A GENIALIDADE DA PEQUENA KIRA

A antiga expressão “criança tem cada uma” torna-se sempre verdadeira, quando nos encontramos diante de suas perguntas e respostas e no cenário se encontram crianças livres e contentes. Quem vai à celebração das missas pode notar que nem todas as crianças vão até o altar, mas tem algumas que adoram ficar próxima do envolvente. Basta testemunhar a alegria da Clarinha na missa e de tantas crianças que alegram as celebrações e fazem a festa da comunidade.
Outro dia tivemos a oportunidade de ver a Kira Costa, filha da Fabiana Costa e do Cleo – Theo Sabino, fazendo perguntas, que a gente nem sabe como responder.
– Vocês vão todos os domingos para São Paulo?
Ficamos sem saber o que responder. De fato, nunca sabemos onde a criança quer chegar. Ficamos atentos.
– Sim, vamos a São Paulo todas as semanas.
– Você vai fazer o que lá? – perguntou a pequena Kira.
– Vamos para a escola, para estudar, para aprender sempre mais.
– Como? Disse com jeitinho de admiração. Para a escola?
Respondemos, para sentir a lógica da menininha.
– Sim, vamos para a escola. Queremos aprender, sempre mais e mais.
– Vamos para a escola, como você, Kira.
Ela simplesmente olhou para ele e disse o seguinte:
– Gente grande vai para a escola? Gente grande?
– Claro, todo mundo tem que aprender.
E a menina disparou, sem censura nenhuma e achamos engraçado.
– Deve ser escola para gente velha, não é?
As pessoas que acompanhavam a conversa nos olharam com certa ironia e ninguém segurou uma sonora gargalhada.
De fato, nos últimos tempos, multiplicaram as escolas e faculdades para pessoas de idade mais avançada. E é uma maravilha ver pessoas grisalhas encontrando tempo para aprender. Se em outros tempos, não conhecer as letras era ser analfabeto e ter pontos escuros nos olhos para o mundo, hoje o desconhecimento dos meios virtuais é uma cegueira muito pior.
Aprender é mais que uma atitude, é uma renovação do espírito, uma abertura para o novo, para o intransponível.
A pequena Kira se admirou pois existe ainda uma mentalidade que aprender faz parte da infância e da juventude. No entanto, nos últimos tempos esta lógica tem mudado radicalmente. Aprender é uma ação do espírito humano, pois quem se senta num banco escolar abre-se para acolher novidades e pode renovar sua inserção no mundo.
Aprender é uma força espiritual que pode refazer nossas perspectivas e nossos projetos existenciais. Quando nos colocamos na posição de aprendizes, abrimo-nos à renovação de nosso espírito.
– Ainda posso aprender, não estou acabado em minha vida e tenho muitos anos pela frente.
– Aprender significa desejo de recomeçar e interesse em atuar no meio social e familiar.
Assim mesmo, coisa bonita é ver idosos alegres querendo aprender, tanto na informática, quando novas línguas ou novas artes.
Não sabemos quanto tempo temos de vida; ninguém sabe, nem mesmo os pequeninos e, por isso, devemos preparar para escrever novos capítulos da própria história. Todos somos aprendizes e a capacidade de aprender é uma das maiores forças para rejuvenescer o ser humano. Somos todos convidados a sentar nos bancos escolares, sejam bancos escolares, sejam canais virtuais. O importante é querer conhecer, pois nunca sabemos tanto que não podemos ainda aprender.
Ficou para trás e para longe os tempos em que escola é coisa para criança; escola é para gente que quer crescer intelectualmente e integrar nossos conhecimentos. Qualquer pessoa que não se excluir do universo, precisa se integrar no processo evolutivo da comunidade. Aprender, participar de projetos comunitários e servir como voluntário é semente de rejuvenescimento.
Como diz Guimarães Rosa no seu “Grande sertão, veredas”: maravilhoso no ser humano é que ele nunca está terminado, é um ser inacabado, sempre por terminar. É sempre tempo de aprender.
Não existe escola para velhos, existem velhos que acham que a vida está acabando. Aprender é dizer: a vida está pela frente e o melhor está por vir.
Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e
Teologia Sistemática – Cristologia
Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e
Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia