SOL E CHUVA NO HORTO
A CONFRATERNIZAÇÃO DOS JOVENS
De repente, não mais que de repente, como dizia Vinicius de Moraes, o dia clareou, o sol saiu e a temperatura subiu assustadoramente. O sol parecia convidar para um passeio com direito a protetor solar, bronzeador e outros itens. Simplesmente, anunciado na televisão como o dia mais quente do inverno. Seria assim desde o início da manhã, repetindo a alta temperatura do dia anterior.
Foi então que um dos coordenadores dos jovens, que organizou o Encontro Épheta, anunciou contente.
– Estamos indo para o horto para aproveitar este lindo dia.
– Sim, com este dia tão bonito, eu também vou.
– Ei, vocês também, vocês não querem ir com a gente?
– Todo o grupo vai, assim podemos celebrar o sucesso do encontro.
No outro telefone outro jovem fazia-nos o mesmo convite. Nos animamos e falamos para eles:
– Daqui meia hora no horto, porque temos uma reunião mais tarde.
Tudo combinado, pegamos uns refrigerantes para levar para os jovens e lá fomos. Depois que todos chegaram, arrumamos um lugar na sombra de uma árvore. Todos se sentaram no chão, num círculo. A festa estava pronta. Alegria e emoção geral. Violão, bateria, quitutes, e muito entusiasmo. O sol brilhava e todos se escondiam nas sombras das árvores.
Qual nada. Não controlamos nem nossas palavras direito, como vamos controlar o tempo. E em menos tempo do que supúnhamos, a temperatura começou a mudar. De longe batia um vento fortíssimo. Apareceu do nada. Parecia coisa de desenho animado. O vento levava nossas toalhas, derrubava os copos e festejava o alvoroço dos cabelos.
Alguém falou com muita felicidade na voz:
– Legal, legal, vai chover, vai chover… (- mas quase bateram nele – risos)
Parecia uma tempestade de areia, destas de filme passado no deserto. Após a ventania começou um chuvisco indeciso. Daqueles que não é chuva, mas também não é garoa. Em resumo o tempo mudou tão rápido que virou noite ainda de dia. A temperatura caiu muito e virou frio. Escutamos de outro jovem:
– Que pena que não é chuva, chuva mesmo, seria tão bem vinda.
Acabou a nossa confraternização. Dispersamos, alguns corajosos até queriam continuar ali, mas o chuvisco e o frio junto falavam que o rapidíssimo verão tinha acabado; pelo menos naquele dia, e não voltaria, pelo menos até o dia seguinte.
Cada um pegou seu carro, sua bike, sua moto, sua carona e foram embora e nós também, é claro. Na volta com mais três caronistas, falamos sobre o tempo:
– Mas que tempo estranho – disse um deles – estava tão bonito e agora ficou assim, feio e frio.
O outro completou, dando risada:
– Passei até protetor solar, não é engraçado? O tempo faz a gente de palhaço.
– Bem…
Na realidade estamos no inverno, acontece muito isso. Foi um aviso divino, uma forma de entendermos que nem tudo o que programamos tem que ser do nosso jeito. A gente escreve, Deus lê. E tem tolo que acredita que Deus obedece seus gritos.
– É como a minha irmã – disse um dos rapazes – fez planos para casar com o namorado dela, já estava tudo certinho, quando ela passou na faculdade, terminou com o namorado, porque preferiu fazer a faculdade. Adiou e nunca mais se casaram. Vivemos da casualidade.
-E ele, o namorado?
– Não sei – respondeu – deve ter ficado chateado. Meses depois, arrumou um emprego num navio de turismo e também foi embora.
Ficamos imaginando: nos programamos na vida para tantas coisas, mas de repente vem um vento e leva tudo, nossos planos, nossos sonhos, até uma simples reunião.
Temos que entender que planejar é bom, nos leva a pensar no futuro, mas temos que ser coerentes com tudo o que pode nos tirar dos nossos caminhos. Afinal, a nossa história é um roteiro que tentamos escrever, mas o "diretor geral" pode mudar suas linhas. Sim, a vida é assim, temos que racionalizar. Como se diz, o que está acima das nuvens não podemos intervir, temos que aceitar, principalmente o tempo. Afinal queremos chuva, muita chuva, estamos numa seca como nunca tivemos e a chuva não está vindo e sabemos o bem que ela representa. Precisamos da água caindo do céu, mas não podemos jogar com o tempo. Coisas da vida. Como dizia a velha canção: “O que será, será…”
Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e
Teologia Sistemática – Cristologia
Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e
Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia