O NINHO DOS PASSARINHOS

A SURPRESA DOS MENINOS

 

 

As crianças perceberam que os passarinhos estavam inquietos. Depois viram, alegremente, que eles estavam fazendo um ninho na árvore do jardim, perto de sua casa.

Chegavam correndo da escola e iam ver seu tesouro. Os passarinhos fizeram o ninho e depois apareceram, para alegria da garotada, dois ovinhos. Era um silêncio só. Uma professora do prédio explicou que eles estavam assistindo o nascimento de dois passarinhos:

Puxa que legal – disse o Gabriel.

Onde estão os passarinhos?

E levantamos o Pedro para ver os ovinhos.

Só tem ovinhos, dois – disse o Pedro – Cadê os passarinhos?

Calma – explicou Jac, a mãe do Pedro e do Gabriel.

Os meninos a cada dia visitavam o ninho e se enamoraram dos ovinhos. Observavam os ovinhos com alegria e com emoção. Queriam tocar os ovinhos, mas o pai, Humberto Henrique,  lhes dizia:

Não podem tocar os ovinhos, pois pode ser que a mãe deles pode abandoná-los.

Os meninos ficavam muito entusiasmados com os ovinhos e os dias foram passando. Parece que cada um deles era o "dono" de um ovinho e tentavam distinguir os dois ovinhos.

O ovinho da esquerda é meu, aquele mais rajadinho – disse o Pedrinho.

Está bem, o mais azulado é meu; é mais bonito – emendou o Gabriel.

A mãe lhes dava um monte de explicações e o pai lhes explicava sobre o cuidado com os pássaros.

Um dia, os meninos chegaram da escola e ficaram surpresos e tomados de  tristeza.

Mamãe. Papai. Os ovinhos sumiram, sumiram. Ficaram apenas as cascas. Tem apenas cascas.

A mãe mostrou o ninho que ainda tinha a casca dos ovos e explicou que eles estavam ali, ouvia os passarinhos cantar, mas não os viam mais. Não existiam mais os ovinhos, apenas as cascas; em compensação, a árvore do quintal se vestia de cores e de cantos. Não conseguiam ver os passarinhos, mas ouviam seus cantos sonoros.

 

Foram ao cemitério no Dia de Finados. Era a primeira vez que as crianças entravam num cemitério, tão diferente do seu jardim.

É como um jardim este cemitério – disse o Gabriel que já visitara outros cemitérios.

Jardim estranho – disse o Pedro – não tem brinquedos?

Não é um jardim, é um cemitério – explicou Humberto Henrique, o pai.

Onde enterram as pessoas? – perguntou o Pedro, que ainda não havia compreendido muito bem a morte do avô materno.

Sim, onde as pessoas que morrem são enterradas neste belo local.

– Mas, elas não vão para o céu?

A mãe resolveu explicar, já conhecendo bem o filho perguntador:

Não, as pessoas ficam aqui, sepultadas, como as cascas dos ovinhos.

– Quem vai para o céu é a alma, o espírito das pessoas – explicou Jac, a mãe.

Não estou entendendo muito bem.

– Você se lembra do passarinho e  do ninho?

– É a mesma coisa. Como os passarinhos, a gente nasce. Os ovos são como nosso corpo. Na morte, nós o deixamos e a alma voa para Deus.  Os seres humanos têm sua vida, crescem, casam, tem filhos, tem netos. Um dia morremos, mas ficam as  lembranças. Como um porta-retratos. É nossa história. O importante é a alma que vai voa para o paraíso. Nosso corpo e nossas lembranças permanecem para sempre.

E o que nós viemos fazer aqui no cemitério? perguntou o Gabriel

– Renovar nossas lembranças para sempre, respondeu a Jac.

–  E no mundo, se temos que partir?

– No mundo – disse o pai – viemos preparar a viagem para o paraíso.

 

Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e

Teologia Sistemática – Cristologia

Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e

Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia