NOVAS VELHAS FOTOGRAFIAS
a exposição, os devaneios e as lembranças
O Casarão da Cultura estava aberto à noite para acolher os visitantes da festa da Matriz São João Batista. Havia uma exposição de fotografias da nossa cidade, Rio Claro. A Ilídia estava lá recebendo todos que lá chegavam. Ah, a Ilídia é a filha da grande artista Olga Faneco. Quando a fotografia nos chama atenção, ali está algo que certamente conhecemos bem, mas nunca sob a ótica fotográfica. Os velhos retratos captam momentos inesquecíveis. A arte, simplesmente, existe para retratar aquele instante em que a luz, a lente e a velocidade se fazem presentes para imortalizar a figura exposta. Mas a fotografia explicita nestas imagens nossas emoções mais profundas. E de repente, uma delas no meio de tantas, por motivo de nossa história, de uma saudade ou de um momento mágico em nossas vidas, faz com que mergulhemos em nossas memórias do espírito, guardadas nos nossos álbuns familiares ou nos nossos corações. Foi o que aconteceu conosco. Naquela noite, como num toque de magia, recordamos momentos especiais de nossas vidas.
Recordações são lembranças deliciosas. De fato, algumas fotos publicadas em jornais ou revistas adquiriram uma universalidade impressionante. Lembramos-nos de algumas, aquela de Paris com um soldado beijando uma garota de felicidade pelo término da guerra, da menina vietnamita queimada correndo aos gritos e chorando de dor, das tropas americanas colocando a bandeira americana em cima de um mastro, entre tantas…
Mas, lembrando das fotos, acabamos entrando, enfim, na nossa casa-alma, nosso castelo interior, como dizia Santa Tereza D´Avila. Ninguém pode deixar de lembrar as fotos típicas que permearam a nossa vida. Os “personagens” iam, normalmente, em um pequeno estúdio e lá faziam suas poses. Somente mais tarde começaram a fotografá-los em outros ambientes como parques, ruas e clubes. Existiam ainda fotos da família inteira, quando celebravam bodas, aniversários e até mesmo, pasmem, funerais.
As fotos eram planejadas, especiais. Em nossos dias, desperdiçamos tempo, porque a câmera faz tudo isso e depois simplesmente colocamos em nossos notebooks, enviamos por e-mail aos familiares, amigos, redes sociais da vida, e tudo se perde na multidão. As fotos não têm histórico e nem mesmo história.
O mundo mudou mesmo, mas as fotos jamais perderam o encanto, seja nas exposições ou em nossas vidas. Sempre foi comum mostrar as fotos, guardadas com carinho nas carteiras para os amigos verem nossos filhos ou netos. Alguém pode até dizer que este é o mundo atual. A festa está em andamento e já vai para as redes sociais ao mesmo tempo. Interessante e triste, porque com isso perdemos a chance de esperar a revelação, a cópia das fotos, esperar com prazer o resultado, fazer um pequeno álbum e mostrar para os amigos. Era um evento. A caixinha do segredo se rompeu, esfacelou.
Podemos parecer meio antigos, meio saudosistas com estas ideias, mas o charme da fotografia é vê-la como foi concebida originalmente, como um retrato, um quadro especial. Mesmo com a imprensa escrita e ao mesmo tempo virtual, ainda, muitos, preferem ver o papel, seu toque, sua arte. Eterniza.
O mais importante de tudo é guardarmos em nossos corações as imagens de nossos afetos mais caros, principalmente daqueles que estão distantes. Nem precisamos olhar as fotos, fechamos delicadamente nossos olhos e lembramos-nos de cada um como eram em vida. Existem fotografias mais lindas do que estas?
Pe. Antônio S. Bogaz (orionita) , doutor em filosofia e teologia
Prof. João H. Hansen, doutor em ciências da religião