DA GELADEIRA AO DIVÓRCIO

BRIGANDO POR (QUASE) NADA

foto cronica 19 11)

Encontramos, recentemente, Maria Joana, uma amiga que não víamos há alguns anos e por incrível coincidência, encontramos dois dias depois, José Carlos. Com Maria a conversa em determinado momento foi a seguinte:

– Eu fui comprar uma geladeira, pois tínhamos reformado a cozinha e o José ficou de me dar de presente uma novinha. A antiga era muito pequena e nós a tínhamos desde o casamento há 15 anos.

Ouvimos a primeira parte e depois ela continuou:

– Eu escolhi uma geladeira grande, com freezer em cima, da marca que eu queria. Gostei da cor, era vermelha metálica, última novidade. O José disse que geladeira tinha que ser amarela. Onde se viu comprar uma geladeira desta cor?

Ouvimos a última parte da história:

– Começamos a brigar na loja e vocês não vão acreditar. Despejamos um no outro todas as nossas mágoas de quinze anos de casamento, tudo por causa de uma geladeira. O José saiu de casa naquele dia.

Ficamos com pena de Maria, parecia que o casal era tão feliz e de repente, por causa de uma geladeira, nem a geladeira, a cor da mesma, o casal entra num atrito fulminante. Lembramos-nos de um filme americano, uma comédia dramática em que o casal começa a brigar por causa de um pacote de limão que o marido comprou errado e vira uma guerra entre os dois, que ainda eram obrigados a morar juntos até venderem a casa. Parecia filme o que Maria contou.

Encontramos José Carlos, casualmente, dois dias depois. Nada dissemos sobre termos encontrado Maria. Quando perguntou se nós sabíamos que eles tinham se separado, dissemos:

– Sim, ouvimos falar.

Ele então contou a história, bem parecida com a história de Maria. Apenas acrescentando seus detalhes:

– Vocês não acreditam, eu falei que daria uma geladeira nova para ela. Ela escolheu uma cor horrível. Eu falei que o presente era meu e então eu queria dar uma geladeira amarela para combinar com a cozinha. Começamos a discutir – que feio – no meio da loja.  Daí ela  me jogou tanta coisa na cara, e eu acabei revidando uma por uma. No fim, somente faltou batermos um no outro. Não houve como resolver, eu saí magoado e ela também saiu.

– Vocês costumavam conversar sobre os problemas dos dois? – perguntamos.

– Não, tinha que ser como ela queria e eu ficava quieto. Neste dia, eu explodi porque foi a primeira vez que eu pedi para a geladeira ser comprada de cor amarela e ela disse não.

Perguntamos se tinha como reaproximar os dois e tanto um como o outro nos responderam que não.

Tiramos nossas conclusões que o casal nunca conversou sobre suas diferenças. De repente, o pingo d’água virou um balde cheio. Temos que aprender que na vida nem tudo é como queremos. Em dois, em igualdade de poder, é ainda mais difícil, mas devemos encontrar um caminho sempre. Quando nos defrontarmos com uma geladeira de cor amarela ou vermelha, escolhemos uma das cores ou achamos uma terceira cor, se parecer competição. Sutilezas.

É necessário dialogar. De vez em quando, em família, com amigos, o casal precisa ter seu tempo, sair, passear, ir à festa e não fazer do casamento uma prisão junto com os filhos. Entrar numa loja sorridente e pensar que vão comprar algo bom, que a felicidade de um é a felicidade dos dois. A chave é simples: querer agradar o outro. Fazer disso um jogo é muito saudável.

José Carlos e Maria Joana tem uma única filha. Sem dúvida alguma deve ter sentido muito a separação dos pais. Sem querer ser engraçado (mas sendo irônico), quando perguntam à menina porque os pais se separaram, ela responde:

– Foi por causa da cor da geladeira.

Não podemos fazer da nossa vida um caos por algo tão banal. Declaramos guerra por pouco, tornamos uma questão de honra e de disputa de poder, de autoafirmação. E perdemos bens preciosos, como amigos, filhos, colegas de trabalho.  O importante é sempre encontrar uma solução, por meio do diálogo racional, não passional e evitar torcidas que transformam, a situação numa guerra. Vemos pessoas tolas se matando por futebol, religião e politica e achamos loucura, pois os chefes destas confederações trocam de time, de partido e de religião e sorrateiramente criam a fidelização para envolver os tolos. O que importa é fazer o outro feliz. Não importa a cor, importa o amor. Um pensamento árabe diz: “Deixe seu parceiro feliz e ele sempre lhe trará a água mais fresquinha do poço”.

 

Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e

Teologia Sistemática – Cristologia

Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e

Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia