A história do padre Ricardo Gil
Barcelón
Por Diácono Aparecido da Silva
INTRODUÇÃO:
Na
História do Cristianismo, percebe-se que inúmeros homens e mulheres deram suas
vidas por amor total a Cristo. Assim como tantos heróis de resistência
derramaram seu sangue por fazer de suas vidas opção a Jesus Cristo, quero lhes
apresentar o relato e a história de dois confrades Orionitas que a exemplo de
tantos mártires, foram martirizados por aderir a fé em Jesus Cristo.
Pe Ricardo Gil Barcelon
nasceu em Manzanera, na Província de Teruel, na Espanha, no dia 27 de outubro
de 1873.
A
família Gil tinha origem nobre com raízes que vinham desde o século XVI e tinha
o título de “Hidalgo de la Confradia de la Casa Real.” Os pais, Francisco Gil
Zuriaga e Francisca Barcelon Santafé, eram honrados e piedosos e todos sabiam
que quando Dona Francisca fazia funcionar o forno caseiro, nunca deixava de
enviar os filhos a distribuírem pão nas casas dos mais pobres da redondeza.
Aos
doze anos, Ricardo entrou para o seminário de Teruel. Cursou nos anos seguintes
a Escola Normal e esteve próximo de se formar professor de escola primaria, mas
teve uma controvérsia frontal com o Diretor da Escola por motivos religiosos e
acabou sendo expulso.
Tinha
dezenove anos quando iniciou o serviço militar. Foi destinado a servir nas
Filipinas. A família queria se empenhar para livrá-lo desta destinação, mas ele
ensistiu que queria fazer essa experiência de servir à Pátria lá no exterior.
Serviu por quatro anos e nas horas de folga, freqüentou na Pontifícia
Universidade de manilha cursos de filosofia e teologia: a Universidade era
dirigida por Dominicanos e ele se tornou amigo de Bonaventura Paredes, o futuro
Diretor Geral dos Dominicanos. No dia 24 de setembro de 1904 ele recebeu a
ordenação sacerdotal na catedral de manilha e o Arcebispo de manilha lhe
confiou vários encargos no Arcebispado.
Pe
Gil, passou pelo tempo da Formação inicial, como Aspirante, Postulante e
Noviço; reencontrou cada vez mais a alegria vocacional e o sadio equilíbrio
pessoal. Foi admitido à Profissão Religiosa e, nos anos seguintes assumiu na
Congregação tarefas de responsabilidade, especialmente em obras de acolhimento
de órfãos e meninos pobres: exerceu também apostolado em paróquias confiadas à
Congregação e, em todas essas atividades se revelou como homem de fé e fiel
discípulo e apóstolo de Deus.
A
mudança não é nada favorável à Igreja, pelo menos por ora, porque os
republicanos são na quase totalidade inimigos da Igreja. Deus tenha pena da
Espanha. Eu me coloco inteiramente nas mãos de Deus e, em tudo que não for
diretamente contrário às leis de Deus e às disposições da Igreja, vou obedecer
a todas as leis do novo governo.
Nos
meses seguintes, durante o verão de 1931, a família insistiu muito com o Pe Ricardo
Gil para que saísse de Valência, queriam que ele retornasse à tranqüilidade dos
dias de Torrijas, onde podia viver sem problemas. O seu cunhado, o Dr.Jesus
Montolio Marzo, sofria muito cada vez que encontrava o Pe. Gil pelas ruas da
cidade, porque previa muito bem o furação que estava para se abater contra a
Igreja e contra que quer que a ela estivesse ligado.
Depois
do dia das eleições de fevereiro de 1936 que terminaram com a vitória da
“Frente Popular” o clima de intimidação da Igreja se tornou prepotente. Pe Gil
sentiu isso desde o momento em que ele e seu companheiro Arrue foram ao local
onde deviam votar naquele dia fatídico. Suportaram ameaças, zombaria, acusações
e um desconhecido, grandalhão, violento e robusto, se aproximou do Pe.Gil e
parecia estar a ponto de liquidar com ele, não fosse um homem que se colocou
entre os dois e impediu a agressão. Mas o Pe. Gil em nenhum momento se
apavorou. Tranquilamente, em meios as provações, esperou sua hora de votar e
quando chegou a sua vez não hesitou em bradar em alto e bom som para que todos
ouvissem: Viva Cristo Rei!
Pe.
Gil continuou a rodar pela cidade arrecadando donativos e alimentos que
distribuía em suas visitas aos pobres. Não parecia ter nenhuma preocupação com
os tempos inseguros em que vivia. Sua única preocupação era a de não vestir a
batina, mas usar roupas civis como faziam todos os padres de Valência. Alguém
um dia, o advertiu que tomasse muito cuidado, porque era conhecido como padre
por toda gente, e que por precaução não deixasse de levar sempre algum
documento de identificação civil. Em resposta ele abriu o paletó e mostrou o
crucifixo que trazia sobre o peito dizendo que era o seu melhor documento de
identificação; e quando lhe responderam que desse jeito seria morto sem nenhuma
demora, ele respondeu que se deus permitisse isso ele bendiria a santa vontade
de Deus.
Várias
vezes policiais vieram à procura dele e não o encontraram, provavelmente porque
ele realmente quase nunca estava em casa e também porque ele morava num
condomínio popular e os visinhos o estimavam e procuravam esconde-lo dos
policiais.
No
dia primeiro de agosto de 1936 uma escolta policial voltou em busca dele.
Vieram em uma viatura da policia e fizeram uma varredura no condomínio,
disposto a localizá-lo. A primeira coisa que procuraram no pequeno quarto dele
foi um baú em que tinham informação de estarem escondidas armas. Só havia
livros de reza e documentos religiosos; o baú foi jogado na rua e queimado.
Afinal encontraram o Pe. Gil e ao verem a pobreza digna de dó em que ele vivia
o convidaram a ingressar no grupo deles, mas ele recusou no instante. Ordenaram
então que ele desse uma viva à república Marxista e Maçônica. E o grito dele
foi: Viva Cristo Rei! Foi detido no mesmo instante; quando estava para sair com
ele, os policiais viram um rapaz que chega correndo e suplicava que não
fizessem aquilo com o Pe. Gil. Os policiais perguntaram: quem é você e porque
esse interesse todo com o padre; ele disse eu sou colega dele, ajudo no socorro
aos pobres: os policiais não quiseram ouvir mais nada e decidiram, entre junto
com ele e vocês dois vão para o mesmo passeio. Os dois orionitas foram levados
num carro com as temidas iniciais F.A.I. (Força Anárquica Internacional) pela
rua teruel e de lá diretamente para a praia de saler. Palco das mortes de
inumeráveis padres, religiosos e leigos católicos.
O
soldado Gonzalo Pérez, natural de Torijas, estava em serviço lá na praia de
Saler no dia seguinte da prisão dele e atestou que assistiu o fuzilamento do
Pe.Gil que morreu erguendo nas mãos o crucifixo, aquele mesmo que sempre levava
debaixo do paletó, bradando Viva Cristo Rei.
Os
corpos foram sepultados no dia 5 de agosto em Vala comum no Cemitério
Provincial de Valência. Pe. Gil, seu colega o Aspirante Antônio Arrue,
igualmente a numerosíssimos padres e leigos católicos, foram mortos, unicamente
pela fé.
BIBLIOGRAFIA
PELOSO,
Flávio. Também vós beberão do meu cálice:
Padre Riccardo Gil Barcelón e Antônio Arrue Peiró mártires orionitas na
Espanha. Roma: Borla, 2002.