O BARBEIRO, O MENINO E A MÃE – CONFLITO DE GERAÇÕES

O BARBEIRO, O MENINO E A MÃE

CONFLITO DE GERAÇÕES

Vimos nesta semana, uma cena de uma comédia cinematográfica italiana das mais divertidas.

Estávamos no barbeiro quando chegou uma jovem senhora empurrando o filho para dentro do salão. Olhou para o barbeiro que estava cortando o cabelo de um cliente e disse, esbaforida:

– Foi o senhor que cortou o cabelo do meu filho? – disse isso de maneira quase brutal.

Olhamos imediatamente para a cabeça do garoto de uns dez ou onze anos e vimos o novo topete imitando um jogador. Não podemos ser preconceituosos, mas parecia uma vassourinha de piaçaba, bem desenhado na cabeleira do moleque.

“Foi sim – disse o barbeiro – eu até falei para ele que não era melhor cortar tipo aquele outro jogador”. A mulher nem percebeu que o barbeiro estava ironizando.

– Qual, disse ela, pronta para novas respostas.

– Aquele, tipo Cascão também.

A mulher ia avançando uma resposta, mas não teve tempo. O barbeiro completou:

– O menino veio com a foto do jornal, mostrou e disse que a senhora deixou que ele cortasse como ele queria.

– Ele mentiu para mim, então? Meu menino nunca mente.

O barbeiro certamente pensou "está começando a mentir, já está achando sua profissão", mas apenas disse: 

Eu acreditei nele e cortei. Ainda falou que a senhora vinha pagar depois.

Menino – disse a mãe – vou mostrar para o seu pai e se ele quiser ele volta aqui e manda cortar careca, mentiu para mim, para o barbeiro, mentiu para todo o mundo.

Olhou novamente para todos nós que estávamos lá e se desculpou:

– Desculpe, este menino me deixa nervosa, agora mente dessa maneira, depois meu marido passa aqui e paga. – e esquecendo que não pode dar nenhum “tapinha” no “menino”, deu-lhe um senhor beliscão.

O filho não suportou e desarrochou:

– "Ai, mãe, você é culpada, você não me deixa nem ter o cabelo como eu quero".

E antes que falasse mais alguma coisa, a mãe do jeito que entrou com o moleque, saiu com ele, puxando-o com irritação. Nesta hora não houve no salão quem não desse um sorriso da situação. O barbeiro falou para nós todos:

– Acho que vou cortar cabelo dos meninos somente acompanhado dos pais ou trazendo autorização. Ela sempre vem com ele; hoje ele chegou e fez a festa. Cortou como ele queria e trouxe a foto para fazer igualzinho.

Quando saímos de lá ficamos pensando na história do menino e da mãe. O menino se aborrece, pois insiste o cabelo é dele. Então, inventa uma mentira e chega em casa com uma vassourinha na testa.  Confuso, não é? Os pais tem que ter autoridade com os filhos, mas um garoto desta idade que vê todos os seus amiguinhos de escola com o estilo do último jogador, artista ou qualquer mito juvenil, mesmo que isso não combina nada com ele, acaba querendo entrar na moda.

No entanto, o menino mentiu para a mãe, para o barbeiro e isso não está certo, o que será que há com esta família que um simples corte de cabelo acaba virando um drama na família?

Devemos, primeiramente, entender que as novas gerações estão cada vez mais perto dos seus ídolos devido a Internet, a TV e toda a mídia.  As crianças acabam querendo parecer com seus ídolos e com isso temos os "clonerzinhos" da vida. Claro, entra o conflito de geração e o excesso de proteção, vira um caos. Devemos dar liberdade aos filhos e ir mostrando que certas atitudes não revelam moda, antes revela falta de personalidade. Quando as imitações são inocentes, não tem riscos maiores; mas podem ter seguimento em imitações de grandes demolidores da juventude e da sociedade.

Bem, como será que o pai reagiu quando viu o seu filhote? Não sabemos; mas se for coerente, vai recordar que é apenas uma fase da vida e que ele também espantou seus pais com seus cinturões apertados. Mas vai mostrar que é preciso ter personalidade e não ficar imitando ídolos de papel e ídolos virtuais.  

 

 

Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e

Teologia Sistemática – Cristologia

Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e

Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia