A Mulher Barbada

A MULHER DE BARBA

DEFEITOS E SENTIMENTOS

Outro dia, na Internet, havia algo que nos chamou a atenção: “Discovery: homem descobre que sua mãe biológica é mulher barbada de circo”. Um vídeo contava a história de uma menina que vítima de um problema de nascença, seu rosto crescia barba desde bebê.

Discriminada desde pequena na escola e na vizinhança local pelo problema, o pai da criança a levou para um circo e lá ela aprendeu a dançar, cantar e no final do número, ela tirava o lenço que cobria metade do rosto e todos viam que ela tinha barba, era a mulher barbada do circo.

O tempo passou e ela se transformou numa moça. Os pelos da barba cresciam rapidamente e isso a impedia de cortá-los toda hora. Conheceu um homem que no início não se incomodou que ela tivesse barba e acabaram casando-se. Deste relacionamento tiveram um filho.

O menino cresceu e ainda pequeno, o marido da mulher barbada, começou a ter um comportamento estranho e olhava para a mulher pedindo que tirasse a barba. Obrigava-a fazer barba todo dia e com isso ela, devido o problema, machucava o rosto violentamente.

Um dia, o marido pegou a criança, que passava o dia numa creche, enquanto ela trabalhava no circo e fugiu com o menino. Durante o período em que o filho cresceu, apanhou do pai, sofreu intensamente nas mãos dele.

Certo dia, o pai abandonou o filho e foi-se embora. O rapaz começou a fazer a própria vida, sem esquecer da mãe. Após imensa procura, conseguiu localizá-la. Já homem, queria apenas saber dela, se estava viva e o que havia acontecido.

Um dia recebeu um telefonema da mãe, que ficou sabendo disso através de um site de pessoas desaparecidas. Ficou sabendo a história inteira. Para ele o que importava era encontrar sua mãe e conhecer mais a história da vida dela. Ficou chocado quando soube que ele havia sido raptado pelo próprio pai e por isso a justiça jamais pode procurá-lo, uma vez que o pai tinha o direito de ficar com ele, por ser o tutor legal. Não houve divórcio e a lei americana, através do estado onde ocorreu o rapto, considera que a criança tem o direito de ficar com o pai ou a mãe.

A mãe, nunca desistiu de encontrá-lo e nem o filho de encontrá-la, mas o tempo correu e os anos passam rapidamente.

No final, mãe e filho se encontraram. E o bonito foi o que ele disse ao repórter:

– Foi uma dádiva encontrar minha mãe após tantos anos, mas o fato de eu ser filho de uma mulher barbada faz diferença? Nenhuma, pois o que eu mais queria na vida era encontrar novamente minha mãe, eu a amo do jeito que ela é.

Ficamos pensando na metáfora da mulher barbada e do sofrimento que isso foi causado em todas as pessoas envolvidas. Não é somente a barba. Encontramos na vida os deficientes que sofrem todo tipo de discriminação, os idosos, as crianças que nascem com problemas, os que são obrigados a esconder seus defeitos. A tragicidade tem ainda um paliativo: quando a pessoa tem muito dinheiro. Imagina quando estas pessoas, além da anomalia, ainda é muito pobre.

Recentemente, num voo internacional, quiseram impedir que uma criança de quatro anos embarcasse. Foi considerada pelo comandante do voo como tendo “uma doença contagiosa”, somente porque tinha um problema na pele, desconhecido da maioria das pessoas.

O que importa mesmo são as pessoas que amamos e que nos amam, não importa como somos, mas como nos veem; mas seria bem melhor que todos compreendessem que devemos olhar ao outro como igual a nós. A mulher barbada também tem coração e sentimentos, não são seus pelos faciais que a diferenciam, são os preconceitos que trazemos. Que pena que o mundo não descobriu ainda uma forma de eliminar estas diferenças e deixá-lo ainda mais lindo.

 

Pe. Antônio S. Bogaz (orionita) , doutor em filosofia e teologia

Prof. João H. Hansen, doutor em ciências da religião