A vocação e a identidade do sacerdócio


A vocação e a identidade do sacerdote

João Paulo II nos
diz, na Pastores Dabo Vobis, e o Doc.
93 da CNBB (Diretrizes para a formação dos presbíteros da Igreja no Brasil)
recorda que “A vocação sacerdotal é um
dom de Deus, que constitui certamente um grande bem para aquele que é o seu
primeiro destinatário. Mas é também um dom para a Igreja inteira, um bem para a
sua vida e missão
. (Doc. 93, n. 104).
Portanto, ser sacerdote é um privilégio.
Não para se sentir  “maior” ou “melhor” do que os outros, o mais
importante, para ser servido; mas  ao
contrário, a exemplo de Jesus, é ser um servidor do querido povo de Deus. Ser
sacerdote é uma bonita vocação, é um dom de Deus; e quem recebe um dom, recebe
também uma tarefa. E é justamente sobre esta tarefa que eu gostaria de tecer a
minha reflexão.

1.
A

identidade do sacerdote

Uma primeira
reflexão é sobre a identidade sacerdotal. Somos um povo sacerdotal. Por força
do batismo todos participamos do sacerdócio comum de Cristo, participamos da sua
tríplice missão: sacerdotal, régia e profética. Mas quis o Senhor escolher
alguns e colocá-los à frente de seu povo para orientá-lo, conduzi-lo e santificá-lo.
Cristo associou os Apóstolos à sua própria missão: “Como o Pai me enviou, assim
eu vos envio a vós” (Jo 20,
21). A configuração a Cristo, mediante a consagração sacramental (ordenação), define o sacerdote no seio do Povo de
Deus, fazendo-o participar a seu modo
no poder santificador, de magistério e pastoral do
próprio Jesus Cristo, Cabeça e Pastor da Igreja.

A identidade
sacerdotal nasce da configuração a Cristo daquele que recebe a imposição das
mãos do Bispo.  Esta configuração é tão
íntima que faz o sacerdote um “alter
Christus”
. “Do ser configurado com
Cristo decorre um agir conforme ao de Cristo”.
(Doc. 93, n. 50). Assim, o
sacerdote encontra a sua “razão de ser”
na união vital e operacional da
Igreja com Cristo. Nele, o Senhor continua a exercer no seu Povo aquela atividade que só a
Ele pertence, enquanto Cabeça do seu Corpo, que é a Igreja. Pela sua ação o
sacerdote torna tangível a ação
própria de Cristo. Assim sendo, a identidade do sacerdote deriva desta participação específica no Sacerdócio
de Cristo. Portanto, o ordenado se torna, na Igreja e para a Igreja, imagem real, viva e transparente de
Cristo Sacerdote. É a representação
sacramental de Cristo Cabeça, Pastor e servidor do povo de Deus. É uma
responsabilidade muito grande!

2.
O que se espera de um padre?

O nosso povo tem um
carinho muito grande pelos seus padres. Espera que ele seja sinal da bênção de
Deus. Nós não temos o direito de frustrar esse povo. E mais, temos a obrigação
de corresponder ao que ele espera de nós. O nosso povo espera que sejamos
amigos na fé e padres segundo o coração de Jesus Cristo.
Aquele que foi escolhido para o
serviço do povo de Deus, que recebeu a imposição das mãos do Bispo e foi ungido
para esta missão, tem o dever especial de ser sinal da santidade. Em que
consiste a santidade? Podemos dizer que santidade significa “ter os mesmos
sentimentos” de Jesus Cristo: verdadeira paixão pelo Reino, profunda compaixão
pelo próximo, sobretudo os mais sofredores. Assim, o padre
deve evitar as formas de vida que não estão de acordo
com o próprio ministério. O sacerdote é ministro de Cristo e da sua Esposa.

Sem esgotar tudo o
que se espera de um padre, passo a elencar alguns pontos que considero
fundamentais a respeito do que se espera de um sacerdote:

a)   
que
seja sinal sacramental da presença de Cristo
: que exerça sua
função sacerdotal: tornar presente o Cristo, cabeça do Corpo. Anunciador de
Cristo e não de si mesmo;

b)   
que
seja homem da Igreja e do povo
: por força da ordenação,
o padre não se pertence a si mesmo, mas a Cristo e à Igreja. Através do
mistério de Cristo, o sacerdote é inserido
também no mistério da Igreja, e
torna-se participante de Cristo “Servo
e Esposo da Igreja”. O presbítero deve ser fiel à Esposa, tornando operante a multiforme doação
de Cristo à sua Igreja. Chamado por um ato
de amor, absolutamente gratuito,
o sacerdote deve amar a Igreja como
Cristo a amou, consagrando a ela todas as suas energias e dando-se com
caridade pastoral até dar quotidianamente a sua própria vida. O sacerdote não poder exprimir o seu amor ao Senhor
e à Igreja sem traduzi-lo em amor real
e incondicionado ao Povo cristão. Sendo homem da Igreja ele é também o
homem do povo. O sacerdote deve recordar sempre que o Senhor e Mestre “não
veio para ser servido
, mas para servir” (Mc 10, 45) e que se ajoelhou a lavar os pés dos seus
discípulos (cf. Jo 13, 5).
Portanto, dará autêntico testemunho do
Senhor Ressuscitado se exercer a autoridade gastando-se no humilde serviço.

c)   
que
seja o homem da oração
: O sacerdote deve ser profundamente
vinculado à oração. Não há fecundidade pastoral sem fecundidade espiritual.
Jesus Rezou, alimentou a sua experiência de Deus para fortalecer-se no
ministério público. Portanto, ao sacerdote é necessário o silêncio e a oração
para cultivar e aprofundar a relação existencial com a pessoa divina do Senhor
Jesus.

d)   
que
seja o homem da Palavra
(educador da fé): o sacerdote deve
encontrar na Palavra de Deus a fonte de sua fidelidade e de sua
espiritualidade. Em virtude da ordenação, o padre torna-se mestre da Palavra,
ministro dos sacramentos e guia da comunidade. Não convencerá ele, o seu
rebanho, da necessidade de nutrir-se da Palavra de Deus se não for ele, por
primeiro, um homem que se nutre da Palavra do Senhor.

e)   
que
seja o homem da Eucaristia
: não existe sacerdócio sem
eucaristia. Existe uma conexão íntima
entre a centralidade da Eucaristia, a caridade pastoral e a unidade
de vida
do presbítero. Espera-se do sacerdote que ele seja um homem
eucarístico, que ame a eucaristia e que cultive esse amor na vida do povo. “O sacramento da Ordem foi instituído na
última ceia com a Eucaristia e em função dela. A Eucaristia ocupa o centro da
vida do presbítero, devendo ele celebrá-la a cada dia, conforme recomendou João
Paulo II, na encíclica Ecclesia de Eucharistia. A Eucaristia é a fonte
principal da espiritualidade presbiteral, fundamentando o sentido do ministério
do presbítero.”
(Doc. 93, n. 51). Ao presidir a eucaristia o sacerdote o
faz “in persona Christi”; portanto, se
o presbítero empresta a Cristo a inteligência,
a vontade, a voz e as mãos para, mediante o seu ministério, poder oferecer ao Pai
o sacrifício sacramental da redenção, deverá fazer próprias as disposições
do Mestre
e viver, como Ele,
sendo dom para os seus irmãos;

f)   
que
ela seja, em seu ministério, o homem dos “três lugares”
:
do púlpito (de onde ele distribui o pão da palavra), do altar (de onde ele
distribui o pão da Eucaristia) e do confessionário (de onde ele exerce o
ministério do perdão). Portanto, assim sendo, com certeza ele ajudará os fieis
a crescerem nos ensinamentos de Jesus.

Conclusão: iniciei
a minha reflexão citando Nossa Senhora. Com ela eu iniciei e com ela
terminarei. Existe uma relação
essencial entre a mãe de Jesus e o sacerdócio dos ministros
do Filho, derivante daquela que existe entre a maternidade divina
e o sacerdócio de Cristo. Maria, porque é mãe, é também formadora do seu sacerdócio, uma vez
que Ela soube modelar o seu coração
sacerdotal.

Caro irmão no
sacerdócio, Pe. José Anísio, nunca se esqueça de Maria, a Mãe dos sacerdotes. O
nosso pai fundador, Dom Orione, nos ensinou isso: “Tudo com Maria; nada sem
Maria”. Não se pode ter a Deus como Pai se não tiver Maria por Mãe. Consagre a
ela o seu ministério, as suas alegrias e também o seu cansaço, quando ele vier.
Ela, com certeza, saberá te consolar como Mãe e intercessora.

“Ave Maria e
avante!”

Pe. Erli Lopes Cardoso, FDP

Secretário da Província Nossa
Senhora de Fátima

Brasília – DF

 


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