ROUBO E HUMILHAÇÃO
CATANDO PAPELÃO E CATANDO ROLLS-ROYCE
Estavamos com o Celso e a Cleuza indo para uma reunião, quando vimos uma carroça bem pequena, bem velhinha, carregada até o alto de papelão, colhidos pelas calçadas, lixos e outros lugares. A carroça parou alguns instantes em nossa frente. Vimos uma mulher colocar seu cata-papelão no acostamento, pegar mais alguns caixotes, que estavam praticamente separados na frente de uma loja. Ela ainda arrumou um lugarzinho para eles no seu "veículo". O Celso não aguentou a cena e disse:
– Isso me deixa irritado. Já vimos várias vezes esta mulher fazer isso, catando papelão para sobreviver
E a Cleuza completou: – E continuará fazendo sabe-se lá por quantos anos ainda… e depois o que será dela. Deve ter filhos.
O Celso engatou novo comentário: – Sempre a vejo neste horário, começa sua coleta de papelão até enchê-lo e depois o leva para onde compram e pega seu dinheirinho para alimentar sua família.
Disse a Cleuza: – Isso não deve render quase nada, um trabalho de toda noite, deixa os filhos sozinhos e o que deve restar? Talvez um pouco para comer depois de fazer as contas.
– Que mundo cão !
Demos as nossas opiniões, ficamos com pena da mulher. Devia ser meio idosa. Devia estar descansando em sua casa e está catando papelão para levar para casa um pouco de pão. Ficamos sempre pensando como é possível acontecer isso no nosso país, tão rico e tão aviltante.
Imediatamente veio à nossa mente que um homem político (precisa dizer o nome? – talvez sim, são tantos!) recentemente visitado pela Polícia Federal. Apreendeu-se em sua famosa residência carros importados, sendo alguns raridades absolutas com custo de milhões de reais. Milhões para um carro? Sim. No Estadão, lemos que naquela casa da desonestidade encontram-se entre outros carros, com valores que nem mesmo seus altos salários poderiam adquirir. E ainda uma dívida fenomenal. Todos carros têm o maior conforto do mundo, com todas as parafernálias, que revelam que seus dons são marajás do petróleo ou do mundo da política. Estranho mundo.
A conversa acabou quando entramos para nosso encontro. Todas as pessoas mostraram seu descontentamento com o governo atual, com esta enxurrada de pessoas roubando descaradamente, ou por suborno da lei ou por leis que revelam o suborno da consciência. Embora seja difícil saber, acreditamos que nunca na vida deste país os famosos colarinhos brancos roubaram, assaltaram, ganharam propinas como nos últimos anos. Pelos valores é o maior rombo da história do país, revolta todos.
Ficamos com pena dos políticos honestos. Estão todos estigmatizados. O Carlinhos da Rose, com base na frase do evangelho "dificilmente um rico entrará no reino dos céus", disse:
– Estou cansado de ver tanta roubalheira, minha gente, a ambição é desmedida, ninguém precisa de tanto para viver.
No imediato, o Benê da Val completou: "Estamos vivenciando o maior estouro dos cofres públicos, parecia filme de quadrilhas.
O Sidnei da Sebastiana, tão silencioso, saiu do seu mutismo: "E o pior é que ninguém vai preso como se deve, o cara entra e sai da cadeia, nada acontece".
Foi a vez da Karina do Rodrigo, bem mais exaltada:
– Como disse Jesus: "É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha. Se enriqueceu com roubos…"
Estamos impressionados. A vaidade de alguns está fazendo do país um caos e revelando ao mundo o país da corrupção. Uma vergonha internacional! De um lado, pobres pessoas catando papelão para sobreviver, de outro lado, uma minoria brincando com os bens públicos, inventando meios de surrupiar os impostos, inaugurando fundações para oficializar o assalto aos cofres públicos. Isso é demais, estamos no momento diante do maior número de pessoas ativas no país e tanta gente não tem emprego. Enquanto isso, os partidos políticos parecem poleiros, onde vereadores e candidatos a prefeitos saltam em busca de conveniências para não deixar o osso do poder. Os governantes perderam a honra; serão lembrados como demolidores da justiça e do direito. Em pouco tempo seremos um país velho e empobrecido, com tantos jovens sem esperança e tantos gananciosos sem honra.
É uma tristeza profunda! Uns catam papelão para sobreviver, outros catam Rolls-Royce para humilhar os honestos. E no final, queremos expulsar das ruas os catadores, porque conturbam o trânsito e deixamos desfilar os catadores de carrões, que congestionam as estradas do Brasil.
Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e
Teologia Sistemática – Cristologia
Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e
Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia