GOVERNANTES SEM ALMA PEQUENA
Estávamos numa exposição da Casa da Cultura. Dois idosos, depois de terem visitado as obras, sentaram-se para conversar e repousar um pouco as pernas. Descansaram as pernas, mas as conversas seguiram animadas. Animadíssimas e até mesmo com certa emoção, certa exaltação mesmo. Como falavam um pouco mais alto, entusiasmados pelo assunto, acabamos escutando a conversa e envolvidos pelo aspecto interessante da abordagem política entre eles.
– Em quem você vai votar, afinal?
– Não sei, o pior é que não sei…
– Como não sabe? Vai ter que escolher um candidato.
– Mas nenhum presta, um pior do que o outro. São todos tão parecidos. Tantas promessas e tantas conversas. As mesmas de sempre.
– O fato é que desde garoto eu escuto que o Brasil vai melhorar. Eu fiquei anos acreditando nisso, depois destes últimos tempos de verdadeira descrença dos políticos neste país.
Alguém sentou-se e interferiu. O sentimento era o mesmo:
– Eles chegaram ao fundo do poço com tantas roubalheiras, propinas, safadezas políticas… Mais que a corrupção explícita, somam-se a corrupção moral. Altos salários, comissionados, assessores que depois se tornam cabos eleitorais.
– Concordo com você, mas acho que foi porque fizeram coalização com um monte de partidos, isso acaba não dando certo. Daí eles tem que ficar fatiando ministérios. Tem que criar secretarias para alocar partidos de apoios. Sem competência e sem boas intenções.
– Concordo agora com você, está certo, acho que não tem que ter tanta coalização ou nunca mais vai endireitar. Mas a pergunta ainda é a mesma, se todos são tão ruins, em quem votar?
– Olha, eu não sei em quem votar ainda, mas precisamos mudar. Dizia minha santa mãe que vassoura nova varre bem. Em outras palavras, é preciso renovar.
– E como é que eu vou saber?
– Não vai, o pior é isso. Não vai, vai ter que escolher um bom, que você acredita.
– Está difícil, mas vivemos de esperança. Vamos seguir esperando com paciência e coragem..
Quando vimos, todos estavam prestando atenção nos idosos. Descrentes da política. Nas últimas décadas foram obrigados a participar das eleições e colocar no trono falsos reis, ministros, presidentes, governadores, prefeitos, deputados e vereadores.
Os idosos tinham razão em alguns itens e devemos pensar melhor em quem votar nas próximas eleições para não acontecer mais o que vem acontecendo nos últimos anos, pois em breve estaremos discutindo como tantos idosos. Esperamos que não, mas talvez nunca chegarão a nenhum consenso.
O Papa Francisco nos diz que devemos implicar-nos na política, porque a política é uma das formas mais elevadas da caridade, visto que procura o bem comum. Se ajudarmos os irmãos estaremos fazendo caridade e ela vem das mãos dos políticos que escolhermos e que servem o povo. Como dizem os dois idosos, precisamos de renovação.
Como os idosos, esperamos que as urnas suscitem verdadeiros governantes que busquem o bem comum. Esperamos que descubramos prefeitos e vereadores de “alma grande”. O povo não suporta mais governantes de “almas pequenas” que tomam os poderes, superlotam de assessores amigos e comparsas, de secretarias inventadas para alocar partidos parceiros. Ficarão sempre tapando buracos e enviando para meios de comunicação social coniventes e assim o marasmo não tem fim. Somente governantes de “alma nobre e grande” serão capazes de pensar em obras grandiosas, como escolas, hospitais, segurança. Decepcionados caminhamos na esperança. As urnas haverão de ser generosas e esperamos que não traiam nossas esperanças. O bem comum da família é na realidade o bem comum dos cristãos, pois somos uma só família.
Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e
Teologia Sistemática – Cristologia
Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e
Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia