Abraços saudosos – alegre volta às aulas

 

Por Padre Antonio Bogaz

 

Começamos um ano especial. Jubileu de Ouro da Paróquia Nossa Senhora da Saúde. A capelinha é muito mais antiga, mas a Paróquia nasceu em 1964. O Zé Maria fez um logo belíssimo. Vamos retratar um dia dessa comunidade. O primeiro dia de aula do Curso de Teologia, que já tem 4 anos.  Amanhecia, como todos os dias. Um olhar de soslaio pelas frestas possíveis da janela, onde se anuncia alegremente o amanhecer. Nada de excepcional. Apenas se tentava coletar as primeiras impressões advindas do mundo exterior, onde vamos naufragar mais um longo dia: trabalho, encontros, correrias, lazer e divagações. Não fazia chuva e nem sol; o dia despertava preguiçoso, podemos dizer, que era um dia indeciso. Nestes dias, a gente nem sabe que roupas vestir. Não chovia, isso é certo; nem tem chovido muito ultimamente. O dia esperava apenas nosso grito de “vamos à luta”.

Tinha sim, algo excepcional. Hoje recomeçam as aulas de teologia. Era hoje o primeiro dia de aulas. No coração – como se fossemos pequenos estudantes – misturavam-se os sentimentos de ansiedade, de alegria, de expectativa e de esperança. Nas de anormal, apenas um ano a mais na trilha dos anos, que em nosso caso, se repete há décadas. Não contamos mais o tempo pelos anos e muito menos pelas estações. Contamos o tempo pelas décadas. E esperamos sempre algo novo. Meio novo; a Joyce, o Junior e a Mayara continuavam preparando o lanche dos alunos.

–  Como você está tão diferente, Célia, toda rejuvenescida.

Nos entreolhamos, que interessante mesmo, sempre os mesmos comentários gentis, que fazem tão bem.

– Bondade sua, pura bondade – disse a Célia do Roberto; toda gentil, sempre gentil.

– Apaga as luzes, Marcos da Taniara. Vamos iniciar a oração. Lá vai a Sandra rezando com sua Bíblia toda arrebentada, como se tivesse sido salva de uma enchente. A Bíblia, não a  Sandra, que andou também saltando em muletas.

– Bíblia boa é bíblia aos pedaços, bem usada, muito folheada – disse a Edith do Deolindo.

– O Padre Brás vem para dar aulas? – perguntou inocentemente alguém. Ninguém respondeu, só uma brisa de nostalgia nos invadiu o coração  de todos nós.

As pessoas ainda se cumprimentavam discretamente; casa um no seu lugar costumeiro, como se as cadeiras tivessem nomes inscritos.

– Senti saudades, não te vi nestas semanas todas.

– Claro, disse o Tadeu para a Lucília do Zé Maria. Você em Pira e eu em Tatuir – disse gracejando o “r” em solene caipirês.

– Eu nem fui a Descalvado, disse a Cida do Silvio. Acho que vou ser deserdada.

– Bem, disse o Sílvio, a culpa é do padre. Acredita que inventou mais um filme.

– Mais um filme? – disse a Lúcia da Dona Catarina. Nem me convidaram?

– Convidamos sim, entreveio a Nanci, você estava…

– Pois claro, a mamãe Catarina é minha prioridade. E meu netinho, o Lucas da Eliete… – nem precisou completar.

– Vamos rezar, rezar para iniciar. O clip-vídeo já está pronto.

– Silenciamos, finalmente. Cantamos e iniciamos o encontro: os anais da Paróquia Saúde que celebra seu Jubileu de Ouro. A Maria Helena do Lourival nos carregou no tempo. Sentimo-nos meninos diante daqueles monstros sagrado dos primeiros tempos. Que gente heroica. Os testemunhos da Dona Suda, Maria Auxiliadora Saúde Favaro Lar – que nome longo, meu Deus –   nos elevou ao sétimo céu da Paróquia. Tivemos inveja daquela gente que hoje são estrelas no nosso firmamento. Nós olhamos para elas seguindo nossos passos. São nossas bússolas espirituais para chegar ao Paraíso; tão longe, tão perto. Nossos antepassados nos iluminam e nos inspiram.

Esse era o reencontro da nossa volta às aulas. O reencontro é importante. Afinal o reencontro é a reedição dos bons encontros.

                                                  

Claro, pensamos que é muito importante descobrir que sentimentos nossa ausência provoca em nossos amigos. O reencontro nos testemunha que emoções nossos companheiros de estrada provaram em nossa ausência.  Que importância tivemos na lembrança das pessoas quando estávamos de férias, longe delas? Que recordações despertamos em nossos colegas, quando nos distanciamos delas?

A emoção que sentimos quando recordamos de uma pessoa é a síntese das emoções que fabricamos  quando nos encontramos. Nas férias (pequenas ausências)  nossos sentimentos em “stand by” (traduza-se por “banho maria”), do que vivemos e viveremos.

Caro amigo, vamos cuidar dos bons sentimentos. Fabrique amigos na convivência e teremos sempre a alegria nos abraços dos reencontros. Sim, simplesmente porque nas lembranças vivas da ausência ocorre uma agradável reminiscência dos momentos vividos quando estamos juntos. Que sejam reminiscências agradáveis.