Felicidade não tem fim, tristeza sim: as cinzas do carnaval

 

Por padre Antonio Bogaz

 

Carnaval, momentos de distração, alegria, viagens e acidentes, também. Encontramos o síndico do prédio e ele nos comunicou que um dos jovens que morava lá, havia sofrido um acidente fatal, numa das famosas rodovias que ficam superlotadas nestas épocas de feriados prolongados.

Lembramos-nos dele, um estudante já no final de um curso universitário que até o final do ano, seria mais um a fazer o exame final para exercer a profissão. A família com grande sacrifício, acreditamos, alugou o apartamento que ele dividia com mais dois colegas.

Os três decidiram passar o carnaval na praia. Prepararam tudo como queriam e na sexta-feira à noite foram para o litoral norte. Segundo, o que o síndico nos contou, um dos carros que trafegava pela rodovia resolveu fazer uma passagem perigosa, invadindo a outra pista. Um caminhão veio em direção e naqueles precisos segundos, uma tragédia…

Bem, um dos carros foi dos rapazes, dois estão hospitalizados, recuperando-se dos ferimentos ocasionados, o outro, infelizmente, não suportou os ferimentos. Voltou para sua terra para ser sepultado. Repousar entre seus ente-queridos.

 Ficamos pensando, como a felicidade é passageira.  A família toda feliz que o filho iria se formar no final do ano. Quem sabe  quanto bem faria em sua vida no exercício da sua profissão. A vida é dom e serviço para fazer o bem.

 Os dois que ainda estão hospitalizados devem estar chocados, tristes, pois o companheiro de mais de quatro anos de estudos não estará mais com eles. Era sempre interessante ver os três saindo para a faculdade e rindo no elevador, brincando, falando dos professores, das disciplinas… agora acabou tudo para um, para os que ficam, a tristeza que jamais terá fim.

A felicidade é mesmo passageira, dura o que deve durar, mas é tão pouco diante da morte. Ficamos pensando em quantas pessoas e famílias que passam por isto, que muitos motoristas utilizam bebidas, drogas e vão para o volante colocando a própria vida em perigo. Pior ainda é colocar em perigo  a vida dos outros, que sonham, que são felizes, que amam.

Arrancar a vida de um jovem é arrancar o próprio coração, mas estes loucos do volante não estão nem aí para pensar nisso. A tragédia anunciada, sempre que existe feriado, parece que nunca irá acabar. Acidentes sempre com vítimas fatais acaba acontecendo, motivado pela euforia, pelas drogas, e aqui se entenda todas, pela ansiedade de chegar ou voltar. O fato é que todos os feriados registram estes terríveis acontecimentos.

Não podemos parar o mundo e deixar de sairmos nos feriados. Este ano foi colocado inclusive nas redes de televisão, um clip de alguns segundos de um acidente que mata uma pessoa e outras ficam feridas. Mas, será que somente isso funciona? Achamos que é necessário muito mais para diminuir, já que acabar é quase impossível, infelizmente.

Sempre que viajamos,  rezamos para que Deus nos proteja nestas estradas, seja feriado ou dia comum, pois acreditamos que com nossa oração, tenhamos um pouco mais de atenção dos anjos que nos cuidam e que cuidam dos outros, porque o motivo é o outro se está sóbrio ou não no volante.

Lembramos-nos da música do antigo filme Orfeu do Carnaval, desta letra que nos conduz a verdadeira essência deste período de Momo, tristeza, realmente não tem fim, felicidade sim, pois no final tudo acaba na quarta-feira e depois volta ao normal, mas antes deixou um lastro de dor e sangue. Vamos ser felizes mais tempo? Vamos lutar para a conscientização dos motoristas nas estradas? Assim a tristeza vai demorar a chegar. Carnaval é alegria, cinzas são tristezas. Vivamos a alegria do carnaval sem que se transforme mais cinzento o mundo. Corrigimos; cinzas não são tristeza; cinzas são conversão e renovação do espírito.