Senhora de Fátima, com sede no Rio de Janeiro. Em 1985 a Província brasileira se dividiu em duas: a de N. S. de Fátima, em Brasília e a de N. S. da Anunciação com sede em São Paulo.

    Em 1985 o número de Religiosos nas duas Províncias era de165 Religiosos, sendo .86 Sacerdotes, 8 Irmãos e 71 Clérigos. (E havia também o  Bispo orionita Dom Aloísio de Pinho).  Entre as Obras de Caridade cabe destacar a antiga “Missão de Goiás”, com atividades eclesiais, de educação e saúde, e que deu origem à Diocese de Tocantinópolis e criou o Hospital Dom Orione de Araguaína; surgiram os Cotolengos de São Paulo, Curitiba e ainda Casas de Caridade, entre as quais, o Lar dos Meninos de Belo Horizonte, o Amparo de Porto Alegre o Abrigo da Velhice em Rio Claro-SP. Dezessete Paróquias foram confiadas à Congregação, todas desenvolvendo obras sociais, sendo notável a Paróquia de N.S. Achiropita que acolhe e dá diariamente alimentação a várias centenas de moradores de rua e a outras pessoas carentes.

    Paralelamente, em 1949 chegaram ao Brasil as  primeiras  Irmãs    orionitas (Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade – PIMC), que rapidamente se multiplicaram e atualmente têm 18 Casas sendo 2 em Cabo Verde, e que, por sua vez, criaram a Província N, S, Aparecida. Hoje, no Brasil, as PIMC são 109, das quais 4 são Sacramentinas.

     De 1985 aos dias de hoje deste ano de 2012 temos a Terceira Fase da PODP no Brasil. Nestes últimos 27 anos, alegres com a Canonização de Dom Orione, a Beatificação de Francisco Drzwiecki e com os confrades e coirmãs em processo de beatificação, alegramo-nos com novas fundações e a abertura missionária em Moçambique e a presença em missões na Ásia. Alegramo-nos também com numerosas novas fundações: os  Cotolengos de Campo Grande-MS de São José-SC, o de Caucaia-CE e o de Brasília-DF e com as novas fundações, entre as quais, a dos Eremitas da Divina Providência em Valença-RJ, e a fundações no Espírito Santo, em Goiás, no Centro-Oeste em Poxoréu-MT, e em Buritis-Rondônia. Ao mesmo tempo vivemos, com todos nossos Irmãos e Irmãs da Vida Religiosa de outras Congregações, alertados pelo convite e apelo da CRB para a Recriação da Vida Religiosa.

 

                                                                                     Pe. Renato Scano


[1] Eram eles: o Pe. Dondero, o Irmão religioso Carlos Germano e o Leigo Sr. Júlio. A eles se uniu, pouco depois o Pe. Ângelo De Paoli.

 

[2] As paróquias eram a de “Saco de São Francisco” em Niterói e a de “São José do Bixiga” (atual Paróquia de N. S. Achiropita) em São Paulo; as duas paróquias tinham sede em pequenas igrejas e quase  nenhuma obra social. O orfanato era o da Rua Lopes Quintas no Rio de Janeiro e acolhia umas vinte e poucas crianças.